sábado, março 17, 2007

193) Zeitgeist: o espirito dos tempos

Sem qualquer pretensão a explicar o que anda acontecendo no Brasil, apenas transcrevo os materiais abaixo (recebidos, como tantos outros, pela internet, de fontes aparentemente idôneas), sobre o que anda acontecendo no Brasil de hoje, sem nenhum tipo de comentário.
PRA, 17/03/2007.

COMO EU SOU BOBO
Eduardo Bohrer*

Acabei de ler o artigo "Valeu a pena", de Christina Fontenelle e fiquei a pensar: "Como eu sou bobo. Como eu me deixei enrolar por esse camarada."
Talvez por ser distraído, por não ser suficientemente atento ou até mesmo (a opção mais provável) por deficiência intelectual e cognitiva... ou todas essas opções juntas.
O fato é que passei batido durante muito tempo. Ouvia os comentários desse sujeito na Globo e não me dava conta de que ele não dizia nada, não era assertivo, ficava enrolando, recontava o óbvio. Seus "comentários" de comentários não tinham nada. Eram mais do tipo "não me comprometa", bordão do personagem de um antigo programa humorístico da TV.
E aí seguia eu, provavelmente como mais milhões de telespectadores brasileiros, na pretensiosa ilusão de que era um cidadão "bem informado", sendo enganado e enrolado por um comentarista que não comentava nada.
Sou obrigado a tirar o chapéu, o sujeito é mesmo um baita de um artista, melhor do que muito ator de novela da mesma emissora.
Só fui me dar conta de como eu estava sendo burro e pretensioso quando o (sempre brilhante) Diogo Mainardi escreveu uma coluna para a Veja elertando para esse espetacular talento do doublé de jornalista e ator.
Confesso que foi com raiva de mim mesmo que, a partir daquele dia, ABSOLUTAMENTE EM TODOS os comentários do nosso novo superministro (só não vou compará-lo a Goebbels porque ele pode querer me processar e eu não tenho dinheiro para pagar advogado), repito, EM TODOS os seus comentários, percebi como era óbvio que ele não comentava nada. Estava sempre passando panos quentes nosa crimes cometidos por agentes e aliados do governo que ele não queria criticar de forma alguma.
Seus comentários eram inóquos, não cheiravam nem fediam. Mais uma vez, talvez para tentar ser indulgente com a minha burrice, louvo o talento de ator do tal jornalista. Agradeço ao Mainardi por ter me alertado.
Quando o Sr. Martins foi dispensado da Globo (até hoje ninguém me contou por que) e foi para a Bandeirantes, que agora pertence mais ao Lulionha do que aos Saad, comecei a entender melhor as coisas.
Com sua nomeação para Superministro da Comunicação (ah, se não fosse o medo do processo... não dá para não pensar em Goebbels) o círculo se fecha. Até um ingênuo, distraído e burrinho como eu é capaz de entender direitinho como isso acontece.
Mas tudo bem. No Brasil quase não existe TV. Pouquíssimas casas têm aparelho de TV, quase não há emissora nenhuma, realmente é necessário que o amoroso e benevolente governo supra essa lacuna enorme. Então, que se gaste o nosso dinheiro na tal TV do Executivo. Tam muito jornalista competente como o Sr. Franklin Martins precisando de emprego.
Podemos ficar descansados, o governo já avisou que a TV será democrática e poderá até mesmo criticar o governo, DESDE QUE A CRÍTICA SEJA CORRETA, naturalmente.
Ah, como eu sou bobo...

Eduardo Belmonte de Athayde Bohrer, 56, Consultor Organizacional e Professor, mora em Brasília - DF
é autorizada a reprodução, desde que o texto não seja alterado e que seja mantida a identificação do autor.

A seguir, o artigo da Christina Fontenelle que inspirou o desabafo.

VALEU A PENA
Christina Fontenelle

Eu não conheço pessoalmente o jornalista Franklin Martins. Tudo que sei sobre ele é o que sai na mídia e o que na mesma o vejo fazer, dizer e escrever. E é com base no que leio e vejo que, pelo menos para mim, ele está muito mais para militante partidário do que para jornalista – o que, em minha opinião, são ocupações antagônicas, por motivos éticos óbvios. Diga-se de passagem e faça-se justiça, Franklin não é o único. Não que uma pessoa com formação jornalística não possa ser um militante de carteirinha. Pode e, se achar que deve, deve mesmo. O problema é deixar isso bem claro. Como? Há mil e uma maneiras, mas, um bom começo, é não exercer o cargo de comentarista político em mídias que dizem estar fazendo jornalismo e não militância. Fazer parte da assessoria de imprensa de um partido pode, por exemplo. Mas, isso não é nem revolucionário nem gramsciniano, é?

