sábado, julho 04, 2009

452) Independencia dos EUA: um artigo e um comentario

Para comemorar o 4 de julho, dia da independência americana, transcrevo, em primeiro lugar, um artigo de 2004 da Regina Caldas, seguido de meus comentários a respeito.

Independência dos Estados Unidos da América
Regina Caldas (http://reginacs.com/)
2 de julho de 2004

Aproximando-se a data do aniversário da Independência dos Estados Unidos da América, declarada em 4 de julho de 1776, relembro os principais fatos que lhe dizem respeito.

Em retrospecto, a decadência da Casa de Hanover (sucessores dos Stuart), Grã-Bretanha, ocorreu com a perda de suas 13 colônias durante o período conhecido como “Revolução Americana”, de 1776/83. Àquela época, certamente ninguém imaginaria o potencial daquelas colônias espalhadas num imenso território inexplorado. E John Hancock assinou, sem maiores preocupações, a Declaração de Independência Norte-Americana, com letras enormes para que o Rei George III pudesse ler sem o auxilio de seus óculos. Para os rivais dos ingleses, França e Espanha, a revolta americana dava-lhes uma chance de se intrometerem, pois tinham interesses naquelas terras. Mas, para a maioria dos paises europeus a questão era de princípios políticos fundamentais, já que transformaria os costumes monárquicos. O europeu sequer podia imaginar que naquelas distantes colônias despontariam estadistas brilhantes como Thomas Jefferson (Declaração da Independência), Alexander Hamilton, James Madison e John Jay que articularam as políticas para a criação do novo estado e para a elaboração da primeira e única Constituição dos Estados Unidos, além de George Washington que se tornou o primeiro Presidente da nova Nação. Muitos destes eram colonos que já alimentavam princípios radicais em questões de liberdade, igualdade e sufrágio universal.
Pelo conteúdo da declaração de independência dos Estados Unidos da América do Norte, constatamos a vontade manifesta de um povo que percebeu não ser mais possível continuar nas mãos de outros que decidissem a seu bel prazer pelos seus destinos.
O estopim da revolta norte-americana foi a decisão do reino de cobrar taxas pelo carimbo em todos os documentos legais. A pretensão ocorreu quando a colônia francesa no Canadá passou para a possessão britânica em 1763, e as 13 colônias britânicas ficaram dependentes da proteção inglesa. Para fazer frente aos franceses, os britânicos decidiram também cobrar taxas na importação de inúmeros bens para garantir os salários de seus oficiais estabelecidos na Colônia. Os colonos uniram-se para resistir àquela nova taxação e quebraram o maquinário destinado à confecção dos selos. A seguir, o “Act Tea”, baixado pelos britânicos e que permitia à Cia Britânica do Este da Índia levar chá diretamente para seus agentes nas colônias, forçou a baixa dos preços para seus exportadores, e levou um grupo de colonos a destruir um embarque de chá. A Grã-Bretanha reagiu e os colonos se uniram e formaram um exercito liderado por George Washington. França, Espanha e Holanda aproveitaram-se da oportunidade para declarar guerra à Inglaterra, que pela vitória na Batalha de Todos os Santos continuou dominando os mares mas perdeu suas colônias. Pois estas, em Quatro de Julho de 1776, redigiram uma declaração de independência expondo sua revolta contra os abusos cometidos pelos ingleses. As treze colônias britânicas, a partir de então, vieram a ser os Estados Unidos da América. Suas principais lideranças trabalharam arduamente para tornar realidade o sonho da libertação daquele jugo. Não alimentaram a vã esperança de que um dia talvez deixassem de ser colônia inglesa, saíram à luta pela sua liberdade. Amadureceram um ideal através do esforço conjunto de suas melhores inteligências, que deu como retorno à Nação uma Constituição clara, que formulava de maneira prática as idéias mais brilhantes do Iluminismo. Seus sete artigos são democráticos, racionais, firmados na teoria do contrato de Locke, no legalismo inglês e na divisão de poderes de Montesquieu. Uma Constituição escrita em nome do povo norte-americano. A ironia é que alguns de seus autores, como Jefferson e George Washington, foram escravos.
Os Estados Unidos organizaram-se primeiro como uma liga de estados independentes sob um acordo chamado “Artigos da Confederação”. Este acordo tornou-se insuficiente porque não cobria direitos essenciais em relação às taxas e ao comércio entre os estados. Da necessidade de aperfeiçoar aqueles artigos criou-se a Constituição unindo os estados numa federação, porém independentes com o poder dividido entre eles e o governo central. De Montesquieu tiraram a idéia de dividir o Estado em três poderes: Executivo, Judiciário e Legislativo. Ao final, adicionaram à Constituição um “Bill of Rights” contemplando o cidadão com direitos de se manifestar livremente, liberdade de religião, e julgamento mediante provas.
O êxito da campanha norte-americana para se livrar do jugo inglês resultou no exemplo que aos poucos foi sendo seguido por outras colônias espanholas e portuguesas nas Américas Central e do Sul. Quando Napoleão invadiu a Espanha em 1808, os revolucionários das Américas viram ai a sua chance. Seus planos de independência iniciaram-se no México, seguido por áreas na América Central, e todos eles depois de revoltas sangrentas terminaram por conquistar sua Independência. Na América do Sul, o movimento iniciou-se com o crioulo Simon Bolívar conquistando a liberdade da Venezuela. O movimento se alastrou pelas colônias espanholas não sem derramamento de sangue. Apenas no Brasil ocorreu a Independência de Portugal, de forma pacífica.
Ao final da Guerra Civil, os USA já eram ativos jogadores nos affairs internacionais. Sua industria prosperava atraindo milhares de imigrantes do velho continente. Em 1823, o Presidente James Monroe advertiu os poderes europeus a não interferirem no hemisfério ocidental (Doutrina Monroe, pela qual os USA pleiteia o direito de se opor a intervenção estrangeira em qualquer região das Américas). E, quando em 1895, os britânicos entraram em desacordo com a Venezuela por questões de fronteira com a Guiana Inglesa, o USA persistiram na necessidade de levar a questão a uma arbitragem internacional.
Mais de dois séculos se passaram após a decretação da independência dos USA. E o Império Britânico não poderia de forma alguma imaginar no que se transformariam as suas colônias do continente norte-americano, que das treze iniciais evoluíram para 51 estados. O idealismo de um grupo de grandes estadistas traçou a rota de uma Nação que não encontra similar ao redor do mundo. O senso de dever e de liberdade, perceptível na leitura do “American Papers” (Coleção dos trabalhos escritos por Hamilton, Madison e Jay), foi a semente que se espalhou generosamente pelo território norte-americano, dando origem ao florescimento de uma grande Nação, cujos frutos são colhidos ao redor do mundo, que, por causa deles, mudou para melhor. E se queremos continuar usufruindo os amplos benefícios desses frutos, temos que combater o antiamericanismo. Dependemos das riquezas e da democracia norte-americana. Dependemos dos rumos que os USA dão às suas políticas externas. Se a grande Nação do Norte falhar, falharemos todos nós. As democracias e as economias mundiais ficarão acéfalas e expostas a governantes tiranos e à decadência econômica. “God save América!”

