(Nota inicial PRA: "Liberal", no conceito americano da palavra, quer dizer, na verdade, "social-democrata", no sentido europeu, ou até mesmo "socialista", ou seja, alguém que não é liberal no sentido clássico da palavra, ou pelo menos não adepto de uma economia livre de mercado, e sim propenso a soluções estatais para velhos problemas da economia e da sociedade.)
INVESTINDO NAS IDÉIAS CERTAS
Como os filantropos ajudaram a fazer do conservadorismo um governo filosófico
James Pierson
Tradução: Regina Caldas
Wall Street Journal, maio/2005
Recentemente, um pouco antes da eleição de Novembro, uns 300 amigos e admiradores, reuniram-se no Hotel Plaza em Nova York, para homenagear John Kenneth Galbraith e Arthur M. Schlesinger Jr., os dois guerreiros do liberalismo do século XX. O evento, patrocinado pelo Instituto Franklin e Eleanor Roosevelt, foi projetado como “uma saudação à democracia”. Esta também foi uma ocasião para relembrar uma era em que o liberalismo seguia como maré alta nos Estados Unidos. O contraste entre o passado e o presente, talvez tenha sido árduo para muitos no auditório, naquela noite. Hoje, o declínio da fé, é espelhado no fato de que lá não havia ninguém da esquerda cuja influencia ou estatura, ainda que remotamente, se aproximasse daqueles que atados às décadas passadas, eram homenageados naquela tarde.
A longa queda do liberalismo nas décadas recentes tem sido, sem dúvida, não justamente árdua, mas uma perturbação revelada por aqueles convencidos de que o futuro poderia ser moldado por seus ideais. A ascensão do conservadorismo talvez revele dupla perplexidade. Mr Galbraith, em 1964, observou: “Estes são, sem dúvidas, os tempos do liberal. Quase todos descrevem a si próprio”. E ambos, ele e Mr Schlesinger, descartaram o pensamento conservador irrisòriamente, como sem substancia intelectual de qualquer natureza. Hoje, o conservadorismo não só ascende na esfera eleitoral, mas o pensamento conservador tem capturado a iniciativa no mundo das idéias também.
Naturalmente, tem sido tentado pelos liberais explicar esta mudança de sorte; porém alguns têm sido acurados, pensativos, ou construtivos. Durante o último ano da campanha presidencial, o tom geral foi bem capturado nos ataques dos liberais a George Bush, qualificando-o como “mentiroso” ou “idiota”, por seguir precisamente a espécie de causa-desdobramento do poder americano a favor da liberdade e democracia, num mundo em que liberais como Galbraith e Sclesinger, certa vez defenderam. Endereçado à ascensão do conservadorismo, a esquerda recorreu a explicações que realçam manipulação e astúcia, com a ajuda de pagamentos por fora aos políticos agigantando-se cada vez mais na historia. As idéias conservadoras jogam, mas muito menos, e são, estes jogos, geralmente caracterizados como armadilhas usadas para interesses corporativos. Uma regra particularmente sinistra é atribuída àqueles conservadores filantropos que tem ajudado nos fundos para pensadores, magazines e instituições de pesquisa, na presunção de que ninguém assumiria idéias ocultas para colocá-las adiante, se não fosse pago para fazê-lo.
Na verdade, a esquerda tem exposto um quase obsessivo interesse nas filantropias conservadoras. Alguns web sites são direcionados inteiramente para mapear as atividades das fundações filiais, estabelecidas pelas maiores corporações poluidoras, como o ativista Robert F. Kennedy as descreve em seu livro “Crimes contra a natureza”. De forma similar, os jornalistas David Brock e Eric Alterman, tem devotado muita energia para expor os projetos garantidos por aquelas instituições, bem como com suas ligações com outras organizações e seus lugares na ampla constelação do ativismo conservador. Relatos do “People for the American Way” e o “National Committee for responsive Philanthropy” , frisam com muita ênfase as supostamente nefandas estratégias e táticas usadas pelas fundações para avançarem em suas causas altamente duvidosas.
