O Exército que temos e o Exército que precisamos
Circula no meio militar o seguinte documento com propostas de readequação nas Forças Armadas do Brasil :
O EXÉRCITO QUE TEMOS E O EXÉRCITO QUE PRECISAMOS
COMO DEVERIA SER ORGANIZADO?
COMO DEVERIA SER EQUIPADO?
COMO DEVERIA COMBATER?
A História está cheia de exemplos de derrotas de bons exércitos que pararam no tempo. Durante uma guerra, os exércitos evoluem se ainda tiverem oportunidade, mas a deusa da vitória só sorri para quem, se antecipando, soube quando, por que e como mudar.
Querendo preparar o nosso Exército para vencer nas guerras que podem acontecer, devemos primeiro identificar quais as ameaças à nação que possam justificar uma guerra, em que tipo de guerra teríamos que lutar e, finalmente como poderíamos vencer tal guerra.
Exércitos servem para garantir, pela força, os objetivos nacionais. Isto só funciona se for forte suficiente e adequado ao tipo de luta que se pode prever.
Ainda que os Objetivos Nacionais devam ser definidos pelos governos, todos conhecem alguns deles que necessariamente devem ser garantidos pela força: a Independência; a Integridade Territorial, a Autonomia em face de pressões militares e a Ordem Interna. Consideramos que não existe ameaça à Independência. A independência é um fato consolidado e irreversível. Entretanto quanto aos outros objetivos...
Até a década de 60, a Amazônia não era motivo de preocupação.
Era tida como Região Amortecedora — na nossa Geopolítica e na de alguns "brasilianists" norte-americanos. A partir de então, os oficiais em serviço na área iniciaram a detectar sinais de perigo.
Mesmo para os desavisados a Amazônia passou a ser algo mais do que uma região ocupada por uma densa floresta tropical em 1986, quando milhares de cidadãos europeus assinaram documento que foi submetido ao Congresso Constituinte no Brasil com a intenção de que fosse incorporado ao texto da Carta Magna que estava sendo elaborada, dando às tribos indígenas o status de Nação. Na década de 90 as pressões internacionais atingiriam um grau alarmante.
No ocaso da Guerra Fria, já estava evidente que a ameaça estava ao norte, e não partia de nossos vizinhos, mas de povos mais evoluídos contando com forças muito superiores. Para esta última hipótese, estudos do Estado Maior mostravam nossa completa inferioridade não só de efetivos como principalmente de armamentos e tecnologia.
Reconhecida como principal, ameaça, a ambição estrangeira pela Amazônia, evidenciou-se que entre os cenários possíveis haveria o de confronto militar. Os dois sub-cenários mais prováveis: a secessão de terras indígenas apoiadas pelas grandes potências ou a simples tomada a "manu militari" para se apoderar de matérias primas, sempre nas desabitadas mas altamente mineralizadas serras do norte da Amazônia.
Obviamente que, em qualquer dos casos, enfrentaríamos um inimigo infinitamente superior, impossível de vencer em campo raso, que contará com supremacia aérea e naval e ainda terá ao seu lado as tribos indígenas industriadas pelas ONGs.
No caso de secessão de terras indígenas, mesmo apoiadas militarmente por países desenvolvidos, a guerra provavelmente se circunscreveria às terras do norte da Amazônia. No caso de agressão militar aberta, numa tentativa de quebra da vontade nacional podemos esperar bombardeios seletivos como das hidrelétricas, tomada ou destruição das plataformas de petróleo, bloqueio naval, bombardeios e mesmo tomada de cidades, centros industriais e de decisão.
Em ambos os casos, o tamanho do território nacional impede uma ocupação total, o que significa que sempre teremos uma base para contra-atacar.
Identificada a ameaça, a boa doutrina aponta o método a ser seguido: perguntamos se a nossa organização, nossos equipamentos e nossos procedimentos conteriam a ameaça. Caso negativo, o que necessitaremos modificar nos procedimentos, equipamentos e organização para garantir o sucesso.
Trataremos aqui, para esta hipótese, apenas da preparação das Forças de Terra abstraindo a ação das demais Forças armadas e da também indispensável Defesa Civil. Mesmo limitando o estudo ao Exército, será necessário alguma "quebra" de paradigmas. Algo difícil, pois abarca aspectos de ordem cultural e requer mudanças na doutrina e nos conceitos organizacionais e operacionais, porém devemos encarar a necessidade da transformação da Força Terrestre como inevitável se quisermos vencer, ou mesmo termos uma oportunidade de dissuadir o adversário de por seus planos em execução.
O Exercito que temos. Como está?
Com parcos recursos o Exército Brasileiro faz grande esforço para manter algum poder de combate.
Tal como na maioria dos Exércitos atuais, a brigada e a divisão são os tipos de Grande Unidade permanente. – A brigada com 2 a 5 batalhões e a Divisão com 2 a 5 Brigadas, sempre com as unidades complementares de artilharia, engenharia comunicações e apoio logístico.A estrutura é flexível; seria adaptada para o combate campal se fosse dotada de material atualizado.
Possuímos quatro divisões razoavelmente completas (ainda que dotadas de material defasado), sendo as demais incompletas. Poucas unidades e apenas uma brigada são constituídas por tropa profissional. A maioria das unidades, sujeita ao ciclo anual de incorporação e baixa dos conscritos quase nunca está pronta para o combate. Em sua maioria os batalhões têm boas condições de montar patrulhas de combate, mas não de atuar como uma unidade em combate moderno.
Em operações, podem ser empregadas brigadas orgânicas ou Forças-Tarefa compostas por elementos de uma ou mais brigadas, como acontece nas Forças de Paz enviadas ao exterior.
Convencido que não teria inimigos a altura na América do Sul, o Exército deu mais ênfase à mobilização do que ao pronto emprego. A dimensão do País e a experiência da Guerra do Paraguai reforçavam a certeza que, uma vez atacado, as forças vivas da nação teriam condições de reagir e montar o exército que fosse necessário. Durante um século nossas hipóteses de guerra versavam em torno da herança colonial, contra os castelhanos da Argentina ou mesmo contra uma coligação de países do Cone Sul. Para aquela guerra estávamos relativamente preparados: bastava retardar o inimigo até uma linha defensiva, agüentar lá até que o nosso potencial fosse mobilizado, quando passaríamos a ofensiva.
Isto não aconteceu. Em vez disso tivemos que enviar uma Força Expedicionária contra a Alemanha, e só conseguimos juntar uma Divisão, assim mesmo equipada pelos nossos aliados. A partir daí, com a Guerra Fria, esta hipótese foi perdendo força, avultando as necessidades da defesa interna, aliás bem sucedida, e a pressuposição que numa próxima guerra, nossa participação seria com nova força expedicionária. Que a defesa do território se resumiria a questões intestinas.
As falhas do sistema, já vivenciadas por ocasião da FEB, evidenciavam cada vez que devia ser montada com rapidez uma força expedicionária, mesmo que fosse só um batalhão em missão de paz. Avultou a necessidade de haver tropas de pronto emprego e de mobilidade aérea para as operações internas. Mesmo carente de recursos, o Exército preparou como pode tropas de pronto emprego e criou uma aviação própria.
Para enfrentar a hipótese de confronto com forças muito superiores, especialmente nas serras do norte da Amazônia, estudos do Estado Maior mostravam nossa completa inferioridade não só de efetivos como, principalmente, de armamentos e tecnologia. Temos consciência de que uma nossa unidade militar com o armamento e o equipamento existentes, que se choque em campo raso com uma unidade dotada com armamento e equipamento modernos, se desmanchará como um pote de barro trombando com um pote de ferro.
Nosso Exército, da forma em que está, não tem possibilidade de superar esta ameaça, quer se circunscreva às áreas ambicionadas da Amazônia quer inclua atuação nos pontos chaves do espaço ecúmeno nacional visando quebrar a vontade de resistir.
Podemos agüentar bombardeios em nosso território, por muito prejuízo que cause. Havendo invasão de espaço povoado, até poderemos responder com guerrilhas rurais e urbanas, se as tivermos preparado com antecedência; entretanto mesmo as tropas de pronto emprego não teriam como fazer face ao poderoso inimigo em batalha campal, e a tão necessária mobilidade aérea, indispensável face ao tamanho do nosso território, é completamente inútil quando o inimigo tem a supremacia no ar.
Caso o inimigo se limite a estabelecer uma "Zona de Exclusão" no estilo que houve nas Malvinas abrangendo apenas as reservas indígenas da fronteira (Ianomami, Raposa, Uai-Uai, Atroari e outras, - exatamente nas mineralizadas serras do norte), reação possível somente com as tropas existentes no local da invasão ou com as que conseguirmos levar até lá. Com certeza se repetiriam, em nossos pelotões de fronteira, episódios como o de Antonio João em Dourados, de significado moral, mas de nulo efeito operacional.
Os atuais pelotões de Fronteira são marcos da nacionalidade, mas em termos bélicos não têm maior significação; ao contrário, por não serem auto-suficientes, terão que ser sustentados logisticamente mesmo estando fora da área atacada em ocasião em que todos os meios disponíveis serão necessários em combate. Só articulando com antecedência se poderia contar com o auxílio de umas poucas tribos indígenas e principalmente dos garimpeiros.
