domingo, janeiro 15, 2006

34) De volta ao Império americano: escaramuças na periferia


Em relação às controvérsias suscitadas pelo mais recente livro do professor Moniz Bandeira, Formação do Império americano, já tive a oportunidade de colocar as primeiras peças do dossiê: uma resenha favorável, outra contra, uma entrevista com o próprio autor, e depois a controvérsia criada por ele contra o editor da revista Primeira Leitura a propósito de seu pedido de "resposta" nessa revista contra a resenha crítica do professor Roberto Romano e sua ameaça de recorrer a processo judicial contra a revista e seus editores se tal não ocorresse.
Todos esses elementos encontram-se em meu Blog principal e no auxiliar, respectivamente nos seguintes links:
Critica favorável e contrária: http://textospra.blogspot.com/2006/01/31-o-imprio-americano-favor-ou-contra.html#links
Controvérsia suscitada pelo professor Moniz Bandeira: http://textospra.blogspot.com/2006/01/32-o-imprio-americano-agora-nos.html#links
Resumo do debate em meu blog principal: http://paulomre.blogspot.com/2006/01/158-o-imprio-americano-do-livro-para.html


Pretendo agora colocar mais duas peças do dossiê.
Em primeiro lugar a entrevista que o professor Moniz Bandeira concedeu ao site do PT, disponível neste link (http://www.pt.org.br/site/noticias/noticias_int.asp?cod=40845) e transcrita abaixo.

Em post subsequente neste mesmo Blog vou colocar a resposta do jornalista Reinaldo Azevedo, disponível no site da revista Primeira Leitura (http://www.primeiraleitura.com.br/auto/entenda.php?id=6872).

Primeiro tem a palavra o professor Moniz Bandeira, que acusa seus detratores de agentes da CIA.
Ele diz, textualmente, a esse respeito:
"A única manifestação contrária ao livro, até agora, foi a de um elemento de direita, que escreveu um artigo sob encomenda de um grupo que possivelmente serve como instrumento da black propaganda da CIA (agência de inteligência dos EUA). Não o conhecia, sequer de nome, até recentemente. Soube que é professor de ética, mas logo percebi que não tem a ética de professor, ao aventurar-se a falar sobre um tema de história e de relações internacionais que nunca pesquisou, nunca estudou, que não é de sua área de trabalho. Falseou o conteúdo de “Formação do Império Americano”, inventou afirmações e conceitos que não existem na obra, simplesmente para atacá-la e a mim, da maneira mais irresponsável, imprópria para um acadêmico sério. Não sei se esse homem ganhou, o que ganhou ou quanto ganhou para escrever o artigo. Mas o fato foi que o escreveu sob encomenda, conforme o próprio diretor da revista confessou na introdução da matéria. Houve dolo, tanto desse escriba de aluguel quanto da revista, ao cometerem os delitos de injúria e na difamação."


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12/01/2006 - Depois de 100 anos, império americano começa a declinar, diz Moniz Bandeira em livro
Site do PT, acesso em 15 de janeiro de 2006
Link: http://www.pt.org.br/site/noticias/noticias_int.asp?cod=40845

Estudioso das relações entre os Estados Unidos e o Brasil, Luiz Alberto Moniz Bandeira, professor titular de política exterior na Universidade de Brasília (aposentado), acaba de lançar um livro em que faz uma análise da trajetória e dos mecanismos que fizeram, em pouco mais de 100 anos, os Estados Unidos se transformarem na maior potência de todos os tempos.

"Formação do Império Americano — da guerra contra a Espanha à guerra do Iraque" já está em segundo lugar nas vendas da Editora Record. O livro também analisa os Estados Unidos de George W. Bush e defende que o império está em decadência nas mãos do atual presidente. Moniz diz que a atual administração é degradante e que a intervenção no Iraque é ilegal. Com uma vasta pesquisa documental, procura comprovar que foi a geopolítica do petróleo, e não as armas de destruição em massa, o fator decisivo para a invasão do país.