Invariavelmente, estes atacantes ignoram a substância das idéias, mais ou menos como se a famosa caracterização dos conservadores como “o partido dos néscios”, feita por John Stuart Mills , ainda fosse a regra no inicio do século XXI. Mas o fato é que os conservadores modernos tem sido engajado com o mundo das idéias de forma muito mais intensa, que a maioria dos liberais modernos. O colunista David Brooks, tem observado que, questionados para nomear as influencias em seus pensamentos, a maioria dos conservadores são capazes de listar um número de livros ou autores, enquanto liberais tem dificuldade de identificar algum. Este claro engajamento com um corpo coerente de idéias gera uma crucial ascensão dos conservadores, no qual eles têm centrado suas fundações.
No período entre o fim da II Guerra Mundial e os dias atuais, a filantropia conservadora chega através de duas fases distintas, entrando agora numa terceira. Surpreendente como isto aparenta: as duas fases anteriores foram definidas por idéias mais que por negócios mesquinhos ou interesses corporativos. A primeira fase, que começa em meio aos anos quarenta, indo bem até os setenta, foi mais guiada por um interesse no liberalismo clássico e libertarianismo que no conservadorismo, da forma como foi entendido mais recentemente. Os principais doadores foram o Fundo Wolker, as Fundações Relm e Eahart, o Liberty Fund, e líderes empresariais como Jasper Crane da Du Pont, Henry Weaver da General Motors, B.E. Hutchinson da Chrysler, e o empresário britânico Anthony Fischer. Aqueles doadores tinham modestas somas à sua disposição, dando juntos ao redor de três milhões de dólares ao ano, comparado com os 300 milhões que a Fundação Ford alocava anualmente na década de sessenta. Lá existiam seguramente importantes diferenças entre aqueles doadores. O Wolker Fund era geralmente libertário, enquanto a Fundação Eahart construía uma ponte dividida entre o liberalismo clássico com sua ênfase na liberdade, e conservador moderno, com sua ênfase na tradição e na ordem. Mas os interesses de todos eles foram, por designação, intelectual e teórico.
A influência seminal naqueles fundadores veio da leitura do livro “ The Road to Serfdom”, de Hayek , publicado em 1944, em Londres, e nos Estados Unidos no ano seguinte. Este delgado volume, uma chamada bem articulada para o combate ao socialismo, transformou seu autor, até então um obscuro professor da London School of Economics, em um herói entre os conservadores e liberais clássicos , em ambos os lados do Atlântico. Nenhum outro escritor àquela época tinha feito uma cobertura contra as idéias e políticas coletivistas com tanta audácia e clareza. Por tal razão, “The Road to Serfdom”, tornou-se o ponto de referencia para todos aqueles que temiam a expansão do Bem-estar Social (Welfare State).
Tido como um dos livros mais influentes do século vinte, “The Road to Serfdom”, causou sensação quando foi publicado, provocando exames e comentários de figuras de proa como Keynes e Orwell, e semeando censura e refutações de razões menos iluminadas. Uma versão condensada apareceu em 1945, no Reader’s Digest , atingindo mais de dois milhões de assinantes do magazine, e provocando bastante interesse em levar Hayek aos US, para um tour de conferências.
O “Road to Serfdom”, promoveu dois amplos temas: um negativo e outro positivo. O primeiro foi que o socialismo encaminhava quase inevitavelmente para a tirania e a perda da liberdade em todas as suas formas. O segundo era que o antídoto para o socialismo seria encontrado no renascimento do liberalismo clássico da forma como foi articulado por pensadores do Iluminismo britânico como Adam Smith, David Hume e Edmund Burke. O livro era de alguma forma altamente pessimista, pois o socialismo avançava em toda parte e tornava-se irresistível. (Para confirmar a análise de Hayek, a eleição parlamentar inglesa de 1945, viu o Partido Trabalhista vencendo na plataforma onde conclamou explicitamente para a nacionalização da indústria britânica, e, vitorioso, atuou para realizar a promessa). Ao mesmo tempo, Hayek viu um caminho lateral, através da reconstrução de uma tradição de pensamento que estava em processo de se perder.
Como o conservadorismo nos dias atuais, a visão de Hayek sofria de uma fraqueza fatal. Repousando na tradição mais que nos princípios, poderia cair lentamente ou resistir, mas nunca alterar fundamentalmente a direção na qual os eventos foram se movendo. Este foi o motivo pelo qual ele entrou em pânico ao enfatizar que ele próprio não era um conservador acima de tudo, mas, ao contrário, um liberal na tradição Whig. (um posterior ensaio dele, foi intitulado simplesmente: “ Why I am not a conservative”). Isto, como aconteceu, foi uma característica do pensamento de Hayek, que apelava em particular aos americanos.