O pai de FM, Mario Martins, foi jornalista e político – vereador, deputado federal e senador cassado pelo AI-5. Foi justamente depois do AI-5 que Franklin, segundo suas próprias palavras, chegou "à conclusão de que não havia outro caminho senão o de enfrentar a ditadura de armas na mão ". E foi exatamente o que ele fez. Entre outras coisas, em setembro de 1969, participou do grupo que seqüestrou o embaixador americano Charles B. Elbrick para forçar o governo a libertar 15 presos políticos. Foi o próprio Franklin quem redigiu o manifesto dos seqüestradores , do qual destaco as seguintes partes: 1) "Este ato não é um episódio isolado. Ele se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se arrecadam fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; ocupação de quartéis e delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à luta do povo; explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores "; e 2) "A vida e a morte do Sr. embaixador estão nas mãos da ditadura. Se ela atender a duas exigências, o Sr. Burke Elbrick será libertado. Caso contrário, seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária ".

Como se pode constatar o que os revolucionários queriam era mesmo a revolução comunista e não a democracia pela qual, falsamente, hoje, dizem ter lutado. Ditadores, para eles, eram os que combatiam os comunistas. O detalhe é que a "ditadura" só se instalou porque, antes dela, havia comunistas querendo tomar o país. Até hoje tem gente que acredita no contrário. Mas, isso não vem ao caso, agora.

Voltando ao nosso personagem, FM foi para Cuba, para fazer curso de guerrilha rural. De lá, foi para o Chile de Salvador Allende. Voltou para o Brasil e trabalhou para o movimento revolucionário na clandestinidade. Em 1974, auto exilou-se na França (sabem quanto custa isso em dólares? Haja trabalho clandestino, hein?) onde se diplomou na École des Hautes Études en Sciences Sociales, da Universidade de Paris. Voltou para o Brasil em 1977 e passou mais dois anos na clandestinidade até "aparecer" em 1979, quando foi anistiado. Foi durante esse período de dois anos que conheceu a militante Ivanisa Teitelroit, uma psicóloga com quem se casou e com quem, posteriormente, teve dois filhos.

De 1979 para cá, trabalhou no jornal Hora do Povo, candidatou-se a deputado (não foi eleito), foi repórter do "Indicador Rural", redator do Globo e do Jornal do Brasil. Em 1987, mudou-se para Brasília, onde foi repórter e depois coordenador político da sucursal do JB. Foi correspondente do JB, em Londres. Trabalhou também no no SBT e no Estado de São Paulo. De volta ao Globo, foi repórter especial, colunista político, editor de política e diretor da sucursal de Brasília. Escreveu colunas para o Jornal de Brasília e para as revistas "República" e "Época". Durante oito anos e meio esteve na TV Globo, na Globonews e na CBN, como comentarista político. Atualmente, Franklin Martins é comentarista da TV e da Rádio Bandeirantes e assina uma coluna diária no portal iG.

Ainda na TV Globo, como comentarista político, não conseguiu disfarçar a raiva e o medo de ter "morrido na praia" (ele e o PT) quando estouraram os escândalos do mensalão e de todos os outros crimes cometidos pela turma do PT e pelos vendidos ao partidão. Defendeu até o fim a tese de que "Lula não sabia", não só do tal mensalão mas também de todo o resto. Não que tenha feito isso aberta e claramente, mas sempre bateu na tecla de que não havia provas concretas. Realmente, para quem acha que prova concreta limita-se à confissão assinada e sacramentada, não havia nenhuma mesmo, apesar da exuberância esclarecedora dos fatos – contra os quais não havia argumentos antes dos marxistas tomarem conta de tudo nesse país. Em entrevista à revista Carta Maior , em 14/06/06, Franklin disse o seguinte sobre essa estórida de se Lula sabia ou não sabia: "Olha, nesse caso, eu uso o exemplo do pai que pergunta para a mãe sobre a filha. A mãe responde: "Ela está com o namorado, trancada no quarto, há horas, e não quer sair". O pai sabe exatamente o que se passa lá dentro? Não, mas pode supor. Com Lula aconteceu parecido ..."

Na verdade, até bem pouco tempo atrás, FM nunca fez muita questão de disfarçar a sua, digamos, "simpatia" pelo PT. Depois dos escândalos, teve de se controlar. Mas, com a consagração da vitória dos revolucionários gramscinianos sobre a realidade, sobre a justiça e sobre a razão, aos poucos, de emprego novo e aliviado, o sorriso e a postura de "comentarista" bem relacionado foram voltando ao corpo de Franklin.

O comentarista trocou as Organizações Roberto Marinho pela Rede Bandeirantes depois que a Globo não renovou seu contrato. Não passou nenhum dia desempregado. A Band é proprietária da Rede 21, que passou a se chamar PlayTV depois que Fábio Luiz da Silva — o Lulinha - filho de Lula — assumiu o controle de quase toda a programação. Muitos dizem que Franklin deixou a Globo por causa de um "duelo público" entre o jornalista global e o colega de profissão Diogo Mainardi, colunista da revista Veja. Mainardi deu notoriedade ao irmão e à irmã de Franklin, Victor e Maria Paula Martins, ambos, respectivamente, designados pelo atual governo para a Agência Nacional do Petróleo e para a diretoria da estatal capixaba que regula o setor do gás, a Aspe. A mulher de FM, funcionária pública há mais de 20 anos, foi secretária parlamentar do líder petista Aloizio Mercadante e, depois, passou a trabalhar numa subsecretaria do Ministério do Planejamento. De acordo com Mainardi, o sobrenome Martins pesou nas nomeações. De acordo com Franklin, não pesou.