“Com suas tropas chafurdadas no Iraque, George W. Bush e os neo-conservadores não têm condições de executar todo o Projeto para o Novo Século Americano, atacar a Síria e o Irã e outros países no Oriente Médio, a pretexto de implantar a democracia. Mais uma vez o poderio militar dos americanos mostra-se inútil, como aconteceu no Vietnã”, afirma Bandeira em entrevista, por e-mail, ao Portal do PT, da Alemanha, onde está radicado há dez anos. (Clique aqui para ler resenha publicada no jornal O Globo em 24/12).

Leia a entrevista:

Como foi recebido seu mais recente livro Formação do Império Americano, que mostra as mazelas do Estado norte-americano?

“Formação do Império Americano” tem sido bem recebido por pessoas tanto de esquerda quanto do centro e de direita, enfim, pelas pessoas isentas, que pensam e vêem a seriedade da obra. É um obra de caráter acadêmico, fundamentada em vasta pesquisa. Está em segundo lugar nas vendas da Editora Record, suplantada apenas pelo livro de Antônio Maria, que é de humor e mais barato. Evidentemente, o que a obra demonstra — a realidade que apresenta — não agrada a muita gente, pois faço uma análise estrutural do Império Americano, em sua dimensão histórica, da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque. A única manifestação contrária ao livro, até agora, foi a de um elemento de direita, que escreveu um artigo sob encomenda de um grupo que possivelmente serve como instrumento da black propaganda da CIA (agência de inteligência dos EUA). Não o conhecia, sequer de nome, até recentemente. Soube que é professor de ética, mas logo percebi que não tem a ética de professor, ao aventurar-se a falar sobre um tema de história e de relações internacionais que nunca pesquisou, nunca estudou, que não é de sua área de trabalho. Falseou o conteúdo de “Formação do Império Americano”, inventou afirmações e conceitos que não existem na obra, simplesmente para atacá-la e a mim, da maneira mais irresponsável, imprópria para um acadêmico sério. Não sei se esse homem ganhou, o que ganhou ou quanto ganhou para escrever o artigo. Mas o fato foi que o escreveu sob encomenda, conforme o próprio diretor da revista confessou na introdução da matéria. Houve dolo, tanto desse escriba de aluguel quanto da revista, ao cometerem os delitos de injúria e na difamação.

O que devemos esperar da política exterior norte-americana nos próximos anos?

A crise, tanto econômica quanto política e moral, que ameaça os Estados Unidos, só tende a agravar-se no correr dos próximos anos. Muitos políticos americanos, inclusive do Partido Republicano, já admitem publicamente que é impossível vencer a guerra no Afeganistão e no Iraque. É cada vez maior o clamor pela retirada das tropas do Iraque. O ex-assessor de segurança no governo de Jimmy Carter (1977-1981), Zbigniew Brzezinski, declarou que Washington deve “morder a bala” (bite the bullet), isto é, enfrentar o problema e retirar “rapidamente”, no mais tardar até o fim de 2006, as tropas do Iraque (já morreram mais de 2.100 e mais de 15 mil ficaram feridos). Só na primeira semana de janeiro de 2006, os Estados Unidos no Iraque sofreram 30 baixas. Com suas tropas chafurdadas no Iraque, George W. Bush e os neo-conservadores não têm condições de executar todo o Projeto para o Novo Século Americano, atacar a Síria e o Irã e outros países no Oriente Médio, a pretexto de implantar a democracia. Mais uma vez o poderio militar dos americanos mostra-se inútil, como aconteceu no Vietnã. Embora tudo possa destruir, não pode ganhar a paz, o que significa que não pode vencer a guerra. Os custos financeiros da guerra no Afeganistão e no Iraque igualmente se tornam cada vez mais elevados. Até quando os Estados Unidos agüentarão tal hemorragia de recursos?

Qual deve ser, na sua opinião, a estratégia de um país como o Brasil frente aos Estados Unidos?