A política americana, como Hayek entendia, foi originalmente construída nos princípios da Liberdade, e sua tradição política foi grandemente influenciada pelos ideais de Whig, de governo limitado e o preceito legal. Como uma conseqüência, defensores da tradição americana, foram eles próprios freqüentemente liberais no sentido europeu. Para americanos interessados na expansão governamental, a alternativa ao socialismo e ao Bem-Estar social não era o conservantismo e sim o individualismo.
Outra contribuição do “Road to Serfdom”, talvez mais influente na longa corrida de Hayek na crítica ao socialismo, foi sua ênfase na importância das idéias no crescimento dos movimentos políticos. Trocando a escalada da histórica escola do pensamento, Hayek insistiu que socialismo e estatismo eram produtos não de forças econômicas fora de qualquer controle, mas de idéias errôneas e destrutivas. Os princípios de Whig, que tinham influencia continental durante os séculos 18 e 19, foram postos de lado pelos pensadores germânicos, de Hegel e Marx, chegando em Sombart e Mannheim, cujas doutrinas coletivistas tinham capturado a imaginação dos intelectuais. Em outro ensaio: “ The Intellectuals and Socialism” (1949), Hayek mapeou uma ampla estratégia a longo prazo para combater esta mudança.
Homem prático de negócios, Hayek escreveu: “ Homens de negócios , acima de tudo, não entendem a linha entre idéias e movimentos políticos, e portanto, não vêem a necessidade para montar uma sustentada defesa intelectual de seus próprios interesses. Ele conclamou seus seguidores a aprender do sucesso do socialismo, o qual tinha se originado como uma construção de teóricos e filósofos, e só mais tarde emergiu como movimento político jogando candidatos para cargos, e apelando para eleitores.
“O que nós perdemos, escreveu Hayek, foi uma utopia liberal, um programa visto não como uma defesa das coisas como elas são, nem uma diluída espécie de socialismo, mas um verdadeiro radicalismo liberal, o qual não limita a si próprio ao que surge hoje como politicamente possível”. O conteúdo positivo daquele programa era necessariamente vago, mas ficou claro que Hayek enxergava um movimento operando ao grau de princípios e teoria, separado das agendas eleitoral e legislativa ou de imediatas controvérsias da vida política. Ele propôs, em outras palavras, uma verdadeira guerra de idéias, que pudesse apelar para o melhor e para as mais fervorosas almas da época, porém, que levasse uma geração ou mais para frutificar.
A plataforma de Hayek, teórica, abstrata e utópica, revelava uma singular base na qual construir um programa filantrópico. Não havia nenhum pretexto promovendo porções de reformas, ajudando um partido ou um candidato, passando alguma legislação, ou, deveras, produzindo conseqüências de qualquer natureza. Entretanto, os filantropos, eu tenho mencionado isto, responderam a este chamado.
Os escritos de Hayek tinham mais ou menos impacto direto na Grã-Bretanha, onde Anthony Fischer (com o encorajamento de Hayek) estabeleceu o Instituto para Affairs Econômicos em Londres, em 1955. Dirigido pelo economista Ralph Harris, o IEA, foi o reservatório original da liberdade de pensamento, publicando livros e panfletos que documentavam as ineficiências do socialismo e dos empreendimentos estatais.
Em 1947, o Fundo Volker enviou um grupo de norte-americanos para a Suíça, para organizar um encontro da Sociedade Monte Pellerin, fundada por Hayek para promover o livre mercado nas economias, e ampliar os ideais do liberalismo clássico. Em conformidade com a visão de Hayek, Mont Pellerin funcionou como um empreendimento exclusivamente para estudantes, evitando debates políticos em favor de um aprofundamento teórico sobre os fundamentos de uma sociedade livre. Um pouco mais tarde, Volker inscreveu Hayek apontando-o como professor de Ciências Sociais, ao título Adan Smith, para a Universidade de Edinburgh, no Comitê de Pensamento Social da Universidade de Chicago e também providenciou fundos para a Universidade de Nova York para contratar Ludwig Von Mises, mentor austríaco de Hayek e amigo.
