sexta-feira, dezembro 14, 2007

285) Relacoes Brasil-Japao

Relações Bilaterais Brasil-Japão
Por Marli Olmos, de Tóquio
Valor Econômico, 14/12/2007

A participação das transações comerciais entre Brasil e Japão na corrente do comércio brasileiro vem caindo ano a ano. A fatia que soma as importações e exportações entre os dois países é hoje metade do que era 20 anos atrás. Chegou a 3,2% da corrente de comércio de janeiro a outubro deste ano, segundo a Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Uma forma de estimular o intercâmbio entre os dois países seria por meio de acordo bilateral. Mas o sentimento entre os envolvidos nas relações nipo-brasileiras é que um entendimento desse gênero está ainda distante.
O Japão já possui um acordo de livre comércio com o México e recentemente fechou um com o Chile, como lembra o diretor da Jetro (Japan External Trade Organisation), Yasushi Ninomiya. Segundo ele, os representantes da indústria no Japão têm interesse em um acordo com o Brasil e já teriam encaminhado algumas propostas ao governo. Mas um entendimento dessa natureza com o Brasil teria de obrigatoriamente envolver os demais países que compõem o Mercosul, o que pode provocar mais resistência do lado japonês.
O presidente mundial da Mitsui, Shoei Utsuda, que também atua como presidente da comissão econômica Japão-Brasil, tem tentado levantar a questão na comissão. Mas as discussões nem começaram. Os japoneses percebem que também os entendimentos entre Mercosul e União Européia estão lentos, um motivo de desânimo a mais.
Ainda do lado japonês, pesa o fato de o ex-premiê Koichiro Koizumi ter deixado para seus sucessores a missão de melhorar relações com a China e a Coréia. "É uma prioridade na política externa do Japão, apesar dos problemas do passado, durante a Segunda Guerra", diz o diretor do Instituto Ibero-Americano da Universidade de Sophia, em Tóquio, Kotaro Horisaka. Para ele, na ordem de prioridades nas relações comerciais, a América Latina viria depois também dos Estados Unidos e da Europa.
O economista Paulo Yokota, ex-diretor do Banco Central e um dos maiores pesquisadores das relações nipo-brasileiras no Brasil, observa que diante da atual situação cambial, com o dólar e o yuan chinês desvalorizados e o iene muito forte, o Japão começa a sentir a necessidade de um acerto cambial para aumentar o intercâmbio com os Estados Unidos e com a China, considerados prioritários nas relações comerciais. "Os investimentos japoneses estão fortes nos países asiáticos, prenunciando que o intercâmbio com eles continuará mais ativo do que com o Brasil", afirma.
O economista lembra que o Japão é um país onde a mudança de orientação política ocorre com lentidão. "A moratória brasileira demorou muito para ser absorvida e a Argentina, recentemente, deu grandes prejuízos para os investidores e financiadores japoneses, que ainda não confiam naquela economia", afirma Yokota.
Ele diz que os riscos do Mercosul são elevados, pois os seus membros são considerados desiguais, não havendo um processo racional, de longo prazo, para a consolidação da cooperação entre todos. "À medida que se incorporam ao Mercosul outros países, que adotam posições políticas heterodoxas, os japoneses ficam assustados", completa.
O Brasil ainda é visto pelos japoneses como um grande exportador de commodities. Os minérios de ferro estão no primeiro lugar da pauta dos principais produtos exportados pelo Brasil para o Japão. Ferro e alumínio são outros itens importantes. Na agricultura, suco de laranja, café e algodão também estão entre os principais produtos, além do frango.
Atualmente, a participação do mercado japonês nas exportações brasileiras está em queda. Era de 6,4% há duas décadas, chegou ao pico de 8,1% em 1991, no ano passado fechou em 2,8% e no acumulado deste ano está em 2,7%. Em 2006, a receita do Brasil com vendas ao Japão alcançou US$ 3,9 bilhões. Se no ano passado a balança fechou com um pequeno superávit em favor do Brasil, o acumulado até outubro deste ano aponta para um déficit de US$ 249,4 mlhões.

A oportunidade do etanol
Criada há pouco tempo por brasileiros que trabalham no Japão, a Câmara Brasileira de Comércio no Japão conta com 70 associados que estão em busca de estratégias para divulgar o país. Segundo seu diretor, Leonard Muranaga, a entidade tem feito almoços e seminários com executivos que conhecem o Brasil e com representantes de empresas brasileiras para divulgar fatos como a existência no país do quarto maior fabricante de aviões do mundo.