Mas, o pior mesmo, foi a divulgação de uma estorinha que circulava entre jornalistas. Mainardi diz que possui muitas fontes e que pelo menos 15 delas poderiam confirmar a estória de que Franklin Martins teria avisado ao ex-ministro Antônio Palocci de que o caseiro Francenildo teria recebido dinheiro para fazer a denúncia sobre a presença constante do ministro na "casa da maracutaia", em Brasília. Quem poderia saber que o caseiro havia recebido dinheiro senão quem tivesse tido acesso aos dados de sua conta-corrente na CEF. O fato é que deve ser difícil ser um jornalista imparcial com tantos parentes trabalhando no governo. Ou não?

Martins chamou Mainardi de golpista por pedir o impeachment de Lula. Num outro trecho da entrevista que concedeu à revista Carta Maior, disse o seguinte sobre a comparação entre a situação em que se pediu o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo: " Não existia no governo uma espécie de comitê central da corrupção, como havia no governo Collor. Cada um foi fazer sua jogada particular. As divisões internas ao governo impediram que vários negócios desse tipo prosperassem. Havia sim uma quadrilha, mas não o mensalão, entendido como pagamento regular a determinados parlamentares. Houve compra de apoio político de chefes partidários, através de doações clandestinas a gente como Valdemar da Costa Neto e José Janene, que ficaram com o dinheiro. Para onde foram esses recursos, eu não sei ". Vejam como são as coisas... Para mim, é justamente o contrário. Mas, eu não sou "uma conceituada comentarista política".

O surrealisticamente reeleito presidente Lula está formando seu ministério para o novo mandato. Vai criar o Ministério da Comunicação Social e, aos moldes do que já fez o companheiro Hugo Chavez, na Venezuela, vai criar a super TV Estatal digital. Franklin Martins, pelo que tem sido divulgado, vai assumir a pasta da Comunicação Social. Se aceitar o cargo, Martins deixa a BAND para chefiar um ministério com super-poderes e verbas publicitárias que chegam a 1,5 bilhão de reais por ano. Sob o novo ministério ficarão a Radiobrás (e a futura rede estatal de televisão (*)); a Secom; a secretaria de Imprensa da presidência da República e as verbas publicitárias do governo. A propósito, nosso futuro ministro não poderá colocar os pés nos EUA – por causa de sua participação no seqüestro do embaixador americano em 1969.

Tem gente que nega. Nega veementemente, peremptoriamente, como gostam de dizer os petistas. Mas, a imprensa e a mídia de um modo geral (e, é claro, os profissionais que nela trabalham) ficam numa posição um tanto quanto desconfortável diante dos mais variados tipo de perseguição que podem sofrer, não somente os veículos de comunicação mas também quem neles anuncie. Há uma lista infindável de exemplos na história recente do país. Vou citar o último deles. Diogo Mainardi está sendo processado por se referir ao nordeste como "bandas de lá" e por dizer não querer pisar em Cuiabá. Manifestar gosto e vontade está ficando perigoso e cada vez mais caro – o que quer que se diga poderá ser interpretado como manifestação preconceituosa passível de punição. Mas, como sempre, e como não poderia deixar de ser, Reinaldo Azevedo descreve e analisa muito bem o fato . Eu fecho com seus comentários sobre o assunto.

Franklin Martins finalmente chega ao governo e ao poder, de fato. Tentou fazer isso através da revolução comunista armada. Não conseguiu. Tentou eleger-se deputado. Não conseguiu. Agora, a recompensa. Num país onde a realidade e a verdade vêm sendo sistematicamente ignoradas e subjugadas pela mentira meticulosa e insistentemente construída a partir de uma revolução gramsciniana que se desenvolve há mais de 20 anos, não só tem valido a pena esperar como também pagar o preço. Para quem os fins justificam os meios, aliás, não há o quê nem pelo quê não se possa pagar. Preço maior tem pago mesmo é a democracia brasileira, para a qual coisas como essa significam a consumação da derrota.

Christina Fontenelle
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(*) A Rede Nacional de Televisão Estatal deve consumir R$250 milhões de recursos orçamentários nos próximos quatro anos. O projeto, destinado a divulgar ações governamentais, entra em choque com propostas em discussão no Congresso que sugerem a restrição dos gastos com propaganda. "Temo que o destino dessa rede seja se tornar uma TV Lula. É um despropósito"... "Pela proposta colocada, o governo quer uma TV de louvação e não de informação", critica o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) que integra a oposição ao governo e promete resistir à proposta. "Nem o Congresso nem a sociedade têm instrumentos para fiscalizar a programação de uma super-rede como essa que o governo planeja", acrescenta o vice-líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA).

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