Em adição àquelas indicações, Volker e outros doadores deram assistência à Escola de Chicago de Economia, assistida por Milton Friedman e George Stigler, e para a escola de Economia Política da Universidade da Virginia, assistida por James Buchanan, os três, mais tarde ganhadores do prêmio Nobel de Economia. Eles sustentaram dezenas, talvez milhares de estudantes graduados, a maioria em economia, mas também em campos afim como administração pública e História, muitos dos quais tornaram-se proeminentes professores por seu próprio mérito. Eles subsidiaram algumas instituições, geralmente de visão libertariana, incluindo a Fundação para Educação Econômica, o Instituto para Estudos Humanos, e o “Intercollegiate Society of Individualists”, que ajudaram a circular orientação de idéias de mercado entre professores, alunos e empresários.
É difícil relembrar hoje quão radical as idéias de um Friedman ou de um Hayek aparentavam ser nos anos 50 e 60, quando o futuro já apontava numa direção de planejamento central, socialismo e bem-estar social. Nesta fase dos acontecimentos, a lei da filantropia existia para manter a vitalidade de um remanescente de pensamento até que este brilhasse novamente, indo outra vez como uma alternativa para doutrinas que tinham falhado. Este movimento não encontrou o seu caminho no vasto mundo da política, e o debate público foi, em parte como temos visto, deliberado: dirigido segundo influencia além dos cabeçalhos do dia. Hayek e seus seguidores evitaram uma estratégia que talvez os tenha incapacitado a encontrar uma audiência ampliada. Mas, trabalhando como eles trabalharam contra as sementes intelectuais da época, tinham também pouco sucesso dentro das Universidades, e sem conquistar uma posição segura na Academia, era pequena a esperança de converter a próxima geração de professores. Em meados de 70, Hayek foi dispensado como um extremista, como um reacionário, e a influencia dos liberais clássicos decaiu.
Se o trabalho das fundações conservatoras neste período atraiu pouca atenção, além de seu círculo imediato- Waldemar Nielsen sequer os menciona em suas histórias: “As Grandes Fundações” e “Doadores de Ouro”- os líderes liberais filantropos foram, em contraste, avançando sua própria agenda com vigor e para aplauso geral. Aquelas fundações, Ford e Rockefeller, juntamente com a Carnegie Corp., guiaram-se pela visão de que o progresso social seria obtido através de sábios do conhecimento e trabalhos científicos, pela expansão de leis governamentais em novas áreas, e pelo uso de organizações internacionais para promover a cooperação entre os maiores poderes. Seus fundos foram bem entrincheirados e se relacionavam com as instituições: universidades, centros de pesquisas, organizações internacionais, e, ocasionalmente, corpos governamentais. Em suma, as fundações liberais formaram uma parte integral do estabelecimento liberal da época, uma circunstancia pela qual foram abertamente criticados (com pouco efeito) pelos conservadores e esquerdas radicais.
Uma significativa mudança na filantropia liberal ocorreu após McGeorge Bundy (diretor em Harvard e conselheiro de segurança nacional nas administrações Kennedy e Johnson), ter sido apontado presidente da Fundação Ford, em 1966. Preferindo ativismo às pesquisas e aos graduados, Bundy promoveu uma estratégia de “apelo filantrópico”. Mais tarde, Ford e outros doadores liberais investiram em um labirinto de grupos ativistas, promovendo feminismo, ações afirmativas, ecologia, desarmamento e outras causas afiliadas. O Fundo de Defesa Ecológica, o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, o Fundo de Leis da Mulher, foram produtos destas iniciativas.
Aqueles grupos consideravam-se representantes legitimados de suas respectivas causas. Naquela capacidade, promoveram idéias que conduziram para legislação, e então buscaram influenciar os corpos regulatórios e as cortes federais que implementavam e interpretavam as leis. Assim, Ford e Bundy, ajudaram a desenvolver uma estrutura institucional que, por meios de litígios e a força que isto exercia sobre as agencias administrativas, puderam puxar programas favorecidos além de qualquer limite contemplado pelos políticos que os decretavam.