No momento, para evitar a atuação de inimigo muito superior em apoio à independência de nações indígenas, o Exército aposta no que lhe resta: a dissuasão que possa ser provocada pela certeza de que faríamos uma guerrilha infindável na selva, estratégia denominada "de resistência"; transfere toda a tropa que pode para a Amazônia, mas ainda está longe de ter a força necessária nas proximidades das serras da fronteira, o verdadeiro teatro das prováveis disputas, onde se encontram as cobiçadas jazidas de minérios estratégicos.
Considera-se inevitável a supremacia aérea inimiga. O bloqueio aéreo dos rios e estradas nos impedirá de levar para lá um só batalhão sem atravessar centenas de quilômetros de selva. Isto significa que deveríamos estar lá antes da guerra.
Resumindo: Exército tem boas condições de superar as ultrapassadas hipóteses de Guerra e de atuar ceficazmente na segurança interna, mas está com o dispositivo, a organização equipamento e armamento inadequado para enfrentar as principais ameaças que podemos vislumbrar.
Muito bem, e daí? – Qual o próximo passo?
Antes de pensarmos qual o tipo de Exército que nos convém, façamos algumas considerações sobre a natureza das guerras na atual conjuntura.
Dia a dia as armas são aperfeiçoadas e novas aparecem. Os mísseis, cada vez mais portáteis se revelam eficazes contra aeronaves, contra pessoal e principalmente contra carros de combate. A situação destes últimos se assemelha a do cavaleiro medieval quando do aparecimento do mosquete; pensava-se que ainda haveria muitas flechas e lanças, e que a armadura deveria ser conservada. Foi necessário um século de perdas sangrentas para aprender que o mosquete era o novo rei. O mesmo acontece agora; a mobilidade continua importante, a blindagem não. Os exércitos modernos (ainda não é o nosso caso) podem identificar alvos pela assinatura eletrônica, pelo calor e podem destruir qualquer alvo identificado. Em conseqüência, as armas devem ficar longe da guarnição, manejadas por controle remoto ou então não apresentar alvos compensadores ou ainda se deslocar rapidamente após o tiro.
Devemos também considerar que, com a ampliação das áreas urbanas, a concentração das riquezas e nós de comunicação nas cidades, o combate tende a ser cada vez mais em ambiente urbano. Será vantajoso reavaliar a organização e o equipamento criado para o combate campal na hipótese dos combates se desenvolverem predominantemente em cidades.
Já no presente, com as armas acionadas por controle remoto, e cada vez mais no futuro as armas serão dotadas de sensores que apontarão e decidirão quando atirar. Algumas elementares (minas e armadilhas) são empregadas desde muito tempo, mas o futuro nos promete a grande ampliação do uso de armas com sensores que decidirão por si quando atirar ou explodir. Muito da camuflagem será o como "enganar" os sensores.
Por fim, pode-se esperar que os alvos serão fugazes; as situações evoluirão com muita rapidez e as comunicações não serão confiáveis, tal o espectro de interferências. Em conseqüência dificilmente haverá oportunidade de informar novos dados para receber ordens. Desta forma valerá a iniciativa, boa ou não, dentro de um objetivo geral tipo "fazer algo que ajude a ganhar a guerra".
A História está cheia de exemplos de derrotas de bons exércitos que pararam no tempo. De exércitos que se prepararam para a guerra que passou. Durante a guerra, os exércitos que não cedem podem evoluir, mas a guerra de hoje pode não ser longa suficiente. A deusa da vitória sorri para quem, se antecipando, soube quando, por que e como mudar.
Já reconhecemos como principal a ameaça de ataque de forças muito superiores, e selecionamos os dois principais cenários: a secessão de terras indígenas, guerra necessariamente circunscrita ainda que apoiada pelas grandes potências, ou a simples tomada por estas, a "manu militari" das mineralizadas serras do norte da Amazônia. Já vimos que, neste caso tenderia a haver ações inimigas no restante do território visando quebrar a vontade nacional por bombardeios seletivos como das hidrelétricas e a tomada ou destruição das plataformas de petróleo e mesmo tomada de cidades centros industriais e de decisão.
Obviamente que, em ambos os casos, enfrentaremos um inimigo que contará com supremacia aérea e naval, impossível de vencer em campo raso.
Considerando que não poderemos vencer exércitos muito superiores em campo aberto, nos resta a selvas e as cidades, que reduzem de muito a eficiência dos equipamentos superiores e são reconhecidamente locais adequados à defesa. Nas cidades contaríamos com o auxílio da população. Na selva, nossa superioridade de conhecimento do terreno fica diminuída se o inimigo tiver ao seu lado as tribos indígenas industriadas pelas ONGs.
Também concluímos que dificilmente conseguiríamos deslocar tropas para o local da invasão. Sabemos também que é impossível uma ocupação total do território nacional, e que sempre teremos uma base para contra-atacar. Articulando com antecedência, se pode conseguir, nas serras da Amazônia a cooperação de umas poucas tribos indígenas e principalmente dos garimpeiros.
Resumindo: Já que o nosso dispositivo, nossos meios e nosso procedimento se mostram inadequados para enfrentar as ameaças que identificamos, devemos adaptá-los o quanto antes. Conseguindo em tempo útil talvez até possamos evitar a guerra. Enquanto nossas forças forem reconhecidamente inuficientes, deixam de ser um elemento de dissuasão e passam a ser mais um atrativo.
O Exército que precisamos
Recordando:
Considerando que, na hipótese de combatermos exércitos muito superiores, não poderemos enfrentá-los em campo aberto. Nos restará a selva, que reduz de muito a eficiência dos equipamentos superiores e as cidades, reconhecidamente locais adequados à defesa e onde a população é brasileira.
Sendo a guerra circunscrita à área em disputa, ou seja, abrangendo as reservas Ianomami, Raposa-Serra do Sol, Uai-Uai Atroari-Uaimiri, (exatamente nas mineralizadas serras do norte) a guerra será na selva, mas o bloqueio aéreo dos rios e estradas nos impedirá de levar para lá um só batalhão sem atravessar centenas de quilômetros de selva. Isto significa que devemos estar lá antes da guerra. Caso a guerra se estenda além da área ambicionada certamente haverá bombardeios e ocupação de cidades, especialmente as portuárias, exigindo também uma adequação para a nova situação.
Baseado nessas premissas, proporemos:
1- Alterações no dispositivo
2- Alterações no recrutamento e formação
3- Alterações na organização
4- Alterações nos armamentos e equipamentos
5- Alterações nos procedimentos de combate
1 – ALTERAÇÕES NO DISPOSITIVO
Objetivo: localizar a tropa para fazer face à ameaça
Considerando que a principal ameaça estará nas serras do Maciço Guianense (as serras que separam nosso País dos vizinhos do norte), é lá que devemos reunir, com o máximo de antecedência, as tropas de combate especializadas e as de apoio, também especializadas à região. Como exemplo, nas áreas Ianomami e Raposa-Serra do Sol, os atuais pelotões de Fronteira necessitam ser transformados com urgência em tropas de combate. Penso ser factível no momento transformá-los em Companhias Especiais, com quatro pelotões de Infantaria de Selva e um pelotão de defesa de base, que é o atual pelotão de Fronteira. Outras companhias necessitam ser criadas nas áreas Tiriós, Uai-Uai e Atroari. Essas Companhias Especiais devem preparar a guerra no local, estocando gêneros e munição em locais ocultos e se ligando com antecedência com garimpeiros e índios leais. Cada pelotão de Selva, com quatro grupos de combate, e deve ser dotado de mísseis portáteis, inclusive anti-aéreos. Estas companhias "de emboscada" devem ter condições de desenvolver operações independentes, juntamente com seus aliados índios, caboclos locais e garimpeiros.
A massa das tropas de combate que não forem localizadas na região onde se espera o combate seja localizada nas cidades que forem mais ameaçadas (Belém, Manaus, Boa Vista, Brasília, Rio, Salvador etc.), e especializadas, em combate em localidade. Nas proximidades da sede dos Comandos Militares de Área um batalhão de comandos pára-quedistas e da Capital Federal também um de Operações Especiais.
Excelente medida já foi a criação de Bases Logísticas, liberando tropas para saírem e atuar em outros locais.
2 - ALTERAÇÕES NO RECRUTAMENTO E FORMAÇÃO
Objetivo: Ter tropas sempre prontas para uma reação imediata e reservas para uma ação prolongada.
Considerando que, nas atuais condições, nossas tropas são pouco mais do que escola de recrutas, os quais só estarão treinados no final do ano de instrução, e assim permanecerão por poucos meses; considerando ainda que os quadros, empenhados na instrução de recrutas e na administração têm pouco tempo e pouco estímulo para exercitar sua função primordial, qual seja, - bem comandar sua fração em combate, - a mudança se faz necessária quer no recrutamento, quer na preparação dos soldados e dos quadros.
2.1 – Recrutamento e formação de soldados
Por muitas razões, nos convém o recrutamento universal. Entretanto, a pequena quantidade de conscritos que podemos incorporar anualmente não passa de 0,5% dos rapazes em idade militar. É necessária uma reformulação, não só para que seja recebida alguma instrução militar, mas para que seja incutida e cultivada a noção de Pátria e dos valores indispensáveis à nacionalidade.
