Adeus Mestre Manoel Correia de Andrade
Josemir Camilo de Melo
(www.paraibaonline.com.br)
Fui surpreendido, no dia 22 de junho de 2007, quando ia ler o SBPC-Pernambuco Notícias, com a informação de que neste mesmo dia falecera o geógrafo e historiador Manoel Correia de Andrade. Mais do que uma notícia fúnebre era minha memória que corria para os anos 60, para eu assistir às aulas do emérito professor Manoel Correia no Colégio Estadual de Pernambuco, hoje (re)chamado de Ginásio Pernambucano. Professor da Universidade Federal de Pernambuco, Mestre Manoel era também membro da Academia Pernambucana de Letras e, por algum tempo, prestou brilhantes serviços a FUNDAJ (Fundação Joaquim Nabuco). No final da década de 90 também prestou assessoria a UEPB e foi a última vez que conversamos.
Filho de senhor de engenho, em 1922 (sua mãe descendia do Ministro João Alfredo Correia de Oliveira que redigiu a Lei Áurea, sobre quem o neto publicaria João Alfredo: o estadista da abolição) Manoel Correia rompeu com a tradição e entrou no Partido Comunista em 1942, mas passou apenas alguns meses. Participou das manifestações contra o Estado Novo, sendo preso e processado, mas anistiado em 1944. Em 1945 formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, sempre advogando causas trabalhistas de sindicatos. Veio, dois anos mais tarde, se licenciar em Geografia e História pela Universidade Católica de Pernambuco.
Começou a ensinar em 1952, no ensino médio. Quando publicou seu primeiro livro, em São Paulo: Geografia do Brasil, para o antigo curso ginasial. Tornou-se um dos assessores do primeiro Governo Arraes e, em 1963, sob os auspícios de Caio Prado que prefaciou a obra, Manoel lançou, em São Paulo, o seu clássico e polêmico A terra e o homem no Nordeste, tido como subversivo pela ditadura (o livro foi apreendido após o golpe de 1964), e não-científico por geógrafos, que não o consideraram obra acadêmica, sendo, posteriormente, editada até nos Estados Unidos. Em meio a esta polêmica, fez, ainda, cursos de Estudo Técnico do Meio Natural, na Universidade de Paris (1965). Era um homem cosmopolita pois visitou vários países como Israel, Japão, Argentina; deu palestras e conferências no Peru, no México, na Colômbia, na França e nos Estados Unidos.
Na UFPE, coordenou os Mestrados em Economia e em Geografia de onde se aposentou em 1983, passando a diretor do Centro de Estudos de História Brasileira (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, até 2003. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela UFRN, UFAL, UFES e pela Universidade Católica de Pernambuco.
Além de ter sido seu aluno, conheci a obra do Mestre através da História, com seus livros Movimentos nativistas em Pernambuco: Setembrizada e Novembrada, publicados no Recife, em 1971. Provavelmente o Mestre se enquadraria aqui no que o francês Dosse fala: o tempo da historiografia, uma sutil maneira de ver os movimentos populares do passado com olhos do presente. Freqüentador da antiga Livro 7, lá às vezes conversávamos sobre política e universidade, assim, quase que de raspão, ele fazendo suas compras de livro e dando dois dedos de prosa com seu ex-aluno e agora colega na profissão, pelo lado da História. Comentava-se sobre os efeitos da ditadura nos cargos da UFPE, onde dois grupos se digladiavam: de um lado, o grupo de Manoel e demais perseguidos; do outro, o grupo com apoio da Reitoria de então, em que também havia um ou outro esquerdista, mas havia gente da Adesg. Minha simpatia ia para o grupo de Manoel, porque lá estavam os esquerdistas, os injustiçados e os cassados como o Historiador Amaro Quintas. Confabulava-se na Livro 7.
Como geógrafo, teve participação social e política no primeiro governo Arraes, mas homem discreto não foi de panfletagem e sim da pesquisa consciente, como se seguisse os passos do outro injustiçado, Josué de Castro, de Geografia da Fome. Trabalhou com uma excelente equipe de geógrafos pernambucanos, como Gilberto Osório e Rachel Caldas, produzindo ensaios inclusive sobre o rio Paraíba e o Mamanguape, e com economistas como Tânia Bacelar, formando todo um estofo intelectual e científico de esquerda, dentro daquilo que se chamou de desenvolvimentismo sudenista.
Voltamos a nos encontrar como sócios fundadores da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE), na década de 90, onde o mestre deixa grande lacuna. Sua atuação não se limitava só a escrever (mais de 100 livros, traduzidos em várias línguas, além de mais de duas centenas de artigos publicados), mas como conselheiro, assessor, já que era um brilhante e incansável pesquisador.
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Um comentário:
Passe um olho em 2 textos sobre a Livro 7, do Recife, em http://urarianoms.blog.uol.com.br/
Abraço.
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