Uma estratégia planejada para produzir grandes mudanças logrando o processo eleitoral, foi bem acionada pelas instituições filantrópicas ligando-as a especialistas e advogados. Isto, indiscutivelmente conduzia para resultados: quotas para mulheres e grupos minoritários, a expansão do bem-estar social, novas legislações para o meio ambiente e outras. Isto também produziu alguns barulhos espetaculares, mais notavelmente o esforço feito em 1968, pela Fundação Ford, para descentralizar as escolas publicas da cidade de Nova York. Acima de tudo, a aproximação de Bundy foi o instrumento usado para criar o que até agora é um fenômeno familiar no cenário político americano: o bem colocado grupo de advocacia alimentando um ressentimento contra a sociedade americana, e buscando compensação no interesse de seus membros.
Reforçando esta tendência havia a percepção de que, simultaneamente, o Partido Democrático começava a se alterar ao longo de linhas paralelas. Acompanhando o tumulto para sua Convenção de Chicago em 1968, os democratas estabeleceram uma comissão presidida pelo Senador George McGovern, cujo mandato seviria para tornar o nomeado processo, mais representativo. Rapidamente capturada pelos ativistas liberais, a comissão puxou nova seleção de leis delegadas, requerendo a representação da mulher, negros e jovens, e alinhadas com suas respectivas proporções na população.
O efeito foi desalojar funcionários , partidos oficiais e líderes que controlavam as convenções democráticas no passado, substituindo-os por ativistas falando para grupos determinados. Sob este avanço, os grupos que agora encontravam um lar no partido, enxergavam muito mais do que um Bundy tentou organizar, através da Fundação Ford. Em muitos casos foram os mesmos grupos.
Finalmente, o liberalismo foi reformado de acordo com os interesses de grupos. O Bem-Estar Social foi redefinido através de um pacote de programas no qual os americanos concederam assistência aos pobres, ao doente e ao incapaz, por um sistema no qual certos grupos definidos impuseram o suporte governamental como matéria de direito, e como compensação por injustiças passadas. A sociedade foi moldada como responsável, e os recebedores como suas lamentadas vítimas. Estes prestidigitadores tornaram difícil ao governo requerer dos beneficiários desta ajuda que adaptassem seu comportamento aos padrões da vida de classe média.
Como o liberalismo absorveu gradualmente as antagônicas ascensões da época, os clamores de grupos estabelecidos vieram sempre mais estridentes e as acusações de discriminação e injustiças se multiplicaram. À época, a nova ordem podia apagar aquelas características altruístas da filosofia liberal que apelaram à classe média americana, de 1930 até 1960.
Aqueles desdobramentos não foram previstos. Eles foram, não uma conseqüência de tolerância social ou fatores econômicos, ou pressão social. Antes, foram engendrados por um circulo mesquinho de ativistas com acesso ao dinheiro e influencia dentro do Partido Democrático. Eles também provocaram as avaliações de Hayek, que, alcançando longe preparou uma geração ou mais para substituí-los. Aqui, uma doutrina estabelecida e um partido político, com uma orgulhosa tradição, foram colocados de lado em poucos anos.
Naquele tempo, muitos observadores anotaram as regras usadas pelas fundações de caridade neste apoio. Colocando-se na vida política nacional, os filantropos liberais parlamentaram sua habilidade para consolidar técnicos, grupos de pesquisa e advocacia, num novo potencial para influencia. Com suas vantagens ai construídas sobre políticos eleitos e associações de negócios tradicionais, eles foram a quinta-essência expressada do que viria a ser conhecido como “novos políticos” , políticos largamente dirigidos por idéias. Isto era, sem dúvidas, um crucial desenvolvimento na nossa vida política, e, em resposta, alguns conservadores unidos pelos alarmados ou desiludidos liberais, começaram a buscar um caminho diferente.
Isto nos conduz à segunda fase da filantropia conservadora que começa a tomar forma em meados da década de 70, através do trabalho de um punhado de doadores, em especial as Fundações John M. Olin e Smith Richardison, e mais tarde a Fundação Bradley. O “Scaife Trusts” de Pittsburgh também foi envolvido até certo grau.
Estes fundadores foram mais conscientemente conservadores que libertarianos. Enquanto solidários aos escritos de Hayek e aos ideais do liberalismo clássico, adotaram um tolerante ideário intelectual abrangendo campos além dos econômicos: em especial, religião, política externa e caridades tradicionais. Contrastando com Hayek e seus seguidores, foram também preparados para engajar o mundo dos políticos e a política, e para empreender a guerra das idéias num estilo direto e agressivo.