O etanol surge como a grande oportunidade de o Brasil aumentar divisas no comércio com o Japão. O que antes era visto como um subproduto do açúcar tem hoje por trás uma nova indústria. "O Japão importa muita energia, nas suas formas mais variadas", afirma Yokota.
No entanto, essa também é uma discussão que ainda não encontrou consenso. Durante o último salão do automóvel de Tóquio, os grandes fabricantes de veículos como a Toyota deixaram bem claro que o etanol não está nas prioridades dos programas que buscam energias alternativas para reduzir o consumo e reduzir a emissão de poluentes. Essas empresas estão apostando mais nas novas gerações de carros híbridos.
Os japoneses também reclamam de o Brasil estar cada vez mais distante dos seus produtos. "Da mesma forma que o sistema do Mercosul não é uma coisa fácil para os japoneses entenderem, o Brasil também precisa saber como colocar o Japão dentro da Ásia", afirma Horisaka, da Universidade Sofia.
As compras de produtos japoneses, que há 20 anos representavam 5,6% do total das importações do Brasil, caíram para 4,2% em 2006 e para 3,9% no acumulado de 2007. A balança comercial entre os dois países quase empata. O total de compras de produtos feitos no Japão em 2006 foi de US$ 3,8 bilhões.
Componentes para veículos, motocicletas, motores, engrenagens e peças para eletroeletrônicos estão entre os principais produtos comprados pelo Brasil do Japão.

Efeito China
Para Horisaka, como o resto do mundo, o Brasil também está hoje muito voltado para a China. "Embora o mercado chinês seja o maior do mundo, a indústria japonesa é que detém a formação tecnológica variada, sofisticada e diferente do americano e do europeu", afirma. "É preciso respeitar a China, mas é igualmente necessário conhecer a variedade da Ásia, um continente velho onde cada país tem milênios de história e raciocínio diferentes."
Segundo ele, o Japão precisa ser reconhecido como um centro de alto desenvolvimento tecnológico. "A TV digital é um bom exemplo para mostrar a tecnologia japonesa ao Brasil", afirma. Para esse pesquisador, a tecnologia da TV digital deve se tornar a vitrine da tecnologia japonesa para os brasileiros notarem as diferenças com outros países. "A relação dos dois países deve se dar em termos de qualidade e não de volume", opina.

Crescimento baixo
O ritmo de crescimento do Japão está em queda. O FMI estima um aumento no Produto Interno Bruto de 2,0% este ano e de 1,7% em 2008. Mas a riqueza japonesa é muito maior. O PIB somará este ano US$ 4,346 trilhões. No Brasil a previsão é de um PIB de US$ 1,295 trilhão. A renda per capita japonesa chegará a US$ 34 mil em 2007 e US$ 35,7 mil no próximo ano. É cinco vezes maior que a do Brasil. Mesmo com estabilidade, a taxa de inflação brasileira (3,1% em 2006) ainda é muito superior à do Japão (0,3%).
Para Paulo Yokota, um fato que diferencia hoje o intercâmbio do Brasil com o Japão, em relação aos demais países, é a forte presença recíproca de contingentes dos imigrantes japoneses e seus descententes no Brasil e dos brasileiros no Japão. "Eles ajudam, com todas as suas dificuldades, a estabelecer relações pessoa a pessoa, o que, se ainda não se tornou um instrumento para o aumento do intercâmbio, já ajuda a ampliar o conhecimento recíproco, com alguma simpatia", afirma. "Esse é um fator a ser explorado."

100 Anos da Imigração Japonesa
Por Marli Olmos, de Tóquio e Oizumi
14/12/2007
É bem provável que daqui a pouco mais de 80 anos alguém escreva a história da imigração brasileira no Japão. Mesmo que a maioria ainda resista à idéia de permanecer para sempre no país, esses viajantes formam o embrião de uma colônia que só ganhará status, no entanto, se for amparada por duas forças. Primeiro, a imigração precisa ser reconhecida pelos próprios integrantes. Mas, além disso, falta ainda o governo japonês definir se quer ou não ter uma política de abertura do país para esses e outros estrangeiros.