A solução são os "Tiros de Guerra". Será fácil estabelecê-los nas cidades, um por cem mil habitantes. Isto atenderá a 10% dos jovens, o que ainda é pouco mas bem melhor do que os atuais 0,5%. É óbvio que os reservistas/atiradores terão melhores condições de, liderados pelos próprios diretores do Tiro de Guerra, de desencadearem guerrilhas em seus locais de formação do que se não tivessem alguma instrução militar.
A incorporação na tropa, para voluntários, só após o Tiro de Guerra. Como o uso de armamento moderno não é assunto para amadores, nos parece conveniente o engajamento mínimo de três anos, mas na tropa não mais será necessário perder tempo com os ensinamentos elementares de ordem unida, armamento individual e procedimento em situações diversas. A tropa passa a ser tropa e não escola de recrutas como na atualidade. As escolas de recrutas seriam os Tiros de Guerra.
2.2 – Recrutamento e formação de sargentos e de oficiais temporários
O ideal é transformar os CPOR em Centros de Preparação de Quadros da Reserva – CPQR. Um por Região Militar. Estes formariam sargentos temporários no primeiro semestre e oficiais temporários no segundo.
Livres da formação básica militar, já que seria requisito para a matrícula o serviço no Tiro de Guerra, (com ingresso mediante concurso) o CPQR ensinaria a ser sargento, e em função específica. Todos os terceiro sargentos seriam temporários. A partir de 3 anos de sargento poderiam fazer concurso para o Curso de Aperfeiçoamento, na ESA, onde, concluído o curso, seriam promovidos a segundo sargentos a passariam a profissionais, de carreira. Assim o Exército teria todos os terceiros e segundos sargentos que necessitasse, sem se preocupar com o gargalo nas promoções.
Analogamente no segundo semestre seriam formados os oficiais temporários. Requisitos para prestar concurso: ter concluído o curso de sgt e sido aprovado em um vestibular. Tal como no curso de sargentos, a formação será para funções específicas, a partir dos ensinamentos aprendidos nos cursos de sargento (cobrados no concurso).
Na tropa não haveria recrutas. Isto nos permitirá que a mantenhamos permanentemente em condições de pronto emprego, livrando-as da atual função de serem pouco mais do que escolas de recrutas, ao contrário da situação atual, em que as tropas só estão em condições de emprego poucos meses por ano.
2.3 Recrutamento e formação de oficiais de carreira
Ter cursado um Tiro de Guerra deve ser um dos pré-requisitos para os candidatos á Escola Preparatória, que equivaleria a um curso de sargentos no CPQR. Para o ingresso, uma média ponderada da prova intelectual com um exame psicotécnico que possa medir a vocação guerreira. Um chefe militar não pode ter como aspiração uma carreira dedicada à burocracia de tempo de paz.
Quando a pátria está em perigo, todos entram na luta, mas o sucesso é mais difícil quando ela não é conduzida por guerreiros vocacionados.
3 - ALTERAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO
Objetivo: adequar a organização para aproveitar ao máximo as inovações tecnológicas e as particularidades do terreno de selva e do ambiente urbano, onde se espera a busca das decisões.
A aceitação cega da tradição faz com que, muitas vezes, os militares não percebam que a situação mudou. Um exemplo disto foi a lenta morte da cavalaria hipomóvel, muito depois de sua obsolescência no campo de batalha.
Nosso sistema de organização em armas e serviços, herdados da História, já deixou de ser útil desde que a complexidade da organização impôs idênticas funções em muitas tarefas das diferentes armas e serviços atuais. Assim, o soldado que maneja uma metralhadora tem a mesma função na atual Infantaria, Cavalaria ou Intendência, não se justificando mais estarem "presos" a uma arma ou serviço. Tratando-se de graduados e de oficiais, mais ainda se acentua a possibilidade de "intercâmbio", chegando ao auge entre oficiais de Estado Maior, cujo ecletismo felizmente é adotado nas Grandes Unidades.
Sendo o atual sistema de armas e serviços ultrapassado e passível de aprimoramento, sugerimos que as unidades sejam definidas por sua finalidade e, seus componentes, por especialidade. Assim haveria unidades de assalto, de choque, de guerra urbana, de guerra na selva, de reconhecimento, de apoio de fogo, de apoio ao movimento, de apoio logístico, de guarnição e o que mais for necessário. As especializações de pessoal que forem comuns se tornam intercambiáveis nos diversos tipos de Unidades.
Além da organização geral, o Estado Maior deverá estudar a adequação de todos os escalões, a começar pelos elementares. Como exemplo vejamos o Grupo de Combate. Considerando que a moderna psicologia de combate nos indica que normalmente, em cada agrupamento reunido apenas um homem combate e os outros acompanham, convém seja criada uma fração elementar de três homens, que é o menor grupamento com psicologia de grupo. Esta fração só pode ser a esquadra, certamente a ser comandada por um cabo.
Em conseqüência o grupo de combate ficará composto por três esquadras de três homens cada. A partir daí, cada escalão deverá ser adequado ao ambiente, visando à futura necessidade que terão de agir muitas vezes sem ligação com os escalões superiores e, o quanto possível, sem cauda logística.
Naturalmente o Estado Maior do Exército terá que estudar a organização conveniente para todos os escalões, e o respectivo equipamento.
4 - ALTERAÇÕES NOS ARMAMENTOS E EQUIPAMENTOS
Objetivo: Aproveitar as evoluções tecnológicas no que estiver ao nosso alcance, cuidando de minimizar os efeitos da superioridade tecnológica do inimigo
Ameaçando a utilidade das armas tradicionais, as novas armas
ameaçam fazer uma revolução na guerra, que corre paralela à evolução das táticas.
Houve um momento na história em que o tiro do mosquete varou a armadura do cavaleiro. Isto foi reconhecido de imediato, mas se pensou que ainda haveria muitas flechas e que valeria a pena manter a couraça. A mobilidade continuou importante, mas a armadura não. O mesmo acontece hoje com a blindagem face aos mísseis, cada vez mais portáteis, e a ameaça aérea, esta capaz de varrer completamente o carro de combate do campo de batalha. Em nossa hipótese de guerra contamos que o inimigo terá a supremacia aérea. Contamos também que poderá atingir, com mísseis guiados por GPS, o que quer que tenha sido localizado pela imagem, pelo som, pela assinatura eletrônica e outros meios. E teremos que nos adequar a esta situação.
O rumo da adequação passa pela camuflagem, pelo uso de túneis e subterrâneos, pelos alvos simulacros para atrair o fogo inimigo, pela mobilidade e pelas armas distanciadas das guarnições, neste caso aceitando sua destruição depois de cumprida sua tarefa. Para enfrentar a ameaça aérea, mísseis adequados e dispersão. Veículos maiores serão armadilhas mortais. Podem ser usadas motocicletas, dentro do "conceito dragão", isto é deslocamento motorizado e combate a pé. A maior viatura imaginada para o ambiente descrito é o "boogie" ou bugre como chamado em alguns locais, armado com um poderoso míssil.
O primeiro cuidado será com a adequação do equipamento individual. Tal como o armamento, o equipamento atualmente usado foi pensado para o uso no campo. O armamento ideal de uma esquadra de três homens seria um míssil portátil, um fuzil 762 de precisão com luneta e um FM. Com o homem do míssil, ainda uma submetralhadora, que continua sendo a melhor arma para o combate aproximado. É verdade que isto complica a logística. Complica, mas facilita o combate. O tiro de precisão a longa distância é o mais mortífero e o que causa maior efeito moral. O FM é a base do poder de fogo. Melhor que seja de calibre 556 para poder ser transportada mais munição, diminuindo a necessidade logística. O míssil portátil uma vez disparado com sucesso terá cumprido sua finalidade e o soldado ainda terá a sua submetralhadora, que continua sendo a melhor arma para o combate aproximado. Tudo fácil de ser fabricado. Mísseis elementares são de fácil fabricação por qualquer fabricante de fogos de artifício. A Avibrás está em condições de igualar os melhores do mundo, os Karl Gustav suecos, e de planejar e fabricar mísseis maiores, capazes de fornecer eficaz apoio de fogo e contra-bateria. Obviamente necessário para este tipo de guerra, o desenvolvimento de minas e outras armas acionadas por controle remoto.
Quanto ao ambiente urbano, pensar em armas com jogo de espelhos que permitam o tiro com o atirador abrigado por uma esquina. Substituir as ferramentas de sapa, inúteis nas cidades, por picaretas de minerador ou algo similar para abrir paredes. Importante equipamento: extintores de incêndio.
Quanto ao armamento das demais tropas especializadas, é só seguir a mesma metodologia. Em todos dar especial ênfase a armas que possam ser acionadas de longe, por controle remoto ou mesmo com sensores que acionem o disparo ou a explosão.
5 - ALTERAÇÕES NOS PROCEDIMENTOS DE COMBATE
Objetivo: entender a forma de luta com a qual possamos vencer um exército superior e tecnologicamente mais avançado.
A primeira das premissas da guerra que prevemos: o inimigo terá supremacia aérea.
A segunda premissa: as nossas comunicações não serão confiáveis ou mesmo serão impossíveis
A terceira premissa: a superioridade de fogo do inimigo tornará inconveniente o enfrentamento onde as condições geográficas não limitem a eficácia do armamento superior.
