Alfred Von Hayek, Prêmio Nobel de Economia de 1974
Hélio Socolik
(18/09/2002)
Friedrich August von Hayek dividiu o Prêmio Nobel de Economia de 1974 com o sueco Gunnar Myrdal. Conhecido simplesmente como Prof. Hayek por seus alunos, nasceu em Viena, Áustria, em 1899 e faleceu em 1998. Por que é importante recordar von Hayek hoje, um período conturbado com a crise mundial de recessão e desemprego e os novos desafios colocados pela globalização, a desestatização, o movimento internacional de capitais e os ataques especulativos ao real e a outras moedas de países emergentes?
Von Hayek representa, certamente, um pensador original, um economista que não se preocupou em pensar diferente da maioria de seus colegas, pois ele preferia a liberdade do setor privado em vez da ação do Estado como um melhor caminho para solução dos problemas econômicos. A observação de que vivemos hoje dias de recrudescimento de movimentos intelectuais contra o liberalismo e de programas que prevêem retorno à estatização, torna importante trazer alguns de seus pensamentos, que não constam normalmente dos textos colocados à disposição de nossos colegas estudantes, fato causado mais por desconhecimento de sua obra pelos próprios professores.
Como breve resumo de sua biografia, tem-se que von Hayek era filho de um professor de Botânica em Viena e aos 28 anos de idade assumiu o cargo de diretor do Instituto Austríaco de Pesquisas Econômicas, onde ficou por 4 anos; foi professor de Economia na Universidade de Viena, onde seguiu a escola austríaca de Economia dos mestres Menger, Wieser, Böhm-Bawerk e Mises. Com 32 anos foi professor na London School of Economics, onde permaneceu até 1950, quando transferiu-se para a Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, famosa por defender a economia de mercado. De 1962 a 1969 foi dar aulas em Freiburg, na Alemanha, de tradição liberal. Suas principais obras são "A teoria monetária e o ciclo do comércio" (1929), "Preços e Produção" (1931), "A teoria pura do capital" (1941), "O caminho da servidão" (1944), "Individualismo e Ordem Econômica" (1948), "A Constituição da Liberdade" (1960), "Direito, Legislação e Liberdade" (1974) e "Desestatização do Dinheiro" (1974). Talvez seu livro mais importante tenha sido "O caminho da servidão", onde o autor adverte o mundo de que o planejamento centralizado da economia leva as sociedades ao totalitarismo, ou seja, à supressão das liberdades individuais mais preciosas do homem, e que se referem às liberdades de consumir e de produzir. Nesse último livro Hayek apresenta a discussão de quatro propostas básicas para os homens refletirem a respeito, e que são:
· as instituições que constituem a base da sociedade brotam da ação humana, mas não dos planos e do planejamento humanos;
· numa sociedade livre a lei é fundamentalmente natural, não fabricada pela simples vontade dos governantes, sejam monarcas ou maiorias democráticas;
· o Estado de direito constitui o primeiro e mais importante princípio da sociedade livre;
· o Estado de direito exige que os homens sejam tratados com igualdade, mas o Estado de direito, além de não exigir que os homens sejam igualados, também será minado por qualquer tentativa nesse sentido.
O prof. Hayek é autor de teses as mais polêmicas, dentre as quais a desestatização da moeda, a completa liberdade econômica de produzir e de consumir e da democracia constituída de um órgão legislativo cujos componentes não devem ser vinculados a partidos políticos. A seguir, algumas frases mais interessantes do Prof. Hayek extraídas de artigos e livros, ou de declarações feitas em entrevistas:
"O controle e limitação dos poderes do Estado nos países em desenvolvimento deve ser ainda mais forte, pois nesses países o mercado e a concorrência ainda estão em processo de descoberta e, portanto, é onde a liberdade deve ser assegurada para criar o máximo de oportunidades para que essas descobertas se façam."
"Há funções que só podem ser cumpridas pelo governo e outras que ele cumpre melhor do que a iniciativa particular. Mas mesmo aí deve haver uma restrição: que essas atividades governamentais jamais tenham caráter de monopólio, que haja a concorrência da iniciativa particular."
"O desemprego é resultado da rigidez dos salários impostos pelos sindicatos e os governos. Os poderes excessivos dos sindicatos é que têm causado um declínio da produtividade e constituído os maiores obstáculos ao desenvolvimento econômico e social."
