terça-feira, abril 25, 2006

69) Continuando um debate penoso (para muitos): a profissionalização em relações internacionais

Os comentários abaixo devem ser lidos na seqüência do meu post 61, neste mesmo blog, e se referem a uma entrevista que dei a propósito da profissionalização em relações internacionais, no âmbito da qual um repórter pinçou uma frase infeliz, que gerou inusitadas (e legítimas) reações por parte dos alunos que se sentiram atingidos.
Reproduzo primeiro os argumentos do meu correspondente, Fábio Simão Alves (RI-USP, 4º ano), seguidos de meus próprios comentários em resposta.

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"Caro Embaixador Paulo Roberto de Almeida (PRA: corrijo imediatamente, sou apenas ministro de segunda classe, e não de primeira, comumente conhecido como "embaixador")

Suas opiniões acerca dos cursos de Relações Internacionais têm sido objeto de difusão, debate e, diria mesmo, aborrecimento entre aqueles que, como eu, são estudantes de Relações Internacionais na Universidade de São Paulo. Pretendo apenas compartilhar com o senhor dois ou três pontos de vista estritamente pessoais acerca de algumas delas.

Em primeiro lugar, o que me move a escrever ao senhor é a respeitabilidade por alguém que, como o senhor, entende profundamente do assunto. Em segundo lugar, conta também minha admiração pelos diplomatas deste País, especialmente por aqueles que contam com uma carreira bem-sucedida, longa, e de valiososo serviços prestados ao país.

Sou quarto-anista de RI na USP e, desde o primeiro momento que ingressei na faculdade - até mesmo antes, para ser sincero - aspirante à carreira diplomática. Não me move nenhum idealismo, nenhuma vontade de mudar o mundo; o que me move é o desejo de trabalhar pela minha Nação e uma vocação inquestionável.

Evidentemente, não são elementos que garantirão meu lugar em um dos assentos do tão almejado Insituto Rio Branco. O que o fará será minha competência, meus estudos e minha dedicação.

Pouca coisa do que o senhor escreveu no artigo "As relações internacionais como oportunidade profissional: Respostas a algumas das questões mais colocadas pelos jovens que se voltam para as carreiras de relações internacionais" me agradaram. Resultado, talvez, pela quase impossibilidade de ler o artigo de forma desapaixonado. Nós, RIanos, internacionalistas ou seja lá como nos rotulam (nossos conhecimentos dispensam rótulos fáceis), não conseguimos aceitar boa parte daquelas críticas.

Não, senhor Embaixador, nós não fechamos os olhos à realidade: sabemos das dificuldades que nos esperam em nossa inserção no mercado de trabalho - como, aliás, acontece com todos aqueles que a ele se lançam no Brasil atual. Tampouco cremos estar acima dos demais - não são poucos os que nos atribuem um ar esnobe...Aquilo em que cremos, ou melhor, aquilo em que eu creio é nossa formação, nossos quatro árduos anos passados numa das melhores universidades do país. E, certamente, em nossa dedicação e nossos esforços, que acompanham sempre um homem que, nas palavras do senhor, "quer ser alguém na vida".

O que me animou muito, enfim, foi a última frase de seu artigo: "Acho que é hora de deixar de ser passivos: arregacem as mangas, jovens, mãos à obra, construam suas próprias vidas!". Um belo chamado a que, a despeito de críticas, preconceitos, palavras de desânimo e dificuldades - reais ou imaginados - nos impele a acreditar em nós mesmos. E a não desistir de nossos sonhos, nem resistir aos chamados de nossa vocação, da voz interior que nos conduz ao caminho de nossas vidas.

Obrigado
Fábio Simão Alves
22 anos
Estudante de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo"

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Fico aborrecido ao saber que minhas palavras estão sendo lidas com "aborrecimento", mas se ouso retrucar, eis aqui o que respondi a meu correspondente:

"Meu caro Fabio,

Muito grato pelas suas palavras e pelo contato.

Certamente que minhas palavras não agradaram à quase totalidade dos alunos de RI: eu reconheço que fui muito brutal e franco, com o que me parece um exagero de oferta num mercado muito restrito. Sinto que essa febre por RI pode levar muitos jovens à frustração – o que certamente não é o caso da maior parte dos alunos da USP, mas pode o de muitas outras faculdades – mas achei que deveria fazê-lo, no espírito de um alerta preventivo, digamos assim.
Como você diz, a diferença é feita de competência, estudos e dedicação, com o que eu concordo inteiramente. Isso será feito com o esforço individual, mais até que com os cursos oficiais, mas as relações pessoais e sociais também fazem diferença.
Se você me permite, e aguardo sua autorização, pretenderia incorporar seus comentários ao meu blog.
O abraço do
PRA"

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