As próprias fundações foram dotadas por negociantes bem sucedidos que desejavam preservar o sistema das empresas privadas que tinha possibilitado a prosperidade. Em meados de 70, a perspectiva para qualquer daqueles programas era especialmente vaga, mas o senso de nadar contra a maré deu aos seus esforços um ar de revigorada urgência. E eles mais tarde descobriram, no mundo intelectual, um grupo similar de aliados imbuídos com não menos urgência, de prioridades estabelecidas.
Da mesma forma como os antigos doadores olharam para Hayek como guia, aquelas fundações olharam para os neoconservadores. Escritores e editores como Irving Kristol, Norman Podhoretz, Hilton Kramer e Michael Novak , gastaram a maior parte do tempo de sua formação na esquerda. Antes, da mesma forma, Hayek tinha sido influenciado por George Orwell, Lionel Trilling e Raymond Aron, intelectuais da geração de Hayek, que tinham repisado no mal do totalitarismo sob um ponto de vista moral e político. Muitos deles, como Hayek, investigaram sua linhagem intelectual desde o século 18 (Whigs: partido liberal inglês à época), mas, fazendo isto, eles outra vez enfatizaram a moral e a cultura um pouco mais que a dimensão econômica, tipicamente preferindo a “Teoria dos sentimentos Morais de Adam Smith, que sua “Riqueza das Nações”. Em resumo, eles entenderam os fundamentos morais de uma sociedade livre como sendo mais importante que os fundamentos econômicos.
Os neoconservadores tinham uma vantagem adicional: Vindos da esquerda, entendiam os métodos de pensamento contemporâneo dos liberais e esquerdistas. Também entendiam que a guerra das idéias tinha que ser encontrada pelo engajamento nas controvérsias da realidade, com estacas assentadas no futuro. Através de seus escritos, e através das advertências que foram capazes de oferecer, ajudaram a orientar as fundações conservadoras para a contestação futura fazendo uso das idéias estabelecidas que poderiam governar a Nação.
A política mundial que esses escritores viram ao redor deles nos anos 70, era muito diferente daquela que preocupava Hayek em 1944, em Londres. Ao invés de liderar-nos sob a trilha do coletivismo, o bem-estar social produzira fragmentação, conflitos de grupos, desordem e perda geral de autoridade na sociedade. Nos Estados Unidos, além disso, o bem-estar social avançara não através da nacionalização das indústrias, mas através da expansão do incremento dos programas sociais, e aumento dos poderes regulatórios federais. Era a intersecção daqueles programas com a revolução cultural dos anos 50 e 70, que ascenderam, da forma como os neoconservadores viram, para o crime urbano, ilegitimidade, destruindo famílias e causando falhas educacionais. O problema contemporâneo era assim não tanto coletivismo ou socialismo, mas a perda da moral e da confiança em si mesmo que, em alguns caminhos é característica de todas as sociedades afluentes , um problema para o qual o liberalismo clássico não prometeu nenhuma solução óbvia.
Contrastando com o liberalismo de Hayek, o neoconservadorismo jamais desenvolveu uma única teoria de governo, economia ou sociedade. Como movimento foi mais uma persuasão, como Mr Kristoll chamava isto, ou como uma tendência, como Mr Podhoretz descrevia isto. Rejeitando ortodoxias e teorias abstratas igualmente, os neoconservadores tendiam a operar próximo a futuros eventos. Mr Kristoll pensava com simpatia em Hayek já que escreveu que “ele dava a impressão que considerava a realidade um enorme desvio da doutrina”.
Pegando com tal estresse o porvir, os neoconservadores drenaram a ciência social para acessar as conseqüências práticas dos vários programas e políticas relevantes do moderno bem-estar social. Documentando as conseqüências perturbadoras das iniciativas que prometiam o fim da pobreza ou a transformação das cidades, analistas como James Q. Wilson e Charles Murray, demonstraram que as idéias adotadas com a melhor das intenções foram pioradas. O efeito daqueles estudos jogou água fria nas enormes expectativas que haviam sido fomentadas pelos teoricos liberais e ativistas. Como as promessas estavam abaixo das expectativas, também estava o momentum atrás do bem-estar social.