Numa atitude idêntica à dos avós que viajaram para o Brasil há cem anos, os descendentes que vivem no Japão insistem que estão ali de passagem. A diferença é que no caso dos japoneses que foram para o Brasil o desgaste de um país sacrificado pela guerra foi o principal motivo que os impediu de retornar para a terra natal.
A história dos brasileiros é outra. As razões para não voltar para casa são essencialmente econômicas. A mais forte e recente é a valorização do real. É preciso trabalhar o dobro no Japão para adquirir a mesma quantidade de bens que se comprava no Brasil há alguns anos. Para piorar o quadro, já faz algum tempo que as fábricas japonesas reduziram a quantidade de horas extras - a melhor maneira até então de conseguir engordar as economias.
No meio desse quadro de desalento há, no entanto, casos de sucesso. Como o dos paulistanos que foram tentar a vida em terras japonesas sem nenhuma pretensão de enriquecer e hoje comandam a Brastel, uma empresa de telecomunicações que fatura US$ 100 milhões por ano.
Mas, na média, quem gostaria de montar um negócio próprio no Brasil não consegue juntar dinheiro suficiente e quem já pensou na possibilidade de voltar a ser assalariado também acaba desistindo porque não é mais aceito no mercado de trabalho. Longas jornadas nas prensas e outras atividades pesadas no chão de fábrica japonês não acrescentam nada no currículo de quem pretende disputar postos mais nobres no concorrido mercado brasileiro. E, se for para trabalhar como operário no Brasil, melhor mesmo é ficar no Japão, onde os salários nessas funções ainda são melhores.
Quando deixavam o porto de Kobe, um século atrás, os japoneses só queriam ganhar algum dinheiro na lavoura das terras brasileiras, carente de mão-de-obra nos períodos que se seguiram ao fim da escravidão. O plano dos 781 japoneses que desembarcaram do Kasato Maru no porto de Santos em 18 de junho de 1908 e tantos outros que vieram anos depois era retornar tão logo fosse possível carregando fartas economias para casa. Mas a derrota do Japão na guerra significou para os imigrantes não ter mais para onde voltar.
O movimento migratório do Brasil para o Japão 80 anos depois foi embalado também pela esperança de regressar. Mas até hoje a maioria continua juntando ienes para gastar na volta ao Brasil e teima em não aceitar o Japão como endereço definitivo.
O paulista Edson Yoshioka pediu uma licença no emprego para passar uma temporada de seis meses no Japão. Já se passaram 14 anos. No Brasil, Yoshioka tinha um bom emprego, na área de informática da Alcoa, fabricante de alumínio. No Japão já colocou parafusos na construção civil, puxou carros para o estacionamento da fábrica da Nissan e há nove anos é operador de empilhadeira.
Neto de um casal que decidiu morar no Brasil em 1938 e nunca abriu os detalhes dessa história para a família, ele tentou retornar para o mercado de trabalho brasileiro uma vez. Mas não obteve êxito. "Estava desatualizado; no meu tempo nem existia Windows."
Yoshioka casou-se com uma nikkei e teve dois filhos. Conseguiu ao longo desse tempo comprar três terrenos em Arraial d'Ajuda, no sul da Bahia, onde ele sonha, um dia, talvez, montar uma operadora de mergulho. Por enquanto o plano foi deixado de lado.
Somente 1,57% dos habitantes do Japão é de estrangeiros, o que soma 2 milhões. Os coreanos - cerca de 600 mil - são a maior colônia, seguidos pelos chineses (400 mil). Os brasileiros, a maior colônia ocidental, estão no terceiro lugar com 313 mil. A tendência é que esse contingente aumente para algo em torno de 315 a mil a 320 mil até o ano que vem. Os brasileiros vivem em espécie de guetos, isolados nas cidades do interior e nas fábricas de autopeças e de eletroeletrônicos, onde podem encontrar trabalho. E não falam japonês. Da mesma forma que os japoneses que chegaram no Brasil há um século não se interessavam pela língua local. Porque seu interesse se limitava a acumular riqueza.
A quantidade de brasileiros no Japão vem crescendo de forma gradativa por conta principalmente dos motivos econômicos que os levam a desistir de voltar ao Brasil. Mas há outra razões. Com o passar dos anos, esses imigrantes foram se acostumando às coisas boas que o país oferece.
Segurança está no topo dos motivos apontados por quem já pensa em morar ali para sempre, segundo o diretor do Instituto Ibero-Americano da Universidade de Sofia, Kotaro Horisaka. O noticiário brasileiro com problemas de criminalidade assusta qualquer um.
