quarta-feira, julho 08, 2009

457) Caracteristicas de personalidades críticas

O texto abaixo foi recebido de um correspondente, Roberto Byrro, que leu um post em outro blog meu, sobre críticas a alunos que fazem provas com Português estropiado.

Particularidades psicológicas
O senso crítico – Conhecimento marginal
Carlos Bernardo González Pecotche – Agosto de 1947

Uma das mais acentuadas particularidades do temperamento humano é a que domina as reações do senso crítico. Com a maior freqüência, é dado observar quão longe está o homem de elevar sua crítica aos altos níveis do justo, do exato e tolerável: o habitual é exercer a faculdade crítica em detrimento da dignidade alheia, e é assim que se emitem juízos apressados sobre a conduta, atividade ou idéias do semelhante.
No afã desmedido de se colocar em situação de privilégio perante os demais, o homem se crê no direito de julgar tudo de um plano mais alto, diminuindo, é claro, o tamanho moral daqueles a quem não pode suportar, por terem uma altura maior que a sua. Assim, a crítica se torna, em geral, exagerada, e a boa dose de inveja que em muitos casos a alimenta, satisfaz plenamente sua medida.
A nosso juízo, esta particularidade psicológica é uma das causas, talvez a principal, de grande parte dos seres humanos fracassarem na vida, pois o mesmo mal que esses seres fazem se volta inevitavelmente contra eles, convertendo a intolerância que os consome em implacável verdugo de suas próprias existências. E isto ocorre, precisamente, porque ninguém busca dentro de si as causas que concorrem para submergi-lo em tão inquietantes situações.
Todo juízo adverso que o homem faz do próximo leva em si o germe de um agravo que, mais cedo ou mais tarde, lesa seu próprio conceito.
Como é natural, as pessoas cultas são sempre comedidas em seus juízos e, antes de emiti-los, tratam de guardar a mais estrita imparcialidade. Os homens experientes sabem que a crítica é uma faca de dois gumes, que é necessário manejar com cautela para não se ferir. Por outro lado, as pessoas de pouca cultura, desprovidas da menor consideração, levadas pela paixão a esgrimem com implacável assanho.
O exposto leva a refletir sobre como seria saudável instituir um ensino especial que preparasse os jovens na prática destes conhecimentos, os quais, apesar de influírem tanto na vida humana, permanecem até o presente a considerável distância das preocupações docentes e, por conseguinte, não se encontram em nenhum texto de ensino oficial. É indubitável que tal prática, que diremos ser “do conhecimento marginal” por se achar à margem dos conhecimentos comuns, exerceria uma função moral e social de grande importância, pois permitiria à juventude nutrir-se de elementos verdadeiramente constitutivos de seu caráter e cultura. Teria sido dado assim um grande passo adiante na correção das imperfeições – melhor ainda, das deficiências – que se percebem por trás de cada atitude do indivíduo.
Sempre que se faça uso do juízo com a prudência que a lei humana estabelece, será necessário fazer passar, pelo pronunciamento desse juízo, o pensamento que situa a quem o emite no alvo de sua própria crítica. Tendo isto em conta, haveremos de convir que, se o indivíduo observar que alguém comete um erro, não deverá julgar por isso quem incorreu nele, mas sim o próprio erro, a fim de não incorrer nele. É certo que falamos aqui de modo figurado, sem relacionar nosso ponto de vista com as leis da justiça humana, que não admitem senão seu próprio julgamento.
Depreende-se também de nossa exposição inicial que, se este ou aquele de nossos semelhantes conquistar uma posição destacada, este fato não deverá ser causa de inveja nem motivo para rebaixar seu mérito; pelo contrário, deve-se buscar como conseguiu chegar a ela; e, caso tenha sido acidentalmente, pensar que também nós poderíamos consegui-la de igual maneira.
Não trate o homem de diminuir a felicidade dos outros com uma mesquinhez que não condiz com a nobreza de seus sentimentos, porque com isto diminuirá a própria possibilidade de conquistá-la.
É lamentável observar como a generalidade das pessoas perde o tempo em criticar quem comete um erro ou em invejar quem não o comete e obtém sucesso em suas situações ou posições. Tal coisa ocorre aos que não sabem o que fazer nem em que ocupar o tempo, esse tempo que perdem com um procedimento tão sem transcendência, alheio a suas obrigações e aos deveres que têm perante si mesmos.
Pelo exposto, pode-se apreciar que a prática do “conhecimento marginal”, ao propiciar um conduto a sentimentos generosos, leva, implicitamente, a cultivar as belas qualidades do espírito.
É necessário ensinar a juventude, sem afastá-la dos estudos correntes, a buscar novos e fecundos estímulos para sua vida, abrindo os canais de sua mente a todo conhecimento que facilite o livre desenvolvimento de sua iniciativa.
Se pensarmos que os seres humanos não foram postos sobre a terra para crescerem como as árvores, cravados sempre no mesmo lugar, compreenderemos que uma finalidade muito superior os anima e que, ao se moverem de um ponto a outro e usarem sua inteligência, isso terá de ser para buscar a relação com seus semelhantes e a vinculação com tudo o que suas possibilidades abarquem. É lógico admitir, então, que, se os homens foram postos no mundo com uma finalidade, não seria para depois abandoná-los à sua própria sorte; alguém, acima de todas as vontades humanas, haveria de guiá-los, sustentando suas vidas. Tendo isto presente, de imediato se advertirá que a vida adquire um significado que é necessário considerar em toda a sua extensão.
O cultivo da inteligência, numa incessante superação, fará com que se abram os canais da mente até conectá-los a todas as coisas que interessem à vida humana. Não é nada estranho que, em tais condições, o ser se sinta atraído pelo afã de agigantar seus esforços, a fim de que a vida adquira cada dia maior amplitude e se prolongue até o infinito.
Não é tarefa fácil, entende-se, alcançar tão alta realização, mas nem por isso deixa de ser atraente tentá-lo, pois que, ainda que só se conseguissem escalar alturas menores, estas seriam sempre valiosas para os fins da existência.
Para abrir os canais mentais e encaminhá-los na direção dessas elevadas miras, é preciso submergir a mente, pelo menos em certos instantes, no oceano das idéias; pensar muitas coisas e escolher uma para segui-la com o pensamento até a consumação do propósito perseguido.
Muitos exemplos já houve no mundo; muitos acontecimentos estão registrados na História. Por que, então, não ensinar a extrair deles conseqüências úteis e felizes para a vida? Se a juventude não for guiada pela persuasão do exemplo, seguirá às cegas, de um lado para outro, sem atinar, salvo raras exceções, como se orientar em meio à confusão reinante.
Faz-se necessário, repetimos, que a juventude caminhe na esteira dos exemplos; que se guie por eles, sobretudo por aqueles que deixaram uma pegada mais profunda nos caminhos do mundo; só assim poderá surgir nela a luz de novas inspirações.
O amor ao trabalho conduz, invariavelmente, a uma vida próspera e cheia de possibilidades. Quem nada faz não pode experimentar os momentos felizes reservados ao homem de empresa e iniciativa, mas quem está em constante atividade, quem sempre faz algo, encontra, mesmo nas pequenas coisas, as mais ternas satisfações.

Extraído do livro “Coletânea da Revista Logosofia Tomo II”, pág 249

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