Algumas reflexões importantes por um economista preocupado...
Educação: Política Social para Todos
Igor Barenboim
Jornal do Brasil, 14.06.2009
É consenso entre os economistas que educação é fator positivo para o progresso econômico. Tal fato, felizmente, já virou lugar comum entre os formuladores de política no mundo. No entanto, educação é um conceito muito amplo e certamente não é todo tipo de educação que traz o referido progresso.
De acordo com o artigo 22 da lei de diretrizes e bases da educação brasileira de 1996, a educação básica tem por finalidades assegurar a formação para o exercício da cidadania e fornecer aos estudantes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Esta orientação legal é fantástica do ponto de vista do crescimento da renda, na medida em que um bom convívio social assegurado pela cidadania e meios para progredir no trabalho e nos estudos são fatores fundamentais para construir uma sociedade produtiva e dinâmica.
No entanto, na prática observamos nossas crianças estudando assuntos que ao meu ver não são de primeira relevância para alcançar tais objetivos. Bom convívio social e a construção de coisas de qualquer natureza requerem o bom uso do meio de comunicação. Não resta dúvida que o ensino da língua portuguesa deve ter prioridade total no ensino básico.
O cálculo e os números estão presentes no nosso dia a dia. Não há como se fazer qualquer atividade comercial sem pensar em números. Há uma série de estudos que mostra que boa parte do sucesso recente da experiência asiática da democratização da educação se deveu ao foco no estudo da matemática. Por isso não há como se pensar em ensino básico sem a ciência dos números.
Qual seria o próximo assunto da lista? Ora vivemos em um estado de direito, onde as regras do jogo, os direitos e deveres são dados pela a legislação. Porque então nossos jovens não são apresentados ao sistema jurídico desde cedo? Não é só importante que se ensine os direitos e deveres na teoria, mas também como fazê-los valer na prática.
A próxima questão fundamental relevante para o dia-a-dia do cidadão é um misto de matemática financeira – contabilidade. Vai comprar um eletrodoméstico? Parcelado, ou à vista? Qual a melhor opção: matemática financeira tem a resposta. Como preencher o seu imposto de renda tanto da pessoa física ou da lojinha: noções de contabilidade podem ajudar.
Claro que o estudo de história e geografia nacional são cruciais para a construção de uma identidade brasileira, assim como idealizado por Jules Ferry, Ministro de Instrução Pública à época na França. Mas o beabá de um sistema de educação é permitir que nossas crianças saibam se comunicar verbalmente e por escrito; saibam fazer contas para defenderem seu melhor interesse comercial. É importante também que saibam fazer valer seus direitos conhecendo o mínimo de legislação e dos tramites legais. Além disso, que saibam sobre aspectos contábeis de forma a poder empreender e pagar seus impostos. Por fim é importante que saibam operar computadores não só como usuárias de aplicativos, mas que tenham noção de programação. Você contrataria um assessor que não sabe usar o computador?
Ao meu ver essas são as habilidades que deveriam ser contempladas pela educação básica. Claro que a filosofia, a sociologia, as artes, a música e o desporto são relevantes e que tudo isso me encanta. Mas como a vida é feita de recursos escassos e como de acordo com o Artigo 205 da Constituição Federal a educação é dever não só do estado, mas também da família. Deixemos as artes e a erudição à família.
A literatura econômica mostra com clareza que a família é determinante crucial no sucesso escolar e econômico do indivíduo. Cabe ao estado então envolver as famílias na odisséia pela educação das crianças brasileiras fazendo campanhas sobre a importância da educação, da freqüência escolar e ofertando meios para que estas incentivem seus menores ao aprendizado.
Em resumo, a educação escolar voltada para ofertar meios de sucesso profissional e social é a melhor e mais ampla política social disponível. Fazer política social para os excluídos é importante, mas não podemos esquecer da maioria. Se quisermos uma sociedade capacitada a produzir de modo mais igual, é bom que comecemos a democratizar as ferramentas produtivas na mão de nossas crianças, deixando a cargo da família as artes e a erudição. Claro que uma reforma curricular dessa monta precisa ser pensada com cuidado, capacitando previamente os profissionais existentes para o novo desafio. O quanto mais cedo começarmos, mais rápido chegaremos perto do tal Brasil: Um País de Todos.
Igor Barenboim é Ph.D. em Economia por Harvard e subsecretário de Administração da cidade do Rio de Janeiro
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2 comentários:
Caro Paulo,
Achei muito interessante este Jogo da Bolsa e penso que ele venha na direção desta "educação para todos: com sentido prático" conforme o título do "post" em que reproduziste o texto de Igor Barenboim. Acredito que muitas das irracionalidades, para não dizer "asneirices", que escutamos por aí se devem ao desconhecimento do funcionamento dos mercados de capitais. Este também é um conhecimento para todos que nos pouparia de muitas "pérolas".
Abraços!
Desculpa, esqueci do principal: os endereços da página do jogo ( http://www.jogodabolsa.com.br/index.html ) e de uma matéria num jornal da RBS/Globo (
http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=2&contentID=36811&channel=47 ).
Abraços!
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