Não que por principio os neoconservadores fossem contra o bem-estar social, ou necessariamente tivessem abraçado ou libertado o mercado como uma alternativa. Eles criticaram o bem-estar social porque este desmoralizou os pobres e os tornou dependentes do governo, e também objetaram duramente as bem adestradas medidas para ajudar os desempregados. Um bem-estar social conservador, que encorajasse ao trabalho, e os valores da classe média, era algo que poderiam endossar. Em política externa, acreditavam que a Guerra Fria era um vital esforço moral e político, e rejeitaram os esforços para conciliar a União Soviética, como ingênuo e pior. Em outro tempo, eles seriam chamados de liberais; nos anos 70, e além, foram definitivamente conservadores.
Como Hayek, os neoconservadores esperavam um importante papel dos intelectuais, mas eles não estavam preparados para que uma plena geração de seus esforços produzisse resultados. Era claro que intelectuais liberais e alas esquerdas promoveram idéias e programas que ficaram asperamente fora de influencia para a vasta maioria dos americanos. Isto abriu uma oportunidade. O trabalho do conservadorismo como disse Kristol, era mostrar ao povo americano que eles estavam certos e os intelectuais errados. Acima de tudo, isto é mais ou menos o que aconteceu.
O que os neoconservadores entenderam era que nenhuma aversão por capitalismo, nem a tendência para o socialismo eram uma função da análise econômica. Em meados dos anos 70, a promessa econômica do socialismo estava morta, sendo óbvio para qualquer um, que as economias socialistas não poderiam sempre alimentar seu próprio povo. O que atraia os intelectuais liberais para o socialismo era algo mais: forçosamente, a idéia de comunidade, na qual eles contrastaram individualmente para o individualismo e competição de uma sociedade de mercado.
Assim, como Mr Kristol e outros argüiram, uma defesa efetiva do capitalismo requer uma defesa das conquistas culturais nas quais uma civilização comercial é baseada. Teria que ser mostrado, que sociedades livres encorajam valores muito superiores sobre qualquer outros que o socialismo pudesse dar.
As fundações liberais seguiram este comando. Pensando prosseguir no financiamento de programas na economia de livre mercado, eles também doaram nos campos da história, filosofia, governo, arte e literatura. Considerando religião, moral e casamento como sendo tão importantes quanto economias e mercados, aproximaram-se destas. As fundações esforçaram-se por mudanças em cada área principal de debate e controvérsia. Alocaram fundos para instituições proeminentes, incluindo ILU ( Ivy League Universities) onde as idéias conservadoras foram minoria, e providenciaram o financiamento de magazines e jornais endereçados à um spectrum de matérias controversas.
Aqueles magazines, eles entenderam, foram produzidos não somente para a venda no mercado onde o empresário pudesse vê-los, mas também para Instituições com responsabilidades futuras, reputações a serem construídas e preservadas, e redes de trabalho de autores e financiadores. Acima de tudo, foram semeadores de idéias, cuidando de novos talentos. Não só o seu efeito cumulativo cresceu, mas artigos individuais publicados também puderam gerar conseqüências que alcançaram longe.
Os magazines neoconservadores “Comentário” e “Interesse Público” em particular, rotineiramente publicaram autores cujas críticas das idéias liberais e políticas foram factuais, direta e cruelmente lógica, e cujas análises apontavam o caminho para toda a reforma do bem-estar social no final dos anos 90, como paradigma alterando a política global americana que está sendo feita na administração Bush. Lá se encontrava também o “New Criterion”, um jornal de literatura e artes editado por Hilton Kramer e, o “The National Interest”, um periódico trimestral criado por Mr Kristol, e, por muito anos, editado por Owen Harries.
Com uma aproximação diferente e ênfase para o conservadorismo moderno, os neoconservadores ampliaram seu apelo, tornando isto mais efetivo na política mundial, e ajudando numa adaptação às mudanças dos tempos. O avanço dos conservadores nas recentes décadas deve muito a eles, e às suas parcerias com as fundações conservadoras.
Ainda ajudando instituições moldadas pelos neoconservadores, as fundações suportaram magazines, “think tanks”, e centros de estudos liderados pelos economistas do livre-mercado, libertarianos, conservadores religiosos e os eternos filósofos straussianos. Quando Ronald Reagan foi eleito em 1980, foi em algumas daquelas organizações que ele pode pesquisar e buscar informação. Quando George Bush foi eleito em 2000, havia uma proliferação daqueles grupos trabalhando ativamente em cada área das políticas públicas. Aquelas organizações tendo desenvolvido idéias e cuidando dos talentos, superaram os tempos e ajudaram a mudar a balança do poder entre liberais e conservadores na América.