Em conseqüência, neste contexto, pouco adiantaria apenas dotarmos algumas brigadas com material moderno; mas devemos evitar o combate campal, levar a guerra onde a superioridade inimiga possa ser reduzida ou neutralizada por fatores ambientais, ou seja as cidades e as florestas.
É necessário o intenso uso de minas e de armas acionadas a distância. Contra elas é difícil a defesa e os contra-ataques destruirão armas mas não causarão baixas. Acima de tudo será necessário desenvolver uma forte doutrina que privilegie a iniciativa.
Sabemos que em ambiente onde haverá interferência contínua nas comunicações, onde será impossível de haver sigilo, as comunicações não serão confiáveis e as ordens recebidas podem ser apenas um engodo da interferência eletrônica do inimigo. Os alvos fugazes e as situações fluidas tenderão a exigir ação imediata, não comportando a espera de nova orientação. Isto exigirá iniciativa em todos os escalões. Claro, algumas iniciativas serão erradas e até podem causar dano, mas no seu conjunto será altamente vantajoso. Esta é a única forma de enfrentar esse tipo de guerra.
Aos comandantes, nos vários escalões, caberá dar a orientação geral. Num ambiente fluído, onde as comunicações serão inexistentes ou inconfíáveis, apenas a capacidade de decisão dos combatentes poderá ser usada para aproveitar as oportunidades de reagir em tempo útil. Isto é uma nova forma de disciplina, muito mais consciente a que teremos que nos acostumar.
Talvez o nosso País não tenha escolhido ser potência; certamente também não é por sua vontade que é objeto de cobiça, - isto tudo é uma imposição da geografia. O desafio com que hoje nos defrontamos é escolher entre defender o que é nosso ou desistir de aproveitar as benesses em minérios com que o Criador nos brindou
Já dizia o grande Bismarck: "Riquezas minerais em terras de povos que não querem ou não podem utilizar deixam de ser vantagens para se tornar um perigo para seus detentores".
Direitos, sabemos que o Brasil tem sobre seu território. Aqui cabe uma expressão do nosso Ruy Barbosa:
"PAÍSES QUE CONFIAM MAIS EM SEU DIREITO DO QUE EM SEUS SOLDADOS, ENGANAM A SI MESMO E CAVAM SUA RUINA"
Este é um blog "dependente" ou "assistente" de meu blog principal (diplomatizzando.blogspot.com/), que sucedeu a varios outros (ver os links em Blogs PRA), no qual pretendo "depositar" textos diversos, cuja inserção naquele blog resultaria num peso adicional ou num estorvo à leitura. Considere-se, portanto, como frequentando um sebo ou uma "biblioteca", por certo mal arrumada e mesmo caótica, mas ainda assim um repositório de escritos esparsos.
quarta-feira, agosto 20, 2008
sábado, agosto 16, 2008
355) A IV Frota americana e a Marinha brasileira
A IV Frota e os interesses brasileiros no mar
Roberto Carvalho de Medeiros
InfoRel, 16/08/2008
A IV Frota da Marinha dos Estados Unidos possui uma relação histórica para com o Brasil.
Na II Guerra Mundial aquela esquadra americana realizou escolta de navios mercantes no Atlântico Sul, juntamente com a Esquadra brasileira.
Registros obtidos na “Biblioteca Presidencial Lyndon Johnson” demonstram sua disponibilidade pelo governo norte-americano para emprego velado em apoio à revolução militar de 1964, caso houvesse resistência interna.
Após passar um longo período de tempo, a ativação dessa esquadra norte-americana causa espécie ao governo brasileiro (MRE e MinDefesa), haja vista o importante momento em que o País atravessa.
Em pleno desenvolvimento de uma mentalidade marítima, identificando e conhecendo um conjunto de valores estratégicos existentes no interior da Amazônia Azul, espaço geográfico e marítimo compreendendo a projeção da soberania brasileira sobre e sob o mar, solo e sub-solo marinho (mais de 50% do território nacional), o Brasil inicia uma nova era de inserção mundial.
Além da questão dos hidrocarbonetos, é na atividade pesqueira que o nosso país também se projetou internacionalmente, em particular na pesca do atum, de alto valor comercial.
A “Comissão internacional para a conservação dos tunídeos do Atlântico” (ICCAT), uma das cinco organizações internacionais especializadas no assunto, já externou a existência de grande massa pesqueira que se desloca permanentemente em grande área marítima da zona econômica exclusiva brasileira.
Por meio das recentes descobertas de gigantescas jazidas de hidrocarbonetos (gás e petróleo) na região sudeste, estima-se que o Brasil possuirá um bilhão de barris de petróleo por ano entre 2013 e 2014.
Esta quantidade projeta o País entre um dos maiores produtores de petróleo do mundo daqui a cinco anos, período próximo no qual o petróleo ainda será considerado a principal fonte de energia, de alto valor estratégico!
E é também sobre os mares que são transportados mais de 95% das trocas comerciais do Brasil, tornando a manutenção das linhas marítimas também um desafio especial para o Estado, a fim garantir a segurança de quem navega pelas águas jurisdicionais brasileiras, atuando no comércio exterior.
Nos estudos estratégicos, a “coincidência” é algo pouco provável e admitida como última hipótese. O Poder Naval norte-americano está presente de forma global.
Dividido por área marítima, a Marinha dos Estados Unidos possui uma esquadra sediada em pontos focais dentro de cada oceano do globo.
Assim sendo, a II Esquadra tinha sob sua responsabilidade o Atlântico Norte até absorver a IV Frota em meados dos anos 50 quando passou a ter presença em todo o Oceano Atlântico.
Agora, com a reativação desta última, novamente este enorme espaço marítimo ficou dividido em duas partes, mas com uma nova característica geoestratégica: o Atlântico Norte com a II Esquadra e o Atlântico Sul, com a IV Esquadra, agora incluindo o Caribe e o espaço marítimo internacional adjacente aos países sul-americanos no Pacífico.
Voltaremos a este ponto a seguir. A III Esquadra atua no Pacífico, desde a costa americana até um espaço marítimo “fluido” adjacente a oeste do Hawai.
A V Esquadra atua no Oceano Índico, com atenção especial ao Golfo Pérsico, Mar Vermelho e o Golfo de Bengala e seus estreitos.
A VI Esquadra está presente no Mar Mediterrâneo como um todo. E a VII Esquadra, sediada no Japão, cobre todos os espaços marítimos do Pacífico nas proximidades daquele país, particularmente os estreitos de alto valor estratégico adjacentes à China e à Rússia.
Uma esquadra da Marinha norte-americana é composta por um conjunto de navios que pode variar de acordo com o propósito de suas diferentes tarefas.
Normalmente nucleada em um porta-aviões com aviação embarcada para proteção à frota (interceptação, ataque, alarme aéreo antecipado, guerra eletrônica, etc.), socorro e salvamento e, principalmente, de capacidade de projeção de poder sobre terra, uma esquadra dessa dimensão tem como principal unidade esse conjunto “porta-aviões + aviação embarcada” como a unidade de maior valor.
Esse conjunto é protegido por navios-escoltas com capacidade de defesa a longa, média e curta distância nas três dimensões (aérea, superfície e anti-submarina), além de navios de apoio logístico (combustível, mantimentos, munição, etc.) e de, no mínimo, dois submarinos nucleares na defesa submarina.
Em consonância com o Direito Internacional, cada piso metálico de uma unidade naval dessa ou daquela esquadra é o próprio solo norte-americano, pelo princípio jurídico do Direito Internacional e praticado pela diplomacia mundial, qual seja a extraterritoriedade, reconhecido internacionalmente.
É mais uma característica exclusiva de um poder naval: ser flexível, de acordo a necessidade, e representar legalmente o Estado de origem da sua bandeira, esteja onde estiver!
É fácil concluir que o governo americano sinaliza ser prioritária a presença norte-americana de forma plena e ostensiva em cada região do mundo por meio do seu Poder Naval, alterando sua intensidade, composição, características e permanência, conforme o nível de interesse nessa ou naquela região.
Assim deve ser interpretada a reativação da IV Esquadra, com sede na Flórida, subordinada ao Comando Sul dos Estados Unidos. E quais seriam dos fatores motivadores que levaram a essa reativação?
É possível identificar um conjunto de fatos na dinâmica das relações internacionais, no hemisfério, compatíveis àquela decisão.
Por exemplo, uma alteração na condução da política externa no que concerne aos crimes transnacionais, particularmente ao tráfico de entorpecentes e de armas.
Especialistas indicam uma nova concepção de arranjo de forças para enfrentar esse tipo de ameaça, não mais no combate seletivo direto, mas sim na garantia da segurança nas linhas marítimas no Caribe por onde passam as rotas de tráfico.
O mesmo se dá na costa latino-americana no Pacífico. Em ambos os casos complementariam as ações em desenvolvimento contidas no “Plano Colômbia”.
Outro fator significativo é a aplicação do conceito de “Guerra baseada em rede” (NCW, na sigla em inglês), concebido pela Universidade de Defesa Nacional (NDU) e estruturado pelo Pentágono dentro dos Comandos Combinados para as quatro Forças Armadas dos Estados Unidos.
Em resumo, é a capacidade estratégica e de logística militar de deslocar os meios necessários, disponíveis de forma global, para atuar em uma determinada região quando necessário.