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Comentários PRA, em 4.07.2009:

De fato, os EUA expressam, simplesmente, o que de melhor pode ser realizado por um povo heteroclito, formado progressivamente na luta pela independencia, soberania e dignidade do individuo, em face de todas as iniquidades que vemos pelo mundo afora.
Independentemente de julgamentos negativos que possam ser feitos em relacao a aspectos especificos de sua presenca no mundo, se fossemos considerar o conjunto da obra, como se diz para certos premios do Oscar, deveriamos atribuir um grande premio aos EUA.
Globalmente considerado, o pais foi nao apenas benefico para os seus proprios cidadaos, pois que combinando nivel de vida razoavel com o mais alto grau de liberdade e de democracia até aqui conhecidos na historia da humanidade, com outros beneficios efetuados em direcao de outros povos. Nao podemos esquecer, por exemplo, que os EUA salvaram, literalmente, a Europa de regimes opressivos, em pelo menos duas ocasioes diretamente, e em varias outras indiretamente.
No plano da democracia, dos direitos humanos, das liberdades individuais, da producao cientifica e da inovacao tecnologica que beneficia a milhoes de pessoas, eles sao simplesmente imbativeis.
Embora outras sociedades tenham até maior prosperidade e igualdade dos que os EUA, nenhuma delas, sublinho NENHUMA, tem condicoes de impactar o resto do mundo positivamente como tem os EUA. Este aspecto é importante, pois que, TODOS OS DEMAIS IMPERIOS, passados ou existentes, foram essencialmente negativos no plano dos valores que eu destaquei acima.
Se alguem aqui tiver um exemplo de algum imperio tao benefico para a historia da humanidade pode dizer.
Os candidatos virtuais foram e sao: imperio persa, alexandrino, romano, arabe, chines, espanhol, otomano, austro-hungaro, czarista, sovietico e chines (atual).
Faço uma excecao para o imperio britanico, fonte alias do imperio americano.
Pode-se nao concordar com os imperios, mas eles fazem parte da historia do mundo e estaro conosco por algum tempo mais. Para uma leitura isenta sobre os dois imperios "positivos" recomendo os dois trabalhos do historiador Niall Ferguson: Empire e Colossus.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito Boa A Pesquisa, rei 100