Paz no Campo
Regina Caldas
05/09/2004
“Quando a agricultura vai bem, o comércio limpa as prateleiras, e quando o comércio limpa as prateleiras, não existe capacidade ociosa na indústria e nem desemprego”.Guilherme Afif Domingos, 17/01/89.
Em 1997, no ultimo encontro mantido pelos lideres empresariais, o atual Ministro da Indústria e Comércio Exterior, Sr Luiz Fernando Furlan, ao comentar que precisaríamos incrementar um retorno ao campo, foi rebatido por um empresário paranaense que, repetindo uma famosa frase de Roberto Campos, gritou lá do seu cantinho: “Mas isto é andar na contra-mão da história!”. Será?
Juscelino Kubistchek, quando se tornou Presidente (1956/60), tinha como meta inicial de governo, dar um impulso ao desenvolvimento industrial brasileiro, e, numa segunda fase, proporcionar um novo ciclo de investimentos na agricultura. O mote era o mesmo usado anteriormente para a industrialização: “50 anos de desenvolvimento em 5 anos”, e, a seguir: “Cinco anos de agricultura, 50 anos de fartura”. Mas Juscelino não retornou ao governo como pretendia, e o Brasil desviou-se de sua rota. A partir de 64, o Estado assumiu a maior parte dos investimentos nacionais com mega projetos que privilegiavam o crescimento de pólos industriais voltados para a industria pesada, e, com raras exceções, homens de visão como Roberto Selmi-Dei, continuaram investindo em agro-pecuária.
Graças à farta disponibilidade de terras e de uma tradição agrícola que desde a época da colonização tem gerado riquezas e sustentado a economia nacional, ainda que de forma cíclica (cana-de-açúcar, café), a partir da década de 70, a atividade no campo recuperou o fôlego. Motivados pelas péssimas condições socioeconômicas, agricultores sulistas migraram para o centro-oeste. Levando na bagagem suas experiências no trato da terra, investiram na modernização do setor. A partir deste recomeço o aumento dos pequenos e médios proprietários, o nascimento das cooperativas agrícolas, a mecanização, os defensivos e o crescimento da agroindústria, mudaram a face da agricultura brasileira. Porém, se, em 1995 alcançávamos uma safra recorde de 80 milhões de toneladas de grãos, já em 1997, a colheita baixava para 74 milhões de toneladas. O governo não liberou a tempo os 5,2 bilhões prometidos até o inicio do plantio, a falta de taxação dos importados como o algodão, por exemplo, e uma incompreensão por parte de alguns bancos privados quanto a securitização que alongou os prazos para o pagamento das dívidas rurais, foram os responsáveis pelo desanimo no campo. Mais uma vez o governo não cumpria a sua parte! Em 1999, houve uma recuperação do setor. Os agricultores colheram uma safra de mais de 81 milhões de toneladas, que alimentou o crescimento do PIB, e ajudou a afastar a inflação, deixando claro que a contribuição do campo para a economia nacional era incontestável. Em 2000, constatávamos, que em duas décadas a produtividade de grãos aumentara 70%, tendo o índice de produtividade dado um salto de 71%, equivalentes a uma produção média por hectare de 2.171 quilos, quando 21 anos atrás o índice era de 1.267 quilos/hectare.
O campo aos poucos se tornou independente, criando novas modalidades de crédito rural. O próprio agricultor, através das CPRs , emite um título avalizado por uma instituição de crédito que permite a venda antecipada da safra. Além disso houve mudança de mentalidade por parte do governo. Permitiu investimentos estrangeiros na Bolsa de Mercadorias & Futuros, o que aumentou o número de negócios e criou nova fonte de financiamento para a Agricultura, além de criar meios para a rápida comercialização da safra, diminuindo a formação de estoques como ocorria no passado para garantir preços mínimos. Mas ainda falta muito para que os negócios da agro-pecuária atinjam patamares ideais. Falta crédito, a infra-estrutura é deficiente (muitas vezes é o próprio agricultor que precisa investir em estradas para o escoamento da safra, como ocorreu recentemente no Estado do Mato Grosso). Falta marketing adequado ao mundo globalizado. Mas isso não impede que as exportações de alimentos cresçam cada vez mais.
Entre todos os problemas que o agricultor brasileiro encontra para a comercialização da safra, a invasão de terras é um dos maiores, pois desestabiliza a paz no campo. E o que é pior, conta com o silencio do Estado para o qual falta visão, tanto no planejamento e fiscalização em suas políticas de assentamento, quanto no reconhecimento da importância do atual estagio de nossas atividades agro pastoris no conjunto da economia nacional, que quanto mais cresce, mais se torna necessário que o agricultor possa contar com o apoio irrestrito por parte do governo e da sociedade. Sua atividade deixou há muito de ser extensiva para tornar-se intensiva. Isto exige permanente investimento em pesquisas cientificas e tecnológicas, financiamentos, armazenagem, transportes, preços, além de dar chance do agricultor poder trabalhar em paz. Os benefícios dos investimentos na agro-pecuária trazem um alto retorno para toda a sociedade porque ocorrem em cadeia e são contínuos. A sobrevivência no campo e o seu constante progresso são vitais para a economia nacional. Pela responsabilidade que recai sobre o campo, as invasões em terras produtivas deveriam ser consideradas crimes de lesa-pátria e serem tratadas com o rigor da lei. É um crime que se comete contra a Nação brasileira, pois a o alimento é fundamental para a sobrevivência de um povo. Permitir ou fazer vista grossa às ações de movimentos que em momento algum objetivam o assentamento, sendo suas motivações de cunho meramente político, é condenar à morte por inanição, como ocorreu no passado na Ucrânia, milhões de seres humanos.
As cidades não podem se distanciar dos problemas do campo. Devemos ter consciência da grandiosidade de seu desenvolvimento, isto sim é motivo real para elevar a nossa auto-estima.
O campo gera trabalho em toda a cadeia ligada às atividades agrícolas e pecuárias, além de ser uma força motora para a indústria e comércio, dada a geração de riquezas que promove. Via campo se pode incrementar a oferta de empregos, basta viajarmos pelas zonas rurais para constatarmos que ao seu redor desenvolvem-se núcleos urbanos prósperos, com atividades diversificadas quase sempre ligadas ao atendimento das necessidades da agro-pecuária. Ora, sabemos que o desemprego ronda hoje todos os cantos do planeta. E o nosso país, com todas as possibilidades que o campo oferece encontra aí uma fonte inesgotável de trabalho e renda. Se no passado, atraídos pelo boom industrial milhares de brasileiros migraram do campo para a cidade em busca de novas oportunidades de trabalho, atualmente deveríamos estimular o movimento inverso. Seria um recomeço e uma chance para todos aqueles que se iludiram com as luzes das cidades.
Nota: O MST foi premiado na Bélgica, pela “eficiência de seu trabalho e de suas conquistas”. O premio foi concedido pela alienada “Fundação Dom Balduino”. Na ocasião, li num jornal belga, uma nova, desconhecida e mentirosa versão da história da agricultura brasileira, na qual creditavam ao movimento dos sem terra, o desenvolvimento agrário brasileiro!
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