Uma boa parte dos brasileiros está no Japão pela segunda vez. Na primeira tentativa de retornar ao Brasil, o dinheiro economizado em duras jornadas serviu apenas para saldar dívidas. Outros chegaram a abrir negócios próprios que não deram certo.
O Banco do Brasil montou uma área em parceria com o Sebrae para orientar o imigrante sobre como investir os recursos ganhos no Japão em projetos como franquias. "Muitos acabaram consumindo a poupança inicial e retornando ao Japão para constituir uma nova poupança", afirma Admilson Monteiro Garcia, gerente das operações do banco na Ásia.
A maioria dos brasileiros ainda manda muito dinheiro para o Brasil. Com cem mil correntistas, somente o Banco do Brasil possui sete agências espalhadas nas cidades do interior. A instituição não revela o valor das remessas. Mas Garcia garante que o volume tem se mantido estável desde o início da história dessa imigração. "Embora o Brasil comece a ficar cada vez mais distante para quem vive no Japão, a maioria continua enviando dinheiro para mãe ou irmãos, para a manutenção do plano de saúde de algum parente ou mesmo o pagamento de uma despesa fixa como condomínio", explica.
A maior parte desses brasileiros também poupa muito. Segundo Garcia, a estatística das remessas do banco mostra que o envio de dinheiro para o Brasil está diretamente vinculada à situação cambial. "Quanto melhor a taxa de câmbio maior o fluxo para o Brasil. Quanto pior a taxa mais aumenta a poupança aqui no Japão", informa o executivo. Segundo ele, na média um solteiro que trabalha oito horas, seis dias por semana, consegue guardar 57% da renda total. Se for um casal sem filhos, a poupança sobre para 63% da renda. O preço dessa economia é se sujeitar a um estilo de vida muito diferente do Brasil, com menos consumo, má alimentação e moradias divididas com outras famílias.
O problema social surgiu quando esposas e filhos, que no início do movimento dekassegui permaneceram no Brasil, decidiram também ir para o Japão. Crianças que chegaram ao país com 5, 6, 10 anos de idade estão hoje na faixa dos 15, 17, 20 anos. São jovens ociosos em boa parte, que vislumbram como única opção de vida seguir a trilha dos pais no trabalho em fábricas. Ou, no lado mais triste dessa história, cometer delitos.
O que ocorreu com as crianças brasileiras que foram para o Japão ou estão nascendo ali é um capítulo à parte na história dos dekasseguis. Ao contrário do que ocorre com os imigrantes que vão para os Estados Unidos ou a Europa, não existe na maioria das famílias brasileiras interesse em pôr os filhos nas escolas locais. Afinal, quem está de passagem não acha importante aprender um idioma tão difícil.
No Japão as mães que trabalham costumam buscar seus filhos na escola no meio da tarde, quando terminam as aulas regularmente. A realidade, no entanto, é outra para as mães brasileiras, presas às longas jornadas das fábricas e muitas vezes escaladas para turnos em diferentes horários. Por isso, elas optam por escolas brasileiras.
As escolas locais não se prepararam para receber estrangeiros. "Há até um esforco de professores, das secretarias municipais de educação, das autoridades provinciais e nacionais, mas a questão está longe de ser solucionada. O governo já fez três rodadas de discussões, mas não me parece que tenham chegado a uma conclusão", afirma Masato Ninomiya, presidente do centro de informação e apoio ao trabalhador no Exterior, uma entidade sem fins lucrativos que presta serviços aos brasileiros no Japão.
Ninomiya, também professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e professor visitante da Universidade de Tóquio, lembra que os menores brasileiros estão em primeiro lugar em termos de delinqüência juvenil entre os estrangeiros. No Japão vivem cerca de 40 mil brasileiros em idade escolar (5 a 14 anos). Destes, cerca de 20 a 25 mil estão nas escolas japonesas e perto de 5 mil nas escolas brasileiras. "Há, contudo, cerca de 10 a 15 mil que não freqüentam nenhuma delas e passam o dia no ócio, depois que os pais saem para trabalhar", explica.
Segundo ele, o reformatório de Kurihama, cidade próxima de Tóquio, abriga 120 menores, dos quais 20 são estrangeiros - 17 brasileiros. Os crimes cometidos por adultos também preocupam. Há algumas centenas de brasileiros cumprindo penas nas penitenciárias e alguns fugiram para o Brasil antes de ser presos.