Há contradição de interesses e de objetivos entre o Brasil e os Estados Unidos. São duas massas de enormes dimensões territoriais, com grandes contingentes populacionais e, apesar da grande assimetria, as duas maiores potências econômicas do hemisfério. Esse mesmo dado cartográfico, conforme destacou João Augusto de Araújo Castro, ex-embaixador do Brasil em Washington, gera, porém, a necessidade de cooperação entre os dois países, que necessitam manter laços estreitos. Daí a ambivalência – amor e ódio - que caracterizou as suas relações desde o século XIX. O Brasil, como potência industrial emergente, em desenvolvimento, deve reservar inteiramente para si próprio a definição de seus interesses nacionais, defender sua autonomia, e lutar para mudar a rígida estrutura de poder e riqueza, que domina as relações internacionais. O Brasil evidentemente deve manter um bom relacionamento com os Estados Unidos, da mesma forma que os Estados Unidos precisam manter um bom relacionamento com o Brasil.

Nós temos ou podemos conseguir aliados na sociedade norte-americana?

A sociedade americana é muito complexa, rica em contradições. Há muitos setores nos Estados Unidos que percebem os problemas da América Latina e os erros da política de Washington. As melhores obras contra a política exterior dos Estados Unidos com respeito à Guatemala, Cuba e outros países da América Latina foram escritas por acadêmicos americanos. Nos Estados Unidos, há um número maior de obras, de caráter acadêmico, criticando a participação americana no golpe militar de 1964, do que no Brasil. Combater a política internacional dos Estados Unidos não significa ser contra o povo americano, que como todos os povos têm virtudes e defeitos. Há inúmeros acadêmicos norte-americanos que fazem as mesmas críticas que eu à política internacional dos Estados Unidos. Tenho muitos amigos nas universidades americanas. E “Formação do Império Americano” foi exatamente prefaciado por Jan K. Black, politóloga norte-americana do Institute of International Studies, de Monterey, na Califórnia.

Qual a avaliação que o sr. faz da política externa do governo Lula?

A política exterior do presidente Lula, executada pelo Itamaraty sob a gestão do Chanceler Celso Amorim, é uma política que se caracteriza pela defesa do interesse nacional e o Brasil não se curva ante as grandes potências, que querem a qualquer custo impor seus interesses como ocorre na OMC. O presidente Lula está assessorado pelo professor Marco Aurélio Garcia, homem muito competente, que possui vasto conhecimento da política internacional e dos problemas do Brasil nas suas relações exteriores. O Brasil tem obtido grandes vitórias. A Alca era nociva aos interesses do país bem como do Mercosul, e o Brasil, aliado à Argentina, conseguiu frustrá-la. Não era possível aceitar a participação dos Estados Unidos nas compras governamentais — o que liquidaria a indústria brasileira de bens de capital —, transferir do judiciário nacional para a arbitragem internacional qualquer litígio entre uma empresa americana e o Estados brasileiro; em suma, uma série de regras que só beneficiavam os investimentos americanos. Também o mesmo problema ocorreu na OMC. Os Estados Unidos e a União Européia querem que o Brasil e os países do Mercosul abram diversos setores aos seus investimentos, mas mantêm os subsídios agrícolas. Essa resistência na defesa dos interesses do Brasil é que suscita a campanha contra o Itamaraty, desencadeada através de uma parte da mídia, possivelmente encorajada por pessoas que a CIA instrumentaliza para promover a black propaganda, a guerra psicológica. Não se trata de ver fantasma, mas de saber que os Estados Unidos fazem avançar seus interesses através de todas as suas agências, sobretudo das de inteligência, que espionam as comunicações, plantam notícias na imprensa. Não é inocentemente que diversos órgãos da imprensa publicam notas com o mesmo teor, na mesma linha de ataque, atacando o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que é um dos mais lúcidos pensadores do Brasil contemporâneo, e procurando apresentar a política exterior do Brasil como estando a sofrer derrotas. Derrotas estão a sofrer os que querem baixar a cabeça ante os Estados Unidos. E é preciso ressaltar que a questão de um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança não foi criada pelo governo de Lula, mas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, que chegou a subscrever o Tratado de Não-Proliferação das Armas Nucleares, um tratado discriminatório, a fim de contentar os Estados Unidos.

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(Segue, em post subsequente, a resposta do editor da revista Primeira Leitura)

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