A FORÇA DOS MERCADOS
Rubem de Freitas Novaes*
O Estado de S. Paulo, 25/03/2004
Quando o Presidente da República estabelece um prazo até julho para que apareçam os bons resultados da atual política econômica e o Ministro José Dirceu, já reassumindo as rédeas da administração federal, informa que a mesma política “não será modificada contra o Ministro Palocci” (reparem na sutileza da ressalva!), ficamos autorizados a imaginar que o governo do PT não esperará as próximas eleições para tentar políticas alternativas, mais ousadas e coerentes com as velhas propostas da esquerda intervencionista. Com boas razões, surgem dúvidas e temores relacionados às possíveis reações do “mercado”. Mas, que “mercado” é este e como se manifesta quando contrariado?
Uns, quando se referem ao “mercado”, pensam nos frenéticos operadores de Bolsa, repassando ordens de compra e venda. Outros, imaginam a figura de economistas bem trajados, repetindo em uníssono as mesmas análises, em entrevistas à imprensa. A alguns outros, ocorre a figura dos “traders” de bancos e corretoras, agarrados a dois telefones, diante de telas repletas de gráficos e informações “on line”. Porém, “mercado” vai muito além destas imagens. É Gerdau e Antônio Ermírio e é Bill Gates e Warren Buffet. E é também o sapateiro da esquina e o barqueiro que vende bugigangas no mais longínquo rio da Amazônia. E não é só nas finanças, na indústria, na prestação de serviços e no comércio que o “mercado” se manifesta. Há o mercado de trabalho, de tecnologia e um vasto mercado para as idéias e as artes.
Com a globalização, estes diversos mercados ganharam novas dimensões. Contadores indianos, por exemplo, são contratados por empresas americanas para trabalhar sem sair de seus locais de origem. Indústrias passaram a ser simples montadoras de partes e peças produzidas por todo o globo terrestre. Inovações se multiplicam em ritmo alucinante e, quase que imediatamente, são incorporadas ao conhecimento generalizado. O comércio de bens e serviços se expande bem como se intensificam os fluxos de recursos humanos em busca das melhores oportunidades de trabalho. No setor financeiro, de maior transparência, impressiona o dinamismo, seja em termos de volume, seja em termos de velocidade dos ajustamentos. E nem falamos das maravilhas da internet!
Muitos se interrogam, ao raciocinar sobre o grande paradoxo de nossos tempos: Por que as teses da esquerda conquistam maiorias expressivas no ambiente acadêmico, na imprensa, nas artes, etc. e não prevalecem na prática? Por que diabos o socialismo, que tantas miragens oferece e está sempre a vencer o debate intelectual, se espatifa e perde terreno na esfera do real? A resposta é simples: é avassaladora a superioridade do capitalismo como forma de organização da produção e de indução a investimentos e inovações. Alemanha Ocidental versus Alemanha Oriental, Coréia do Sul versus Coréia do Norte, Estados Unidos versus União Soviética, onde quer que comparações puderam ser feitas, restou claro o caminho que trazia mais liberdade e prosperidade para as nações.
Mas, não só nas comparações históricas reside a força do capitalismo e dos mercados livres. Na dinâmica político-econômica de um país democrático, forças existem (mão invisível !?) que conspiram contra qualquer caminhada na direção do socialismo e impõem regras de corte capitalista. Se, por hipótese, assume um governo efetivamente liberal, favorável a um estado enxuto, com regras simples e estáveis, respeitador de contratos e direitos de propriedade e indutor do empreendorismo, tudo se encaixa na direção de maiores investimentos e produção. E melhora o emprego e a qualidade de vida da população. Contrariamente, quando se estabelece um governo que vê no Estado a solução de todos os males; que recorre pesadamente ao aumento de tributos e ao endividamento para financiar suas despesas; que faz crescer a burocracia e intervenções discricionárias no domínio econômico; que coloca em risco direitos de propriedade e põe sob dúvidas compromissos assumidos pelo Estado; que estimula atitude negativa da população com relação aos empresários, seguidamente caracterizados como espertalhões, sonegadores de impostos e exploradores da mão-de-obra, então tudo passa a correr na direção contrária ao verdadeiro interesse dos cidadãos.
Não basta a um governo ter um pequeno núcleo favorável à racionalidade econômica e simpático ao empresariado privado. Se os diversos escalões estão impregnados de funcionários com tendências tirânicas e intervencionistas, que vêm na empresa privada algo apenas suportável (e útil, para pagar impostos), o empreendedor sente a aversão e se retrai. É uma questão de pele e cheiro! E, ao se retrair, escasseiam investimentos, mingua a produção, reduz-se a renda e o emprego e a população se desilude, esperando para dar o troco nas urnas.
Sente-se, no Brasil de hoje, a tendência de resolver os problemas sociais com mais programas de governo. Despesas públicas crescentes significarão o estrangulamento ainda maior do setor privado. Poder-se-ia até conquistar alguma expansão, resultante de um crescimento do gasto público e de uma redução artificial dos juros. Mas será um vôo breve! Logo virá a subida do dólar, a inflação, a estagnação, o desemprego e a desesperança.
A experiência mundial tem sido pródiga em demonstrar que apenas o rumo do liberalismo conduz ao progresso sustentado. Governos de esquerda, com tendências socializantes, se já não tinham muita chance de êxito no passado, hoje, com a reação dos mercados amplificada pela globalização, não têm chance alguma. Não andemos para trás neste momento crucial de nossa história!
*O autor é Economista (UFRJ) com Doutorado pela Universidade de Chicago. Foi presidente do SEBRAE e diretor do BNDES
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