Uma legião de voluntários no Japão tenta ajudar a reverter o processo. A freira brasileira Yoshico Mori é uma das entusiastas da causa. Irmã Mori, como é conhecida na comunidade, se esforça para ter idéias para envolver os jovens em projetos culturais. Ela ainda orienta as pessoas da comunidade, um trabalho que foi crescendo ao longo do anos. Além dos que a procuram para pedir informações sobre vistos ou documentos, a freira atende quase diariamente mulheres que se queixam de maus-tratos.
Irmã Mori é presidente da Sabja, uma entidade sem fins lucrativos que presta assistência aos brasileiros e vive de doações. O psicólogo Daniel Oda trabalha no Japão no setor de telecomunicações. Mas nas horas vagas atua como voluntário do Sabja. Oda diz que a maior parte dos que o procuram estão próximos ou já entraram em processo de depressão ou estresse pelo excesso de jornadas.
O trabalho é a única forma de o estrangeiro ingressar no Japão. Oficialmente, não há no país a categoria imigrante estrangeiro. A presença das pessoas de outros países funciona por meio de vistos de trabalho. O visto dos brasileiros é um caso peculiar. O país mudou a lei de imigração em junho de 1990 para atender a uma crescente demanda de mão-de-obra na atividade industrial. A idéia foi buscar os descendentes de japoneses no Brasil, mais habituados aos costumes e com as mesmas características físicas da população local.
Criou-se um visto renovável com duração de três anos para as pessoas de segunda geração e de um ano para os de terceira geração e os cônjuges não descendentes. Muitos já conseguiram o visto permanente, primeiro passo para a naturalização. Só adquire a nacionalidade japonesa filho de mãe ou pai japonês. Assim, a criança filha de brasileiros que nasce no Japão tende a ficar apátrida. Ao atingir a maioridade, poderá optar pela nacionalidade brasileira.
Principalmente do lado das empresas, há hoje uma grande pressão para que o governo passe a autorizar também a entrada de brasileiros que compõem o que no Japão se chama quarta geração (são os filhos dos netos de japoneses). As discussões por enquanto se concentram mais entre os pesquisadores das relações nipo-brasileiras. Mas a preocupação também envolve estrangeiros de outros países.
Mais cedo ou mais tarde os japoneses terão de decidir se querem abrir mais o país para imigrantes em geral. Isso porque a taxa de natalidade vem caindo, por conta da diminuição do interesse em sustentar filhos. As japonesas estão preferindo trabalhar fora e, como na maioria dos países desenvolvidos, pagar alguém para cuidar das crianças é quase impossível para a maioria dos assalariados.
"Com a diminuição do índice de natalidade (abaixo de 1,3 criança por casal) e envelhecimento da população, o Japão terá de 'importar' mão-de-obra num futuro breve, se quiser continuar a crescer", afirma Ninomiya. Um acordo de livre comércio fechado recentemente com as Filipinas permitiu o início da imigração de habitantes daquele país para cuidar de idosos no Japão.
No meio da discussão sobre imigração, há, no entanto, os que defendem que melhor seria para o país evitar a presença dos estrangeiros e no futuro adequar a economia a um tamanho menor da população.
Para evitar que a população encolha, vários municípios têm dado incentivos para famílias que optam por ter filhos. Grandes empresas também já começam a criar programas de licença prolongada e a instalar creches. A aposentadoria dos japoneses, que até pouco tempo era aos 55 anos, foi estendida para os 60. Há quem diga que o governo cogita estendê-la para até 70 anos.
"Mas os empresários gostariam de contar com mão-de-obra barata para enfrentar a concorrência internacional", observa Ninomiya. Ele lembra que o vice-ministro da Justiça do governo Koizumi (anterior ao governo Abe recentemente substituído por Yasuo Fukuda), no fim do mandato, fez um pronunciamento infeliz, provocando protestos de estrangeiros. Disse que teria sido um erro o governo permitir a entrada de estrangeiros com ascendência japonesa e estaria cogitando exigir o conhecimento da língua japonesa para a renovação do visto. Não se falou mais no assunto. Ninomiya acredita, porém, que um dia o governo vai ceder à pressão dos empresários e acabará abrindo um pouco mais as portas para os estrangeiros. "Mas isso levará ainda alguns anos", afirma.

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