No caso da IV Esquadra, é a simples alocação permanente de um conjunto de meios para o Comando Sul a fim de aplicá-lo quando, onde e como for necessário, inclusive em apoio direto nas áreas de conflito como, por exemplo, no Golfo Pérsico e no espaço marítimo ocidental do Oceano Índico (Iraque e Afeganistão, respectivamente), junto à V Esquadra.
Respeitáveis analistas políticos brasileiros sinalizam uma outra linha de motivação para o governo norte-americano reativar a IV Frota, decorrente da atual preponderância de líderes e chefes de governo ligados mais a uma ideologia de esquerda ortodoxa, tais como os presidentes da Venezuela, do Equador e da Bolívia, na contramão da história pós-moderna internacional.
O Brasil e o Chile, por meio dos seus atuais presidentes, são vistos no exterior como novos líderes com propósitos elevados de compromisso para com a democracia e o desenvolvimento cooperativo, solidário e socialmente mais eqüitativo.
Independente do real propósito dessa ativação naval, a meu ver o que deve e pode ser mais premente é o Estado brasileiro ter maior atenção à única Instituição permanente que, por meio do Poder Naval, possui como missão “contribuir para a defesa nacional” no ambiente marítimo.
Como expressou o Comandante da Marinha, a Esquadra brasileira não se encontra hoje adequadamente pronta e capaz para cumprir sua missão constitucional, tendo inclusive alertado o Ministro da Defesa e a Opinião Pública sobre tal fragilidade estratégico-militar diante dos debates sobre a reativação da IV Frota dos Estados Unidos.
O principal propósito foi o de novamente provocar o Poder Executivo a transferir os recursos financeiros dos “royalties” do petróleo que faz jus por lei federal, montante retido dentro dos recursos contingenciados para compor o superávit primário das contas públicas nacionais.
Isso é preocupante, pois sem uma Esquadra constituída de meios navais e aeronavais em quantidade e qualidade proporcionais à dimensão geoestratégica do País, pronta e adestrada para fazer frente às ameaças hoje difusas e complexas, o Brasil se torna vulnerável na defesa dos seus interesses no mar por não mais possuir capacidade dissuasória suficiente para evitar “aventuras” por parte de terceiros.
Nossa vasta costa possui regiões onde existe probabilidade de aumento da presença americana nas suas proximidades onde se localizam pontos focais de alto valor estratégico para o Brasil.
Destacam-se a foz do Rio Amazonas, a saliência nordestina, o litoral fluminense, especialmente ao norte, na Bacia de Campos, e ao sul, particularmente a área próxima ao Rio de Janeiro (sede da Esquadra) e à Angra dos Reis (usinas termonucleares), e na Bacia de Santos.
Estados costeiros com grande faixa marítima necessitam, obrigatoriamente, de um Poder Naval capaz de atuar e de se fazer presente em toda dimensão geográfica das suas águas jurisdicionais.
Um País continental como o nosso e também enfrentando seus desafios sociais é a Índia.
Em face das grandes distâncias marítimas envolvidas, recentemente o Poder Político da Índia decidiu criar duas esquadras distintas para que a Marinha indiana adquirisse capacidade de atuar nas duas costas no Oceano Índico, simultaneamente.
No Brasil ocorre o mesmo desafio do extenso espaço marítimo a percorrer, contudo o País de comporta de forma inversa.
O Alto Comando da Marinha, denominado de Almirantado, decidiu pela desativação gradual de navios da Esquadra que se encontram próximos do limite aceitável de operação, devido à baixa confiabilidade de seus sistemas e equipamentos causados pela obsolescência já alcançada há anos.
São unidades empregadas como escolta a outros meios de alto valor estratégico como o porta-aviões, navios-tanque, navios anfíbios, etc., e excelentes meios de apoio às ações de fiscalização realizadas por navios-patrulha de menor porte nesses mesmos pontos focais.
A redução de navios e aeronaves só compromete mais a fragilidade da nossa Esquadra.
Mesmo que houvesse uma decisão política para a construção de novas unidades para a Marinha, a partir do momento da disponibilidade financeira até a entrega do navio, o período de tempo é extenso, de dois a oito anos, dependendo do tipo, dimensão e configuração interna do navio.
A “janela de tempo” de vulnerabilidade é longa demais para permanecer com uma Esquadra composta por essa moldura reduzida de navios.
Para superar tal lacuna, existe a opção de buscar a aquisição de “meios de oportunidade” no exterior.
São navios usados de marinhas de primeira grandeza naval, em bom estado de uso, mas não mais compatíveis com as necessidades daquele Poder Naval estrangeiro.
Vale registrar que esta opção nem sempre está disponível no momento em que comprador decide por implementá-la!
Por fim resta a seguinte reflexão: vale a pena o Brasil se preocupar prioritariamente com a reativação da IV Esquadra norte-americana ao invés de deixar de lado os graves e crescentes problemas operacionais e logísticos existentes na única Esquadra que a Marinha do Brasil possui para que o Estado brasileiro seja capaz de se fazer presente no mar de forma convincentemente dissuasória?
Roberto Carvalho de Medeiros, CMG (Ref.), professor universitário
Roberto Carvalho de Medeiros
InfoRel, 16/08/2008
A IV Frota da Marinha dos Estados Unidos possui uma relação histórica para com o Brasil.
Na II Guerra Mundial aquela esquadra americana realizou escolta de navios mercantes no Atlântico Sul, juntamente com a Esquadra brasileira.
Registros obtidos na “Biblioteca Presidencial Lyndon Johnson” demonstram sua disponibilidade pelo governo norte-americano para emprego velado em apoio à revolução militar de 1964, caso houvesse resistência interna.
Após passar um longo período de tempo, a ativação dessa esquadra norte-americana causa espécie ao governo brasileiro (MRE e MinDefesa), haja vista o importante momento em que o País atravessa.
Em pleno desenvolvimento de uma mentalidade marítima, identificando e conhecendo um conjunto de valores estratégicos existentes no interior da Amazônia Azul, espaço geográfico e marítimo compreendendo a projeção da soberania brasileira sobre e sob o mar, solo e sub-solo marinho (mais de 50% do território nacional), o Brasil inicia uma nova era de inserção mundial.
Além da questão dos hidrocarbonetos, é na atividade pesqueira que o nosso país também se projetou internacionalmente, em particular na pesca do atum, de alto valor comercial.
A “Comissão internacional para a conservação dos tunídeos do Atlântico” (ICCAT), uma das cinco organizações internacionais especializadas no assunto, já externou a existência de grande massa pesqueira que se desloca permanentemente em grande área marítima da zona econômica exclusiva brasileira.
Por meio das recentes descobertas de gigantescas jazidas de hidrocarbonetos (gás e petróleo) na região sudeste, estima-se que o Brasil possuirá um bilhão de barris de petróleo por ano entre 2013 e 2014.
Esta quantidade projeta o País entre um dos maiores produtores de petróleo do mundo daqui a cinco anos, período próximo no qual o petróleo ainda será considerado a principal fonte de energia, de alto valor estratégico!
E é também sobre os mares que são transportados mais de 95% das trocas comerciais do Brasil, tornando a manutenção das linhas marítimas também um desafio especial para o Estado, a fim garantir a segurança de quem navega pelas águas jurisdicionais brasileiras, atuando no comércio exterior.
Nos estudos estratégicos, a “coincidência” é algo pouco provável e admitida como última hipótese. O Poder Naval norte-americano está presente de forma global.
Dividido por área marítima, a Marinha dos Estados Unidos possui uma esquadra sediada em pontos focais dentro de cada oceano do globo.
Assim sendo, a II Esquadra tinha sob sua responsabilidade o Atlântico Norte até absorver a IV Frota em meados dos anos 50 quando passou a ter presença em todo o Oceano Atlântico.
Agora, com a reativação desta última, novamente este enorme espaço marítimo ficou dividido em duas partes, mas com uma nova característica geoestratégica: o Atlântico Norte com a II Esquadra e o Atlântico Sul, com a IV Esquadra, agora incluindo o Caribe e o espaço marítimo internacional adjacente aos países sul-americanos no Pacífico.
Voltaremos a este ponto a seguir. A III Esquadra atua no Pacífico, desde a costa americana até um espaço marítimo “fluido” adjacente a oeste do Hawai.
A V Esquadra atua no Oceano Índico, com atenção especial ao Golfo Pérsico, Mar Vermelho e o Golfo de Bengala e seus estreitos.
A VI Esquadra está presente no Mar Mediterrâneo como um todo. E a VII Esquadra, sediada no Japão, cobre todos os espaços marítimos do Pacífico nas proximidades daquele país, particularmente os estreitos de alto valor estratégico adjacentes à China e à Rússia.
Uma esquadra da Marinha norte-americana é composta por um conjunto de navios que pode variar de acordo com o propósito de suas diferentes tarefas.
Normalmente nucleada em um porta-aviões com aviação embarcada para proteção à frota (interceptação, ataque, alarme aéreo antecipado, guerra eletrônica, etc.), socorro e salvamento e, principalmente, de capacidade de projeção de poder sobre terra, uma esquadra dessa dimensão tem como principal unidade esse conjunto “porta-aviões + aviação embarcada” como a unidade de maior valor.
