Biocombustíveis - a chance do Brasil
Suely Caldas
O Estado de São Paulo, 11/02/2007
Em seu plano estratégico a Petrobrás faz uma aposta ousada: até 2011 ela vai suplantar os EUA e passará a ser líder mundial de vendas de biocombustíveis, com a produção nacional de etanol e biodiesel. Para alcançar essa meta a estatal já começou a agir: 1) Acaba de montar a empresa japonesa Nipaku, em sociedade com estatal Nippon Alcohol Hanbai, que vai comercializar o etanol brasileiro no Japão e em outros países da Ásia; 2) decidiu construir um alcoolduto de 600 km, entre a Região Centro-Oeste e São Paulo, para transportar o etanol até o Porto de Santos e daí exportar para o mundo; 3) além de duas plantas-piloto em produção, busca parcerias privadas para montar mais três fábricas de biodiesel e ampliar a produção em mais 150 milhões de litros; 4) neste momento intensifica as pesquisas técnicas para utilizar mamona e pinhão manso na produção de biodiesel.
“Aqui temos matéria-prima, cana-de-açúcar e oleaginosas, mercado combustível, logística de distribuição em todo o País, máquinas e tecnologia própria e uma indústria automotiva tecnicamente preparada para usar gasolina e álcool simultaneamente”, lembra o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. “E tem mais: 30 anos de Proálcool, 300 produtores e longa experiência em exportação colocam o Brasil na dianteira do etanol. Daí a atingirmos a liderança mundial não é nenhum sonho”, avalia Gabrielli.
Falar em liderança mundial e desbancar os EUA quando o presidente Bush lança o desafio de, em dez anos, substituir 20% da gasolina consumida nesse país por combustíveis renováveis pode até não ser sonho, mas se o Brasil fizer as coisas certas, o governo regular o mercado com regras claras, garantir que a expansão da lavoura de cana e de oleaginosas não se dê à custa de devastação de florestas ou da escassez e do encarecimento de alimentos. E é fundamental, indispensável, abolir o antiamericanismo ideológico, que, além de atrasado, como definiu o ex-embaixador Roberto Abdenur, é bobo, burro e contra os interesses do Brasil. Sozinhos, os EUA não têm condições de multiplicar por sete sua produção de etanol para suprir a substituição dos 20% de gasolina. Por isso o presidente Bush vem pessoalmente negociar com Lula parceria na produção de etanol, mirando a garantia de suprimento futuro dos EUA. A preponderância brasileira é reconhecida entre os norte-americanos, tanto que o o jornal The Wall Street Journal chamou recentemente o Brasil de “Arábia Saudita do álcool”.
Apesar das advertências do Protocolo de Kyoto, em 1997, a demanda por energia limpa no mundo pouco cresceu. Hoje, além de EUA e Brasil, só Alemanha, Suécia, Índia e Colômbia misturam álcool à gasolina e poucos outros países têm programas de produção de biocombustíveis em implementação.
Mas essa pasmaceira global pode mudar agora, com a divulgação do relatório da ONU sobre aquecimento global, que estarreceu o mundo. Diante do preocupante quadro descrito pelos cientistas, muitos países passaram a se preocupar com a saúde do planeta e de seus habitantes. A França, por exemplo, passou a vincular acordos comerciais a cláusulas ambientais. Essa demanda por energia limpa e o preço do petróleo acima de US$ 50/barril, sem dúvida, criam um novo mercado para fontes renováveis de energia e abrem uma enorme janela de oportunidades para o Brasil, que nesta corrida leva a vantagem de 30 anos de estrada do Proálcool e um programa de biodiesel em plena evolução.
Na última quarta-feira, o ministro Celso Amorim combinou com o subsecretário americano para Assuntos Políticos, Nicholas Burns, uma reunião, até o final deste mês - portanto, antes da visita de Bush -, entre Brasil, EUA, Índia, China, União Européia e África do Sul para discutir a padronização global para o etanol, etapa obrigatória para este produto virar commodity e ser negociado em Bolsas no mundo inteiro, competindo com o petróleo.
“Vamos liderar, sem nenhuma dúvida. No mundo inteiro há uma enorme curiosidade pelo nosso álcool porque, além de pioneiro, o Brasil é o único país no mundo com um programa massivo, que ocupa 40% do mercado de combustíveis.” Gabrielli exagera, é verdade. Mas o Brasil não pode perder esta chance.
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