Tudo isto foi executado com modestos recursos financeiros, espantosamente modestos quando comparados com o que foi gasto pelos liberais. Recentemente, as cinco organizações liberais filantrópicas líderes, Fundações Ford, Rockefeller e MacArthur, a Pew Trusts e Carnegie Corporation, juntas noticiaram fundos de US $ 24 bilhões , e gastos anuais de US $ 1.2 bilhão. Contrastando, os fundos combinados das cinco maiores fundações conservadoras não excederam US $ 1.5 bilhão, e seus gastos anuais declarados atingiram US $100 milhões. Entretanto, eles foram capazes de alcançar uma grande porção com foco e disciplina, e por se aliarem a uma geração de escritores e estudantes de talento incomum.
A rede de publicações, programas universitários e centros de estudos construídas a partir de 1970 em diante continuou influenciando nos anos seguintes. Mas como sugeri no princípio, esta fase da filantropia conservadora segue agora o seu curso, em parte porque tem feito o seu trabalho, em parte porque as condições mudaram, e, em parte porque alguns dos principais doadores estão deixando a cena. Nas décadas futuras, novos financiadores, agora entrando em campo, delinearão o próximo capítulo da filantropia conservadora.
Esta próxima fase será necessariamente diferente daquelas que a antecederam. De um lado, a filantropia conservadora será baseada mais nos indivíduos, como tem sido o caso até agora. A prosperidade das últimas décadas, acompanhando o sucesso dos grupos e idéias conservadoras, criou uma coorte daqueles indivíduos, alguns com enorme riqueza, senão bastante mais prósperos para fazer doações significantes para os empreendimentos conservadores. Ao mesmo tempo, algumas fundações conservadoras – Olin, especialmente, dentre elas- gastam ou intencionam gastar fora dos negócios acordados com o desejo de seus fundadores, e outras tem começado a transferir suas prioridades.
A razão para esta mudança tem a ver com o fato que o conservadorismo está se tornando uma filosofia de governo, e governar se apóia na prática. Esta é uma evolução natural de um movimento que tem assumido responsabilidade nacional, e que precisa trabalhar com itens da agenda: bônus escolar, contas de aposentados, reformas legais, eliminação de taxas estaduais e, seguindo adiante, propor e decretar. Alem disso, vários doadores conservadores têm, eles mesmos, se envolvido na promoção de uma ou outra política especifica, vendo a aprovação de leis ou a implementação de uma reforma como a mais tangível medida de seu sucesso.
Significa isto uma necessidade futura de sustentar e renovar a base intelectual do conservadorismo? O dinamismo da vida Americana, e a implacável competição entre partidos políticos, os interesses de grupos, forçam cada movimento de idéias a testá-las em bases mais ou menos continuas, quando isto significa sobreviver e florescer. Qualquer um precisa só pensar sobre isto para render tributo aos senhores Galbraith e Sclesinger, e para se lembrar da precária e temporária natureza da influencia intelectual.
O conservadorismo tem efetuado este processo de renovação mais plenamente que qualquer de seus competidores no pós-guerra. Isto tem sido feito não através de uma ênfase na política, mas muito mais por vastos argumentos sobre onde temos ido, onde devemos ir, e que ameaças e obstáculos existem em nosso caminho.
“Quem é dono do futuro?”, Orwel perguntou. Esta é a grande questão da vida e a grande questão da política. Alguns querem ser persuadidos a abraçar o conservadorismo somente nos terrenos em que isto promova considerações sobre Segurança Social Privada, ou cubram obrigações julgadas. Afinal-como vimos dramaticamente atualizados no furor nacional sobre o destino de uma mulher se agarrando à vida sendo alimentada através de um tubo num hospital da Flórida – o ataque sobre o futuro, é cultural e moral.
Neste sentido, Hayeck e os neoconservadores tem estado corretos todo o tempo: qualquer movimento quer seja para manter ou argumentar sua influencia, precisa ser empreendido na futura batalha de idéias. Para assim fazer, os conservadores, não menos que os liberais, precisam da ajuda dos simpáticos filantropos.
O presente artigo foi publicado no Comentary de maio/2005, do WSJ.com OPINION JOURNAL, do The Wall Street Journal Editorial page.
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