Esse conjunto é protegido por navios-escoltas com capacidade de defesa a longa, média e curta distância nas três dimensões (aérea, superfície e anti-submarina), além de navios de apoio logístico (combustível, mantimentos, munição, etc.) e de, no mínimo, dois submarinos nucleares na defesa submarina.
Em consonância com o Direito Internacional, cada piso metálico de uma unidade naval dessa ou daquela esquadra é o próprio solo norte-americano, pelo princípio jurídico do Direito Internacional e praticado pela diplomacia mundial, qual seja a extraterritoriedade, reconhecido internacionalmente.
É mais uma característica exclusiva de um poder naval: ser flexível, de acordo a necessidade, e representar legalmente o Estado de origem da sua bandeira, esteja onde estiver!
É fácil concluir que o governo americano sinaliza ser prioritária a presença norte-americana de forma plena e ostensiva em cada região do mundo por meio do seu Poder Naval, alterando sua intensidade, composição, características e permanência, conforme o nível de interesse nessa ou naquela região.
Assim deve ser interpretada a reativação da IV Esquadra, com sede na Flórida, subordinada ao Comando Sul dos Estados Unidos. E quais seriam dos fatores motivadores que levaram a essa reativação?
É possível identificar um conjunto de fatos na dinâmica das relações internacionais, no hemisfério, compatíveis àquela decisão.
Por exemplo, uma alteração na condução da política externa no que concerne aos crimes transnacionais, particularmente ao tráfico de entorpecentes e de armas.
Especialistas indicam uma nova concepção de arranjo de forças para enfrentar esse tipo de ameaça, não mais no combate seletivo direto, mas sim na garantia da segurança nas linhas marítimas no Caribe por onde passam as rotas de tráfico.
O mesmo se dá na costa latino-americana no Pacífico. Em ambos os casos complementariam as ações em desenvolvimento contidas no “Plano Colômbia”.
Outro fator significativo é a aplicação do conceito de “Guerra baseada em rede” (NCW, na sigla em inglês), concebido pela Universidade de Defesa Nacional (NDU) e estruturado pelo Pentágono dentro dos Comandos Combinados para as quatro Forças Armadas dos Estados Unidos.
Em resumo, é a capacidade estratégica e de logística militar de deslocar os meios necessários, disponíveis de forma global, para atuar em uma determinada região quando necessário.
No caso da IV Esquadra, é a simples alocação permanente de um conjunto de meios para o Comando Sul a fim de aplicá-lo quando, onde e como for necessário, inclusive em apoio direto nas áreas de conflito como, por exemplo, no Golfo Pérsico e no espaço marítimo ocidental do Oceano Índico (Iraque e Afeganistão, respectivamente), junto à V Esquadra.
Respeitáveis analistas políticos brasileiros sinalizam uma outra linha de motivação para o governo norte-americano reativar a IV Frota, decorrente da atual preponderância de líderes e chefes de governo ligados mais a uma ideologia de esquerda ortodoxa, tais como os presidentes da Venezuela, do Equador e da Bolívia, na contramão da história pós-moderna internacional.
O Brasil e o Chile, por meio dos seus atuais presidentes, são vistos no exterior como novos líderes com propósitos elevados de compromisso para com a democracia e o desenvolvimento cooperativo, solidário e socialmente mais eqüitativo.
Independente do real propósito dessa ativação naval, a meu ver o que deve e pode ser mais premente é o Estado brasileiro ter maior atenção à única Instituição permanente que, por meio do Poder Naval, possui como missão “contribuir para a defesa nacional” no ambiente marítimo.
Como expressou o Comandante da Marinha, a Esquadra brasileira não se encontra hoje adequadamente pronta e capaz para cumprir sua missão constitucional, tendo inclusive alertado o Ministro da Defesa e a Opinião Pública sobre tal fragilidade estratégico-militar diante dos debates sobre a reativação da IV Frota dos Estados Unidos.
O principal propósito foi o de novamente provocar o Poder Executivo a transferir os recursos financeiros dos “royalties” do petróleo que faz jus por lei federal, montante retido dentro dos recursos contingenciados para compor o superávit primário das contas públicas nacionais.
Isso é preocupante, pois sem uma Esquadra constituída de meios navais e aeronavais em quantidade e qualidade proporcionais à dimensão geoestratégica do País, pronta e adestrada para fazer frente às ameaças hoje difusas e complexas, o Brasil se torna vulnerável na defesa dos seus interesses no mar por não mais possuir capacidade dissuasória suficiente para evitar “aventuras” por parte de terceiros.
Nossa vasta costa possui regiões onde existe probabilidade de aumento da presença americana nas suas proximidades onde se localizam pontos focais de alto valor estratégico para o Brasil.
Destacam-se a foz do Rio Amazonas, a saliência nordestina, o litoral fluminense, especialmente ao norte, na Bacia de Campos, e ao sul, particularmente a área próxima ao Rio de Janeiro (sede da Esquadra) e à Angra dos Reis (usinas termonucleares), e na Bacia de Santos.
Estados costeiros com grande faixa marítima necessitam, obrigatoriamente, de um Poder Naval capaz de atuar e de se fazer presente em toda dimensão geográfica das suas águas jurisdicionais.
Um País continental como o nosso e também enfrentando seus desafios sociais é a Índia.
Em face das grandes distâncias marítimas envolvidas, recentemente o Poder Político da Índia decidiu criar duas esquadras distintas para que a Marinha indiana adquirisse capacidade de atuar nas duas costas no Oceano Índico, simultaneamente.
No Brasil ocorre o mesmo desafio do extenso espaço marítimo a percorrer, contudo o País de comporta de forma inversa.
O Alto Comando da Marinha, denominado de Almirantado, decidiu pela desativação gradual de navios da Esquadra que se encontram próximos do limite aceitável de operação, devido à baixa confiabilidade de seus sistemas e equipamentos causados pela obsolescência já alcançada há anos.
São unidades empregadas como escolta a outros meios de alto valor estratégico como o porta-aviões, navios-tanque, navios anfíbios, etc., e excelentes meios de apoio às ações de fiscalização realizadas por navios-patrulha de menor porte nesses mesmos pontos focais.
A redução de navios e aeronaves só compromete mais a fragilidade da nossa Esquadra.
Mesmo que houvesse uma decisão política para a construção de novas unidades para a Marinha, a partir do momento da disponibilidade financeira até a entrega do navio, o período de tempo é extenso, de dois a oito anos, dependendo do tipo, dimensão e configuração interna do navio.
A “janela de tempo” de vulnerabilidade é longa demais para permanecer com uma Esquadra composta por essa moldura reduzida de navios.
Para superar tal lacuna, existe a opção de buscar a aquisição de “meios de oportunidade” no exterior.
São navios usados de marinhas de primeira grandeza naval, em bom estado de uso, mas não mais compatíveis com as necessidades daquele Poder Naval estrangeiro.
Vale registrar que esta opção nem sempre está disponível no momento em que comprador decide por implementá-la!
Por fim resta a seguinte reflexão: vale a pena o Brasil se preocupar prioritariamente com a reativação da IV Esquadra norte-americana ao invés de deixar de lado os graves e crescentes problemas operacionais e logísticos existentes na única Esquadra que a Marinha do Brasil possui para que o Estado brasileiro seja capaz de se fazer presente no mar de forma convincentemente dissuasória?
Roberto Carvalho de Medeiros, CMG (Ref.), professor universitário
domingo, agosto 03, 2008
354) Custos de transportes freiam globalizacao...
O ex-correspondente do NYT no Brasil confirma que os custos de transpostes, em diminuição ha 150 anos, pelo menos, e responsáveis por muitos dos avanços na globalização, agora contribuem para frear o impeto da integração econômica mundial.
Tudo isso é muito logico, do ponto de vista capitalista, obviamente.
Como indica um estudo, "the recent surge in shipping costs is on average the equivalent of a 9 percent tariff on trade".
-------------
Paulo Roberto de Almeida
Shipping Costs Start to Crimp Globalization
By LARRY ROHTER
The New York Times, August 3, 2008
When Tesla Motors, a pioneer in electric-powered cars, set out to make a luxury roadster for the American market, it had the global supply chain in mind. Tesla planned to manufacture 1,000-pound battery packs in Thailand, ship them to Britain for installation, then bring the mostly assembled cars back to the United States.
But when it began production this spring, the company decided to make the batteries and assemble the cars near its home base in California, cutting more than 5,000 miles from the shipping bill for each vehicle.
“It was kind of a no-brain decision for us,” said Darryl Siry, the company’s senior vice president of global sales, marketing and service. “A major reason was to avoid the transportation costs, which are terrible.”
The world economy has become so integrated that shoppers find relatively few T-shirts and sneakers in Wal-Mart and Target carrying a “Made in the U.S.A.” label. But globalization may be losing some of the inexorable economic power it had for much of the past quarter-century, even as it faces fresh challenges as a political ideology.
Cheap oil, the lubricant of quick, inexpensive transportation links across the world, may not return anytime soon, upsetting the logic of diffuse global supply chains that treat geography as a footnote in the pursuit of lower wages. Rising concern about global warming, the reaction against lost jobs in rich countries, worries about food safety and security, and the collapse of world trade talks in Geneva last week also signal that political and environmental concerns may make the calculus of globalization far more complex.