"Não devemos apenas à nossa inteligência a construção da ordem humana, que é hoje capaz de alimentar duzentas vezes mais gente do que havia na Terra há 5 mil anos. Há uma segunda herança que não é produto de nossa razão, uma herança moral que consiste na crença depositada na propriedade, honestidade e família, elementos que não podemos quantificar intelectualmente, mas que são os fundamentos de nossa civilização."
"Deveríamos permitir que as empresas privadas criassem, em regime de concorrência, suas próprias moedas e o público, representado pelo mercado, saberia acolher as boas e rejeitar as más. Os bancos centrais simplesmente desapareceriam, assim como os sistemas monetário e financeiro mundiais."
"O socialismo não passa de uma invenção de intelectuais, que tentaram dar-lhe uma justificação política. Não foi o proletariado que criou o socialismo, mas os intelectuais que têm a pretensão de saber mais do que o povo. O socialismo tem intenções até honrosas, mas é uma ilusão intelectual pretender que a razão humana possa reorganizar a sociedade tendo em vista objetivos que seriam conhecidos e previstos."
"Karl Marx ensinou que o proletariado é uma criação do capitalismo. Na verdade, é. Mas não por exploração, como quer o marxismo. O capitalismo criou o proletariado na medida em que possibilitou a sobrevivência de pessoas que sem ele não teriam como viver."
"Se os políticos não destruírem o mundo, seus sucessores pertencerão a uma nova geração, mais liberal e mais razoável. Temos assistido ao surgimento de uma elite que compartilha meu liberalismo radical. A escolha do liberalismo não é um problema de valor moral ou de preferência. Trata-se de uma questão científica objetiva. Quem consulta a história da humanidade tem ocasião de constatar que a ambição de programar o desenvolvimento social conduz às piores catástrofes."
Instigante, não? E agora, que tal lermos o Prof. Hayek e discutirmos suas idéias?
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Comentarios Paulo Roberto de Almeida:
Nao sei se foi deliberado ou apenas ironia involuntaria, por parte de "mentes perversas" do Comite de selecao dos Nobel de economia, mas atribuir o premio ao Hayek JUNTO com Myrdall poderia ser considerado uma ofensa ao primeiro, uma especie de injuria intelectual, pois tudo o que Hayek escreveu e defendeu estao na linha oposta dos escritos de Gunnar Myrdall.
O sueco previu, no comeco dos anos 1960 que se algum pais, ou grupo de paises, conseguiria alcancar os paises desenvolvidos, seria a América Latina, e que a Asia era simplesmente sinonimo de miseria (está em Asian Drama), a menos que os asiaticos fizessem como os indianos: planejamento, empresas estatais, controle de capitais e de comercio exterior.
Foi uma suprema ironia, que nos 40 anos que se seguiram, ocorreu exatamente o contrario do que Myrdall pregava: a Asia decolou e a América Latina ficou para tras.
Se ele fosse honesto, e estivesse vivo, teria de devolver o Premio Nobel...
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Paulo Roberto de Almeida
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3 comentários:
Bem, não há como negar o brilhantismo do Dr. Hayek. Porém, quem conhece a história sabe da contribuição de Myrdall ao desenvolvimento dos países escandinavos.Tres deles estão entre os dez países com maior IDH do planeta, o que não era verdadeiro até a metade do século passado. Já o professor Hayek foi um dos inspiradores (junto com Milton Friedman)do maior desastre filosófico-econômico das últimas décadas: o neoliberalismo.
Abel,
Voce está totalmente enganado. Myrdall nao se ocupou da Escandinavia e sim de paises em desenvolvimento, em especial da India. Ele é o responsavel pelo terrivel atraso da India durante decadas. Deveria devolver o Premio Nobel que recebeu, por incompetencia.
Voce está muito mal informado...
Pra
Bem, professor Paulo, sua posição política é clara. Como lhe disse, Hayek foi brilhante como intelectual. Mas temos visões ideológicas(econômicas)distintas.
Não duvido que seus conhecimentos sejam muito mais profundos que os meus, o que não lhe vacina contra equívocos ou meras opções de classe, afinal ideologia é "apenas" a maneira como cada um vê o mundo. E aí não existe exatamente o "certo" ou "errado"...
abraço!
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