“If we think about the Wal-Mart model, it is incredibly fuel-intensive at every stage, and at every one of those stages we are now seeing an inflation of the costs for boats, trucks, cars,” said Naomi Klein, the author of “The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism.”
“That is necessarily leading to a rethinking of this emissions-intensive model, whether the increased interest in growing foods locally, producing locally or shopping locally, and I think that’s great.”
Many economists argue that globalization will not shift into reverse even if oil prices continue their rising trend. But many see evidence that companies looking to keep prices low will have to move some production closer to consumers. Globe-spanning supply chains — Brazilian iron ore turned into Chinese steel used to make washing machines shipped to Long Beach, Calif., and then trucked to appliance stores in Chicago — make less sense today than they did a few years ago.
To avoid having to ship all its products from abroad, the Swedish furniture manufacturer Ikea opened its first factory in the United States in May. Some electronics companies that left Mexico in recent years for the lower wages in China are now returning to Mexico, because they can lower costs by trucking their output overland to American consumers.
Neighborhood Effect
Decisions like those suggest that what some economists call a neighborhood effect — putting factories closer to components suppliers and to consumers, to reduce transportation costs — could grow in importance if oil remains expensive. A barrel sold for $125 on Friday, compared with lows of $10 a decade ago.
“If prices stay at these levels, that could lead to some significant rearrangement of production, among sectors and countries,” said C. Fred Bergsten, author of “The United States and the World Economy” and director of the Peter G. Peterson Institute for International Economics, in Washington. “You could have a very significant shock to traditional consumption patterns and also some important growth effects.”
The cost of shipping a 40-foot container from Shanghai to the United States has risen to $8,000, compared with $3,000 early in the decade, according to a recent study of transportation costs. Big container ships, the pack mules of the 21st-century economy, have shaved their top speed by nearly 20 percent to save on fuel costs, substantially slowing shipping times.
The study, published in May by the Canadian investment bank CIBC World Markets, calculates that the recent surge in shipping costs is on average the equivalent of a 9 percent tariff on trade. “The cost of moving goods, not the cost of tariffs, is the largest barrier to global trade today,” the report concluded, and as a result “has effectively offset all the trade liberalization efforts of the last three decades.”
The spike in shipping costs comes at a moment when concern about the environmental impact of globalization is also growing. Many companies have in recent years shifted production from countries with greater energy efficiency and more rigorous standards on carbon emissions, especially in Europe, to those that are more lax, like China and India.
But if the international community fulfills its pledge to negotiate a successor to the Kyoto Protocol to combat climate change, even China and India would have to reduce the growth of their emissions, and the relative costs of production in countries that use energy inefficiently could grow.
The political landscape may also be changing. Dissatisfaction with globalization has led to the election of governments in Latin America hostile to the process. A somewhat similar reaction can be seen in the United States, where both Senators Barack Obama and Hillary Rodham Clinton promised during the Democratic primary season to “re-evaluate” the nation’s existing free trade agreements.
Last week, efforts to complete what is known as the Doha round of trade talks collapsed in acrimony, dealing a serious blow to tariff reduction. The negotiations, begun in 2001, failed after China and India battled the United States over agricultural tariffs, with the two developing countries insisting on broad rights to protect themselves against surges of food imports that could hurt their farmers.
Some critics of globalization are encouraged by those developments, which they see as a welcome check on the process. On environmentalist blogs, some are even gleefully promoting a “globalization death watch.”
Many leading economists say such predictions are probably overblown. “It would be a mistake, a misinterpretation, to think that a huge rollback or reversal of fundamental trends is under way,” said Jeffrey D. Sachs, director of the Earth Institute at Columbia University. “Distance and trade costs do matter, but we are still in a globalized era.”
As economists and business executives well know, shipping costs are only one factor in determining the flow of international trade. When companies decide where to invest in a new factory or from whom to buy a product, they also take into account exchange rates, consumer confidence, labor costs, government regulations and the availability of skilled managers.
‘People Were Profligate’
What may be coming to an end are price-driven oddities like chicken and fish crossing the ocean from the Western Hemisphere to be filleted and packaged in Asia not to be consumed there, but to be shipped back across the Pacific again. “Because of low costs, people were profligate,” said Nayan Chanda, author of “Bound Together,” a history of globalization.
The industries most likely to be affected by the sharp rise in transportation costs are those producing heavy or bulky goods that are particularly expensive to ship relative to their sale price. Steel is an example. China’s steel exports to the United States are now tumbling by more than 20 percent on a year-over-year basis, their worst performance in a decade, while American steel production has been rising after years of decline. Motors and machinery of all types, car parts, industrial presses, refrigerators, television sets and other home appliances could also be affected.
Plants in industries that require relatively less investment in infrastructure, like furniture, footwear and toys, are already showing signs of mobility as shipping costs rise.
Until recently, standard practice in the furniture industry was to ship American timber from ports like Norfolk, Baltimore and Charleston to China, where oak and cherry would be milled into sofas, beds, tables, cabinets and chairs, which were then shipped back to the United States.
But with transportation costs rising, more wood is now going to traditional domestic furniture-making centers in North Carolina and Virginia, where the industry had all but been wiped out. While the opening of the American Ikea plant, in Danville, Va., a traditional furniture-producing center hit hard by the outsourcing of production to Asia, is perhaps most emblematic of such changes, other manufacturers are also shifting some production back to the United States.
Among them is Craftmaster Furniture, a company founded in North Carolina but now Chinese-owned. And at an industry fair in April, La-Z-Boy announced a new line that will begin production in North Carolina this month.
“There’s just a handful of us left, but it has become easier for us domestic folks to compete,” said Steven Kincaid of Kincaid Furniture in Hudson, N.C., a division of La-Z-Boy.
Avocado Salad in January
Soaring transportation costs also have an impact on food, from bananas to salmon. Higher shipping rates could eventually transform some items now found in the typical middle-class pantry into luxuries and further promote the so-called local food movement popular in many American and European cities.
“This is not just about steel, but also maple syrup and avocados and blueberries at the grocery store,” shipped from places like Chile and South Africa, said Jeff Rubin, chief economist at CIBC World Markets and co-author of its recent study on transport costs and globalization. “Avocado salad in Minneapolis in January is just not going to work in this new world, because flying it in is going to make it cost as much as a rib eye.”
Global companies like General Electric, DuPont, Alcoa and Procter & Gamble are beginning to respond to the simultaneous increases in shipping and environmental costs with green policies meant to reduce both fuel consumption and carbon emissions. That pressure is likely to increase as both manufacturers and retailers seek ways to tighten the global supply chain.
“Being green is in their best interests not so much in making money as saving money,” said Gary Yohe, an environmental economist at Wesleyan University. “Green companies are likely to be a permanent trend, as these vulnerabilities continue, but it’s going to take a long time for all this to settle down.”
In addition, the sharp increase in transportation costs has implications for the “just-in-time” system pioneered in Japan and later adopted the world over. It is a highly profitable business strategy aimed at reducing warehousing and inventory costs by arranging for raw materials and other supplies to arrive only when needed, and not before.
Jeffrey E. Garten, the author of “World View: Global Strategies for the New Economy” and a former dean of the Yale School of Management, said that companies “cannot take a risk that the just-in-time system won’t function, because the whole global trading system is based on that notion.” As a result, he said, “they are going to have to have redundancies in the supply chain, like more warehousing and multiple sources of supply and even production.”
One likely outcome if transportation rates stay high, economists said, would be a strengthening of the neighborhood effect. Instead of seeking supplies wherever they can be bought most cheaply, regardless of location, and outsourcing the assembly of products all over the world, manufacturers would instead concentrate on performing those activities as close to home as possible.
In a more regionalized trading world, economists say, China would probably end up buying more of the iron ore it needs from Australia and less from Brazil, and farming out an even greater proportion of its manufacturing work to places like Vietnam and Thailand. Similarly, Mexico’s maquiladora sector, the assembly plants concentrated near its border with the United States, would become more attractive to manufacturers with an eye on the American market.
But a trend toward regionalization would not necessarily benefit the United States, economists caution. Not only has it lost some of its manufacturing base and skills over the past quarter-century, and experienced a decline in consumer confidence as part of the current slowdown, but it is also far from the economies that have become the most dynamic in the world, those of Asia.
“Despite everything, the American economy is still the biggest Rottweiler on the block,” said Jagdish N. Bhagwati, the author of “In Defense of Globalization” and a professor of economics at Columbia. “But if it’s expensive to get products from there to here, it’s also expensive to get them from here to there.”
Tudo isso é muito logico, do ponto de vista capitalista, obviamente.
Como indica um estudo, "the recent surge in shipping costs is on average the equivalent of a 9 percent tariff on trade".
-------------
Paulo Roberto de Almeida
Shipping Costs Start to Crimp Globalization
By LARRY ROHTER
The New York Times, August 3, 2008
When Tesla Motors, a pioneer in electric-powered cars, set out to make a luxury roadster for the American market, it had the global supply chain in mind. Tesla planned to manufacture 1,000-pound battery packs in Thailand, ship them to Britain for installation, then bring the mostly assembled cars back to the United States.
But when it began production this spring, the company decided to make the batteries and assemble the cars near its home base in California, cutting more than 5,000 miles from the shipping bill for each vehicle.
“It was kind of a no-brain decision for us,” said Darryl Siry, the company’s senior vice president of global sales, marketing and service. “A major reason was to avoid the transportation costs, which are terrible.”
The world economy has become so integrated that shoppers find relatively few T-shirts and sneakers in Wal-Mart and Target carrying a “Made in the U.S.A.” label. But globalization may be losing some of the inexorable economic power it had for much of the past quarter-century, even as it faces fresh challenges as a political ideology.
Cheap oil, the lubricant of quick, inexpensive transportation links across the world, may not return anytime soon, upsetting the logic of diffuse global supply chains that treat geography as a footnote in the pursuit of lower wages. Rising concern about global warming, the reaction against lost jobs in rich countries, worries about food safety and security, and the collapse of world trade talks in Geneva last week also signal that political and environmental concerns may make the calculus of globalization far more complex.
“If we think about the Wal-Mart model, it is incredibly fuel-intensive at every stage, and at every one of those stages we are now seeing an inflation of the costs for boats, trucks, cars,” said Naomi Klein, the author of “The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism.”
“That is necessarily leading to a rethinking of this emissions-intensive model, whether the increased interest in growing foods locally, producing locally or shopping locally, and I think that’s great.”
Many economists argue that globalization will not shift into reverse even if oil prices continue their rising trend. But many see evidence that companies looking to keep prices low will have to move some production closer to consumers. Globe-spanning supply chains — Brazilian iron ore turned into Chinese steel used to make washing machines shipped to Long Beach, Calif., and then trucked to appliance stores in Chicago — make less sense today than they did a few years ago.
To avoid having to ship all its products from abroad, the Swedish furniture manufacturer Ikea opened its first factory in the United States in May. Some electronics companies that left Mexico in recent years for the lower wages in China are now returning to Mexico, because they can lower costs by trucking their output overland to American consumers.
Neighborhood Effect
Decisions like those suggest that what some economists call a neighborhood effect — putting factories closer to components suppliers and to consumers, to reduce transportation costs — could grow in importance if oil remains expensive. A barrel sold for $125 on Friday, compared with lows of $10 a decade ago.
“If prices stay at these levels, that could lead to some significant rearrangement of production, among sectors and countries,” said C. Fred Bergsten, author of “The United States and the World Economy” and director of the Peter G. Peterson Institute for International Economics, in Washington. “You could have a very significant shock to traditional consumption patterns and also some important growth effects.”
The cost of shipping a 40-foot container from Shanghai to the United States has risen to $8,000, compared with $3,000 early in the decade, according to a recent study of transportation costs. Big container ships, the pack mules of the 21st-century economy, have shaved their top speed by nearly 20 percent to save on fuel costs, substantially slowing shipping times.
The study, published in May by the Canadian investment bank CIBC World Markets, calculates that the recent surge in shipping costs is on average the equivalent of a 9 percent tariff on trade. “The cost of moving goods, not the cost of tariffs, is the largest barrier to global trade today,” the report concluded, and as a result “has effectively offset all the trade liberalization efforts of the last three decades.”
The spike in shipping costs comes at a moment when concern about the environmental impact of globalization is also growing. Many companies have in recent years shifted production from countries with greater energy efficiency and more rigorous standards on carbon emissions, especially in Europe, to those that are more lax, like China and India.
But if the international community fulfills its pledge to negotiate a successor to the Kyoto Protocol to combat climate change, even China and India would have to reduce the growth of their emissions, and the relative costs of production in countries that use energy inefficiently could grow.
The political landscape may also be changing. Dissatisfaction with globalization has led to the election of governments in Latin America hostile to the process. A somewhat similar reaction can be seen in the United States, where both Senators Barack Obama and Hillary Rodham Clinton promised during the Democratic primary season to “re-evaluate” the nation’s existing free trade agreements.
Last week, efforts to complete what is known as the Doha round of trade talks collapsed in acrimony, dealing a serious blow to tariff reduction. The negotiations, begun in 2001, failed after China and India battled the United States over agricultural tariffs, with the two developing countries insisting on broad rights to protect themselves against surges of food imports that could hurt their farmers.
Some critics of globalization are encouraged by those developments, which they see as a welcome check on the process. On environmentalist blogs, some are even gleefully promoting a “globalization death watch.”
Many leading economists say such predictions are probably overblown. “It would be a mistake, a misinterpretation, to think that a huge rollback or reversal of fundamental trends is under way,” said Jeffrey D. Sachs, director of the Earth Institute at Columbia University. “Distance and trade costs do matter, but we are still in a globalized era.”
As economists and business executives well know, shipping costs are only one factor in determining the flow of international trade. When companies decide where to invest in a new factory or from whom to buy a product, they also take into account exchange rates, consumer confidence, labor costs, government regulations and the availability of skilled managers.
‘People Were Profligate’
What may be coming to an end are price-driven oddities like chicken and fish crossing the ocean from the Western Hemisphere to be filleted and packaged in Asia not to be consumed there, but to be shipped back across the Pacific again. “Because of low costs, people were profligate,” said Nayan Chanda, author of “Bound Together,” a history of globalization.
The industries most likely to be affected by the sharp rise in transportation costs are those producing heavy or bulky goods that are particularly expensive to ship relative to their sale price. Steel is an example. China’s steel exports to the United States are now tumbling by more than 20 percent on a year-over-year basis, their worst performance in a decade, while American steel production has been rising after years of decline. Motors and machinery of all types, car parts, industrial presses, refrigerators, television sets and other home appliances could also be affected.
Plants in industries that require relatively less investment in infrastructure, like furniture, footwear and toys, are already showing signs of mobility as shipping costs rise.
Until recently, standard practice in the furniture industry was to ship American timber from ports like Norfolk, Baltimore and Charleston to China, where oak and cherry would be milled into sofas, beds, tables, cabinets and chairs, which were then shipped back to the United States.
But with transportation costs rising, more wood is now going to traditional domestic furniture-making centers in North Carolina and Virginia, where the industry had all but been wiped out. While the opening of the American Ikea plant, in Danville, Va., a traditional furniture-producing center hit hard by the outsourcing of production to Asia, is perhaps most emblematic of such changes, other manufacturers are also shifting some production back to the United States.
Among them is Craftmaster Furniture, a company founded in North Carolina but now Chinese-owned. And at an industry fair in April, La-Z-Boy announced a new line that will begin production in North Carolina this month.
“There’s just a handful of us left, but it has become easier for us domestic folks to compete,” said Steven Kincaid of Kincaid Furniture in Hudson, N.C., a division of La-Z-Boy.
Avocado Salad in January
Soaring transportation costs also have an impact on food, from bananas to salmon. Higher shipping rates could eventually transform some items now found in the typical middle-class pantry into luxuries and further promote the so-called local food movement popular in many American and European cities.
“This is not just about steel, but also maple syrup and avocados and blueberries at the grocery store,” shipped from places like Chile and South Africa, said Jeff Rubin, chief economist at CIBC World Markets and co-author of its recent study on transport costs and globalization. “Avocado salad in Minneapolis in January is just not going to work in this new world, because flying it in is going to make it cost as much as a rib eye.”
Global companies like General Electric, DuPont, Alcoa and Procter & Gamble are beginning to respond to the simultaneous increases in shipping and environmental costs with green policies meant to reduce both fuel consumption and carbon emissions. That pressure is likely to increase as both manufacturers and retailers seek ways to tighten the global supply chain.
“Being green is in their best interests not so much in making money as saving money,” said Gary Yohe, an environmental economist at Wesleyan University. “Green companies are likely to be a permanent trend, as these vulnerabilities continue, but it’s going to take a long time for all this to settle down.”
In addition, the sharp increase in transportation costs has implications for the “just-in-time” system pioneered in Japan and later adopted the world over. It is a highly profitable business strategy aimed at reducing warehousing and inventory costs by arranging for raw materials and other supplies to arrive only when needed, and not before.
Jeffrey E. Garten, the author of “World View: Global Strategies for the New Economy” and a former dean of the Yale School of Management, said that companies “cannot take a risk that the just-in-time system won’t function, because the whole global trading system is based on that notion.” As a result, he said, “they are going to have to have redundancies in the supply chain, like more warehousing and multiple sources of supply and even production.”
One likely outcome if transportation rates stay high, economists said, would be a strengthening of the neighborhood effect. Instead of seeking supplies wherever they can be bought most cheaply, regardless of location, and outsourcing the assembly of products all over the world, manufacturers would instead concentrate on performing those activities as close to home as possible.
In a more regionalized trading world, economists say, China would probably end up buying more of the iron ore it needs from Australia and less from Brazil, and farming out an even greater proportion of its manufacturing work to places like Vietnam and Thailand. Similarly, Mexico’s maquiladora sector, the assembly plants concentrated near its border with the United States, would become more attractive to manufacturers with an eye on the American market.
But a trend toward regionalization would not necessarily benefit the United States, economists caution. Not only has it lost some of its manufacturing base and skills over the past quarter-century, and experienced a decline in consumer confidence as part of the current slowdown, but it is also far from the economies that have become the most dynamic in the world, those of Asia.
“Despite everything, the American economy is still the biggest Rottweiler on the block,” said Jagdish N. Bhagwati, the author of “In Defense of Globalization” and a professor of economics at Columbia. “But if it’s expensive to get products from there to here, it’s also expensive to get them from here to there.”